DESINFORMAÇÃO

'Metrópoles' engana leitores com chamada que sugere erro de Dilma com mapa-múndi "de ponta-cabeça"

Mapa lançado pelo IBGE não foi virado "de cabeça para baixo" pois a Terra pode ser representada a partir de qualquer perspectiva

Dilma Rousseff e Márcio Pochmann exibem o novo mapa-múndi do IBGE em Pequim.Créditos: Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

A presidenta do Banco dos BRICS (Novo Banco de Desenvolvimento), Dilma Rousseff, exibiu nesta terça-feira (13) um novo mapa-múndi durante o 4º Fórum China-CELAC, em Pequim. O mapa, lançado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresenta uma perspectiva inédita, com o Brasil no centro e o Sul no topo, reafirmando o protagonismo do Brasil e do Sul Global. Contudo, uma chamada feita pelo site "Metrópoles" sobre o fato induziu seus leitores ao erro ao afirmar que Dilma teria exibido um "mapa de ponta-cabeça". Essa escolha editorial não foi um simples engano, mas uma estratégia calculada de distorção.

'Metrópoles' induz leitor ao erro ao afirmar que Dilma exibiu mapa de "ponta-cabeça"

A perspectiva do novo mapa

O novo mapa do IBGE, longe de ser um erro, representa uma inovação cartográfica que desafia as convenções históricas, carregadas de interesses geopolíticos, de representação do mundo. Desde a Antiguidade, os mapas tradicionais sempre colocaram o Norte no topo, uma convenção originada de Ptolomeu e reforçada por cartógrafos europeus, como Mercator.

No entanto, essa representação não é a única possível, e o mapa do IBGE propõe uma nova visão. Ao posicionar o Brasil no centro e o Sul no topo, o IBGE questiona simbolicamente a hierarquia geopolítica que tem sido historicamente atribuída ao Norte Global. Esse movimento não é apenas estético, mas uma afirmação política e cultural, alinhada com a crescente influência dos países do Sul Global, como Brasil, China, Índia e África do Sul, integrantes dos BRICS que desempenham papéis cada vez mais decisivos no cenário internacional.

Além disso, é importante destacar que a representação de um mapa-múndi sob qualquer perspectiva é perfeitamente legítima, uma vez que a Terra tem formato esférico. O conceito de que o Norte deve estar sempre no topo ou que determinado país deve ocupar o centro de um mapa é uma escolha política, e não uma imposição da realidade geográfica. Como o planeta é arredondado, qualquer ponto pode ser colocado no centro do mapa, e isso depende da intenção do cartógrafo ou das necessidades de representação. 

Em declarações sobre o mapa, o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, destacou que a inversão do mapa não é um erro técnico, mas uma representação intencional que visa desafiar a ordem tradicional de orientação. O novo formato cartográfico é um símbolo do reposicionamento geopolítico global, que coloca o Brasil no centro de uma nova ordem mundial multipolar. O mapa não é uma invenção sem fundamento, mas sim uma representação que questiona os paradigmas históricos de poder e riqueza, associando-os ao Norte, enquanto subestima o Sul.

"A publicação do novo mapa-múndi pelo IBGE alcançou êxito instantâneo, considerando o importante debate aberto e destravado sobre o Brasil diante da nova geopolítica global impulsionada pela emergência do Sul Global. Da mesma forma, a posição colhida junto aos estudiosos e especialistas em cartografia na geografia confirma a continuidade do rumo certo do IBGE", disse Pochmann. 

Novo mapa-múndi do IBGE coloca o Sul no topo e o Brasil no centro

Chamada calculada

O 'Metrópoles', ao chamar o mapa de “de ponta-cabeça”, não cometeu um erro, mas adotou uma postura claramente calculada. A escolha do título buscou criar uma imagem negativa, sugerindo que Dilma, ao exibir o mapa, cometeu uma falha ou erro. Ao fazer isso, o portal não só distorceu a intenção do lançamento da nova cartografia, mas também emitiu uma mensagem subliminar de desqualificação, que carrega o viés de um certo "viralatismo" que subestima o Brasil no cenário global.

Essa abordagem é, na verdade, uma repetição dos ataques que Dilma Rousseff recebeu ao longo de sua trajetória política. Muitas das críticas que ela enfrentou durante e após sua presidência estavam diretamente relacionadas ao fato de ser mulher e ao fato de ocupar uma posição de poder em um ambiente predominantemente masculino. Ao sugerir Dilma em uma posição de erro, o 'Metrópoles' não apenas distorce a realidade dos fatos, mas também reforça o estereótipo de que uma mulher em posição de autoridade está, por natureza, mais propensa a cometer falhas.

Ao invés de focar na inovação e no simbolismo do novo mapa, que representa uma iniciativa política importante, a chamada deslegitimiza uma ação que reafirma a liderança do Brasil no cenário geopolítico mundial. 

Além disso, ao sugerir que o novo mapa está "de ponta-cabeça", o portal não reconhece que os mapas podem ser representados de diversas maneiras, e cada escolha cartográfica carrega um significado simbólico. O Brasil no centro não é uma distorção, mas sim uma posição geopolítica. 

O novo mapa do IBGE deve ser visto como um marco, não como um erro, e a mídia tem a responsabilidade de refletir sobre o assunto com precisão e respeito.

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