No início da semana, deixou-nos Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco. É tradição que o papa eleito escolha para si um nome santo, com base em sua história, que expresse seus mais fundamentais valores. E o Santo Padre, quando ainda Jorge, foi o primeiro a escolher o nome de Francisco.
São Francisco, não por coincidência, foi alguém rico que abdicou dela para atender ao chamado de Cristo, restaurando sua Igreja. O Papa Francisco entendeu, à sua maneira, que também era seu papel restaurar a Igreja.
Teve a coragem de ser o primeiro a não condenar a homossexualidade e, embora não tenha negado ser um pecado, questionou: “quem sou eu para julgar?”. Combateu fortemente a desigualdade, a ponto de ser chamado de “comunista”, respondeu que lessem Mateus 25, de onde extraí este breve trecho: “porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me (…)”.
Assim como Cristo, que veio ao mundo pelos pecadores (Marcos 2:17), Francisco escolheu agir pelos que necessitavam e não celebrando os “justos”. Não foram poucas as vezes em que criticou abertamente políticas antimigratórias, criticou publicamente Donald Trump, criticou a Guerra em Gaza, a guerra na Ucrânia. Francisco foi mais que mero papa, foi um grande líder para os que necessitavam e ainda necessitam.
No entanto, como homem que era, não sobreviveu ao tempo e, na segunda (21), deixou-nos. Não se pode reclamar que não tenha lutado, pelo contrário. Mas devemos observar que direção tomará o novo papa, em momento tão delicado e de tanta instabilidade. Por quem intervirá o próximo Santo Padre? Quem será acolhido pela Igreja durante o novo papado?
É dever de todos nós refletir sobre o mundo que queremos para nós e no que gostaríamos de entregar à próxima geração. Não devemos olhar para o Papa Francisco apenas pelo aspecto religioso, ele assumiu uma missão e passou uma mensagem: solidariedade. Esse é um valor fundamental dentro da religião, mas o é também fora dela. Não se deve esperar que seja papel exclusivo da Igreja a solidariedade. Sejamos nós. Individualmente. Sejamos como sociedade. Tolerância, misericórdia, compaixão, “amor ao próximo” – todos esses, valores cristãos que devemos aplicar além da cristandade.
A morte de Francisco no dia seguinte à Páscoa é simbólica. Como Cristo, é tempo da Igreja renascer para um novo mundo e perdoar aqueles que afasta de si. A Igreja será o que seus fiéis fizerem ser, assim como nossa sociedade, assim como nosso país. É nosso tempo de definir os valores que pavimentarão o futuro e a mensagem de Francisco é muito forte.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.