A sucessiva alta nos preços dos alimentos tem sido cada vez mais associada pela população aos erros do governo Bolsonaro. É o que mostra a 8ª edição da Pesquisa Fórum, realizada entre os dias 12 e 16 de março, em parceria com a Offerwise.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de março de 2020 a março de 2021, ou seja, ao longo de um ano da pandemia do coronavírus, o preço dos alimentos subiu 15% em todo o país, bem acima da taxa de inflação do período, que foi de 5,20%. Não à toa que a campanha "Bolsocaro", que faz essa associação entre a disparada dos preços e o governo Bolsonaro, tem tomado as ruas e as redes sociais.
Segundo a Pesquisa Fórum, 58% dos entrevistados acham que a alta dos alimentos é fruto dos erros do presidente. Essa percepção disparou, visto que no último levantamento, de novembro de 2020, o índice era de 53,6%, enquanto no mês anterior, em outubro, era de 48,6%.
Já o número daqueles que não enxergam culpa do governo na alta dos alimentos vem caindo: era de 41,9% dos entrevistados em outubro, 37,8% em novembro e, agora, 33,6%. 8,4% das pessoas sondadas pela pesquisa não souberam ou não quiseram responder.
Entre os homens, a associação entre os erros do governo e o preço dos alimentos é mais dividida: 51,7% dos entrevistados do sexo masculino acreditam que Bolsonaro é responsável pela alta dos preços, enquanto 40,4% não têm essa percepção. Situação diferente é observada entre as mulheres: 63,7% acham que o titular do Planalto influencia nos reajustes, contra 27,3% que dizem que não.
Em todas as faixas etárias a tese de que o governo é o principal responsável pelo fato de os alimentos estarem tão caros prevalece. Destaque para os entrevistados entre 25 e 34 anos, onde essa tese é endossada por 67,2%. O índice daqueles que responsabilizam Bolsonaro pelo problema cai entre os mais velhos, isto é, pessoas com 60 anos ou mais (52,6%), mas ainda sim é maior do que a percepção de que o titular do Planalto não tem culpa (41,7%).
No recorte por escolaridade, são os que possuem Ensino Fundamental (60,7%) e os que possuem Ensino Superior (60,3%) que mais fazem a relação direta entre atuação do governo e alta dos preços. O índice de responsabilização de Bolsonaro com relação a esse tema cai para 55% entre os entrevistados que possuem Ensino Médio.
O levantamento da Fórum mostra ainda que, quanto mais rico, menor a percepção de que são os erros do governo que fazem o preço dos alimentos aumentarem. 49,1% daqueles que ganham 10 salários mínimos ou mais acreditam que Bolsonaro não é o responsável pela escalada dos preços, contra 48,1% que têm a percepção contrária. A situação é bem diferente entre os entrevistados que ganham até 2 salários mínimos: 60,6% desse segmento acha que o presidente tem relação direta com a alta, enquanto 28,7% acham que não.
Na maior parte das regiões brasileiras prevalece a ideia de que o governo tem, sim, culpa no aumento dos preços dos alimentos. A única exceção é o Centro-Oeste, onde a população está dividida: 45,2% dos entrevistados responsabilizam Bolsonaro e outros 45,2%, não. 9,6% não souberam responder ou não quiseram fazê-lo.
Maioria acredita que economia vai mal e tende a piorar
Para além da alta dos alimentos, inúmeros outros fatores, como o aumento do desemprego e a retração do Produto Interno Bruto (PIB), que teve sua terceira maior queda da história (4,1%), têm feito os brasileiros adquirirem uma percepção cada vez pior da economia brasileira.
A Pesquisa Fórum perguntou aos entrevistados que nota, de 0 a 10, eles dariam para a atual situação econômica do Brasil: o maior número de respostas se concentrou na nota 0 (15,4%) e nota 5 (17,8%). Apenas 3% credita nota 10 à economia brasileira.
O número de pessoas que acredita que a economia do Brasil tende a piorar aumentou: eram 37,6% dos entrevistados na pesquisa de outubro, 38% em novembro e, agora, esse índice chega a 46,3%. Em outra ponta, a quantidade de brasileiros que acham que a situação econômica vai melhorar vem caindo: 37,8% em outubro, 35% em novembro e, agora, 29,6%. Outros 15,4% acham que a economia vai ficar igual, enquanto 8,7% não sabem ou não quiseram responder.
Os homens são mais otimistas que as mulheres: 37,6% disseram que a economia tende a apresentar melhora, contra 40% que enxergam piora e outros 15,5% que acreditam que a situação não mudará. Já entre elas a percepção de que a situação tende a melhorar é de apenas 22,6%, contra 51,9% de mulheres que acham que a economia vai ficar pior e outras 15,3% que enxergam cenário econômico parecido no futuro.
No recorte por idade, são os mais velhos que têm uma visão mais otimista sobre a economia: 40,2% dos entrevistados com 60 anos ou mais acreditam em recuperação econômica. Já os mais pessimistas são aqueles que têm entre 35 e 44 anos: 53,4% da população deste segmento acha que a economia vai piorar.
O levantamento mostra também que, quanto maior a escolaridade, maior a desconfiança em uma melhora econômica. Entre a população com Ensino Superior, 49,2% acreditam que a economia tende a ficar pior. Neste segmento, por outro lado, há também o maior índice de otimismo com relação à recuperação econômica, 33,5%, número que cai para 26,4% entre aqueles que possuem Ensino Fundamental.
Em outra ponta, os dados da pesquisa elucidam que a confiança na recuperação econômica é maior entre os mais ricos. 49,5% daqueles que recebem 10 ou mais salários mínimos acham que a economia vai melhorar, enquanto 27,1% acham que não. Situação inversa é observada entre os mais pobres: o índice daqueles que acham que a economia vai piorar entre os que recebem até 2 salários mínimos chega a 49,1%, contra 23,4% de entrevistados que acreditam em melhora econômica.
Analisando a opinião da população brasileira entre as regiões brasileiras, a que concentra pessoas que mais confiam em uma melhora econômica é a Sudeste: 32,3%. Já a região onde as pessoas mais acreditam em uma piora da economia é a Norte: 55,5%.
Pesquisa inova com metodologia
A 8ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 12 e 16 de março, em parceria com a Offerwise, e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.
O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existe perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante é manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”
Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico.”
Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, entre outras”, acrescenta.