De LISBOA | Foi a decisão do Supremo Tribunal Federal entrar efetivamente em vigor, ainda que a conta-gotas, e os brasileiros serem impedidos de acessar a rede social ‘X’ (antigo Twitter), algo que agora só é possível de ser feito com o uso de VPN, ainda que sujeito a multa de R$ 50 mil, que a plataforma do bilionário Elon Musk se transformou numa espécie de Mad Max digital, um verdadeiro cadáver em liquefação.
Uma das redes mais populares do mundo, pelo menos em seu ecossistema brasileiro, tornou-se um terreno baldio virtual, com uma turba de fanáticos vandalizando tudo. Uma enxurrada de insultos, xingamentos e baixarias tomou o “lugar”, com perfis de imprensa (em boa parte ‘abandonados’) e de personalidades não alinhadas ao bolsonarismo sendo invadidos aos urros e com barbarismo até então não visto. O ‘X’ já era uma selva de gente ruim, mas a cessão do serviço de maneira legal transformou tudo numa balbúrdia incontrolável.
Gente desocupada e ‘celebridades’ de extrema direita, por mais que haja aí uma redundância, passam agora o dia inteiro, literalmente, arrotando mensagens de veneração a Musk, Trump, Bolsonaro, Marçal et caterva, e linchando virtualmente qualquer publicação antiga dos jornais, revistas, portais e outros meios de informação, assim como os perfis congelados de figuras públicas e quase públicas que esboçaram em sua existência um fiapo que fosse de crítica ao modus vivendi desses lunáticos.
Perfis de contorno nazista, postagens abertamente racistas, mensagens de incentivo a assassinatos e todo tipo de dejeto moral se pulverizaram como jamais visto. O ‘X’ virou curva de rio, de forma assumida, e a tal ‘liberdade de expressão’ de Musk e de seus seguidores aloprados está prevalecendo, agora oficialmente fora da jurisdição das autoridades brasileiras. É o triunfo da bizarrice e da maldade, ao vivo e em cores, com comentários se amontoando e a barbárie prevalecendo.
O fenômeno tem até uma explicação bastante simples, mas ainda assim assustadora. Agora livres, de fato, das garras da Justiça do Brasil, as hostes da extrema direita aproveitam para o cometimento de todos os crimes que pleiteavam e para a implantação do império do caos que sempre desejaram para o ‘X’. Por outro lado, um mecanismo auxilia nisso e acelera a “decomposição” do “cadáver”: a esmagadora maioria dos perfis progressistas, ou mesmo os tidos como “neutros”, que simplesmente acataram a decisão do STF, não estão para rebater, denunciar ou gerar um choque de posicionamentos. É o “corpo” que “morreu”. As bactérias e vermes se refestelam.
Em contrapartida, redes “novas”, como o BlueSky e o Threads, parecem ter um ar muito respirável para quem estava afundado na atmosfera deletéria até então em vigor, algo nunca vivido no ‘X’, nem quando ele era Twitter, antes da sanha apocalíptica de Musk. Se esses novos ambientes também vão sofrer com a mesma “doença” da antiga plataforma do passarinho azul, isso ninguém pode categoricamente afirmar. Mas, por lógica, é só uma questão de tempo para que o clima comece a pesar por lá da mesma forma.