OPINIÃO

3 anos de contribuição do Museu Judaico de São Paulo - Por Ana Beatriz Prudente Alckmin

"O Museu Judaico de São Paulo não é um patrimônio só judaico, mas um patrimônio brasileiro e até mesmo mundial"

Fachada do Museu Judaico de São Paulo.Créditos: Keiny Andrade/Folhapress
Escrito en OPINIÃO el

Ontem (04 de setembro) foi uma noite para celebrar os 3 anos do Museu Judaico de São Paulo em um evento promovido pelo próprio museu, no qual coletivamente apoiadores do museu pensaram em como ampliar seu apoio. A meu ver, o Museu Judaico de São Paulo não é um patrimônio só judaico, mas um patrimônio brasileiro e até mesmo mundial. Uma vez que o Museu Judaico faz o trabalho de contar a história da presença judaica no Brasil, que tem mais de 500 anos, sendo a principal referência museológica do legado judaico na América Latina. Portanto, sua contribuição é grandiosa na preservação da memória do povo judeu e também em contar uma parte da história do Brasil, além de ser um espaço de educação não formal que complementa os saberes da sala de aula.

A educação não formal, especialmente através de museus, está se tornando mais valorizada no Brasil, embora já seja uma prática estabelecida em países europeus e em países da América do Norte. Instituições como o Museu de Ciências Naturais PUC Minas desempenham um papel significativo ao utilizar réplicas de fósseis para exposições, preservando os originais em reservas técnicas. Essas réplicas permitem trocas entre museus, enriquecendo seus acervos e ampliando o acesso do público a materiais substanciais nos estudos biológicos.

No jantar de celebração de 3 anos do Museu Judaico de São Paulo, Ana Beatriz Prudente Alckmin, Roberta Sundfeld (membro da diretoria do Museu Judaico) e Celso Lafer (Foto: Arquivo Pessoal)

Para que as visitas aos museus sejam efetivamente educativas, é necessária uma abordagem pedagógica, sendo fundamental que os professores integrem essas experiências ao processo de ensino e aos temas trabalhados em sala de aula, preparando os alunos antes, durante e após a visita. A maneira como os objetos são apresentados nos museus também é crucial para garantir que o público compreenda corretamente as informações e o contexto histórico ou científico. Nesse quesito, o Museu Judaico de São Paulo é uma referência.

Mergulhando no tempo, todos que são apaixonados pela educação museal carregam um grande trauma: o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que destruiu um acervo de mais de 20 milhões de itens. Esse triste evento evidenciou a importância dos museus na preservação da memória nacional e histórica. A perda desse patrimônio é irreparável, mesmo com iniciativas de reconstrução, afetando as gerações atuais e futuras. No Brasil, muitos museus enfrentam dificuldades devido à falta de apoio governamental e comunitário, com investimentos frequentemente direcionados a projetos mais imediatos, deixando acervos históricos negligenciados.

Portanto, torna-se fundamental que, além das políticas públicas de apoio aos museus e das leis de incentivo, haja também uma ampla rede de patronos, sejam empresas privadas ou pessoas físicas, que de alguma forma apoiem a existência dos museus. Isso já é muito comum nos EUA e em outras nações do mundo. Aqui no Brasil, estamos numa fase de construção dessa conscientização por parte da iniciativa privada, para que haja maior engajamento com os museus brasileiros.

Este é mais um ponto no qual o Museu Judaico de São Paulo se destaca. Apesar de ter todas as leis de incentivo aprovadas, ele conta com uma rede comunitária de apoio formada por pessoas físicas que se sentem tocadas pela missão do museu e o apoiam. Obviamente, a construção dessa rede levou muito tempo, e ainda pode e deve se expandir bastante. No entanto, é um exemplo muito rico de responsabilidade social e comunitária, com um grupo de pessoas que apoia o legado museológico voltado para a educação das crianças da cidade de São Paulo e do Brasil.

O museu é totalmente interativo e, portanto, pedagógico em todas as suas facetas, permitindo que as pessoas, especialmente os jovens e adolescentes, aprendam de forma dinâmica sobre a cultura judaica e sua história, quebrando estereótipos danosos que fomentam o antissemitismo. Ele apresenta a riqueza, o valor e a diversidade da cultura judaica, além de ampliar o letramento cultural daqueles que visitam o espaço. Se você ainda não visitou o Museu Judaico de São Paulo, precisa urgentemente conhecê-lo para compreender a riqueza cultural que ele representa, além de ser um case de sucesso no uso de metodologias pedagógicas dentro de um espaço museológico.

A preservação da memória cultural é essencial para a identidade de uma sociedade, e o descaso com os museus pode levar à perda irreversível dessa memória. A população precisa desenvolver um senso de pertencimento e valorizar a prática de visitar museus, garantindo que o patrimônio cultural seja protegido e transmitido às futuras gerações.

No atual momento de antissemitismo, tudo o que é judaico passa a sofrer o efeito colateral do ódio antissemita, e isso não é diferente com os espaços culturais judaicos. Assim, mais do que nunca, é essencial que aqueles que zelam pela cultura e pela educação museal olhem com carinho para o Museu Judaico de São Paulo e demonstrem seu apoio ao museu.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum