ESQUERDA

Ainda é possível ser de esquerda e vencer eleições? Ou esse ciclo já se encerrou?

A maré cheia alt-right brasileira desabrochou em 2013 (ironicamente por iniciativa de jovens líderes estudantis progressistas) e cresce sem parar desde então. E ela não é passageira

Créditos: Ricardo Stuckert/PR
Escrito en OPINIÃO el

O ano começa com grossas nuvens no horizonte que anunciam tempestades no mundo político mundial. E 2025 começa também com uma pergunta que martela sem parar na cabeça dos analistas: ainda é possível a um jovem político professar-se “de esquerda” e ainda assim seguir vencendo eleições? Ou o ciclo histórico dos políticos bem-sucedidos que promovem a Solidariedade e a Justiça Social como suas principais plataformas políticas – salvo as costumeiras exceções - já se encerrou, soterrado pela alt-right (nova extrema direita) que tem sido recebida com tanto entusiasmo por centenas de milhões de pessoas mundo afora? E no nosso Brasil, como está esse cenário? O tempo passou na janela e só Carolina não viu?

Que resposta darão a essa questão de vida e morte – literalmente, como já vimos noutros momentos da História – comunistas, socialistas, democratas e demais herdeiros da Revolução Francesa, no momento paralisados pela visão dos tsunamis conservadores que não param de chegar?

Esse é o assunto central de que trataremos nessa coluna. Olharemos para o mundo todo, mas focalizaremos em nosso país, onde encontrar boas respostas para essa questão se tornou urgente: o tempo extra que a vitória de Lula em 2022 deu à esquerda tem data marcada para acabar.

O ano de 2024 acabou com um saldo amargo para a esquerda

A Fórum vem, desde 2001, informando bem aos seus leitores sobre as coisas que são importantes na política nacional e mundial. Por isso, não é necessário apresentarmos aqui a imensa lista de derrotas sofridas à gauche no ano que recém finou. Citarei apenas algumas delas para ilustrar a minha argumentação.

Todos os leitores desta plataforma sabem que Donald Trump voltou, triunfando de forma inquestionável para os padrões norte-americanos. Se o voto fosse direto nos EUA a vitória teria sido mais apertada: 51% a 47,5% do eleitorado. Os leitores sabem que os conflitos militares em andamento na Europa e no Oriente Médio estão bem acesos – e que, somados às fumaças que já se espalham em países do Pacífico que são áreas de disputa entre EUA e China, podem levar a uma – ainda improvável – Terceira Guerra Mundial.

Os leitores também sabem que o partido nazista alemão AfD vence seguidas eleições, sinalizando tudo de ruim que isso certamente implicará no futuro próximo. E que a Bolívia, devido à fragmentação do bloco político que dava um norte progressista ao país desde a primeira eleição de Evo Morales, se somou à instabilidade crescente do Cone Sul – já prenunciada com a tentativa de golpe bolsonarista em Brasília e com a eleição de tipos como Milleis e Bukeles, que se alastra. Não é boa, também, a situação em El Salvador.

Claro, a esquerda teve em 2024 algumas vitórias na nossa região (no Uruguai, sempre ele, por exemplo) e houve a realização na França de uma bem-sucedida engenharia política entre grupos democráticos de esquerda e de direita que por hora barrou o caminho de Marine Le Pen para o Palácio do Eliseu. Essa aliança democrática aconteceu sob o olhar indiferente dos partidos do grande dinheiro francês.

A vitória de Lula em 2022 não resultou nos ganhos políticos esperados para a esquerda em 2024

Sejamos francos: a esquerda brasileira levou nas eleições de 2024 uma surra digna de times de Segunda Divisão que acabaram de subir para a Primeirona. Ela foi largamente derrotada nas capitais (embora tendo obtido algumas boas votações, como a vitória retumbante de João Campos no Recife, uma vitória apertada do PT em Fortaleza e os bons mas insuficientes votos de Guilherme Boulos em São Paulo).

Esse cenário desalentador, que dura desde 2016, se repetiu em cidades grandes, médias e pequenas país afora, salvo as poucas exceções. Nas eleições legislativas (para vereador) o quadro não foi mais alentador e vimos aumentar nas câmaras municipais a presença dos Bois, das Balas, da Bíblia e dos Irmãos.

Começou em 2013. O que fazer para reverter essa maré vermelha minguante?

Como todos sabem, a maré cheia alt-right brasileira desabrochou nas manifestações de rua de 2013 (ironicamente iniciadas por jovens líderes estudantis progressistas em São Paulo) e cresce sem parar desde então. E não nos enganemos: ela não é passageira.

Os eleitores da Fórum que são mais interessados neste tema há tempos se perguntam: existe algo que a Esquerda possa fazer para recuperar o espaço que perdeu nas ruas, nas redes e nas cabeças dos brasileiros - em especial, nas jovens cabeças? E, mais importante: existe algo que pode ser feito antes de 2026, a tempo de que o resultado das eleições daquele ano marque uma virada?

A minha resposta a essa esfinge é: sim, acredito firmemente que muitas coisas podem ser feitas para construir um novo cenário, positivo, vigoroso, a tempo de a Esquerda obter bons resultados em 2026 – com ou sem a candidatura do grande Lula. E tenho essa certeza porque muitas das derrotas sofridas em 2024 decorreram de erros cometidos pelos próprios políticos da Esquerda. Erros esses, que estão dentro de suas capacidades de resolver. Se se mexerem para isso, se mudarem seu modus operandi, se pararem de querer fazer feijoada usando ingredientes que são para fazer macarronada.

É sobre os ajustes necessários nas receitas de vitória da esquerda que trataremos neste espaço. Até a próxima coluna.

***

Em 20 de janeiro será lançado o meu romance “História da Terceira Guerra Mundial” (veja mais clicando aqui) onde, como se fosse um sub Michel Houellebecq, jogo os personagens em possíveis cenários futuros extremos.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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