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“Feios”: distopia da Netflix aborda tirania dos filtros de beleza e felicidade

O longa metragem se passa em um futuro distante, mas aborda questões que perturbam o presente

“Feios”: distopia da Netflix aborda tirania dos filtros de beleza e felicidade.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Recém-estreou na Netflix o filme "Feios", dirigido por McG, e trata-se de uma adaptação do volume da saga escrita por Scott Westerfeld. E do que trata o longa-metragem que tem dividido opiniões?

"Feios" se passa em um futuro distópico onde, depois de sucumbir em guerra por energias fósseis, a Terra conseguiu se refazer a partir de novos métodos de produção de energia. Além disso, os novos governantes entenderam que era necessário acabar com as diferenças de classe e beleza. Com isso, todos os cidadãos, ao completarem 16 anos, são obrigados a passar por uma cirurgia, que é uma espécie de filtro da beleza e da felicidade.

Após passarem pelos filtros de beleza e felicidade, os jovens vão viver na cidade, onde todos são felizes e possuem traços físicos semelhantes. Imagine viver em uma sociedade onde todos passam por harmonização facial e dental, e onde todos possuem olhos e cabelos semelhantes... essa é a realidade da Terra no pós-barbárie da guerra e da destruição ambiental.

O mundo da tirania da Beleza é governado pela Dra. Cable, em uma interpretação espetacular de Laverne Cox (Orange Is The New Black), que dá o tom do filme. 

Neste contexto, acompanhamos, em primeiro momento, Tally Youngblood (Joey King) e seu amigo Peris (Chase Stokes), que está prestes a passar pelo filtro da beleza, e ele assim o faz. Sem o amigo, Tally se torna amiga de Shay (Brianne Tju) e descobre que existe uma sociedade chamada "Fumaça", onde vivem pessoas que se recusam a serem jovens, bonitas e felizes para sempre, aceitando o tempo, a velhice e as diferenças.

A partir deste enredo, o filme, que se passa em um futuro distante e trágico, mergulha em questões que perturbam o presente: 1) os filtros das plataformas digitais que impõem padrões estéticos; 2) a tirania da felicidade: vidas editadas em redes sociais que só produzem ansiedade; 3) modos de vida que devem girar em torno de festas e felicidade, onde a rotina e o trabalho são desqualificados.

Filme problemático, trama interessante

Ainda que o filme tenha sérios problemas de edição e continuidade, a trama desenvolvida pelo escritor Scott Westerfeld, que também participa da produção, reflete sobre questões que têm perturbado, principalmente, a geração atual, que vive plugada em redes sociais e almejando, quase sempre, a vida do outro.

Em "Feios", as pessoas que ainda não alcançaram os 16 anos vivem apartadas em outra localidade, onde estão as pessoas "feias", não filtradas pela beleza e felicidade. Esta é uma realidade que foi imposta nos últimos anos pela ascensão das redes sociais: se você não está nelas, você não existe. No filme, você seria "feio".

Para além dos filtros de beleza e felicidade, que são problemáticos, "Feios" também traz outras questões, como a impossibilidade de "existir" fora das plataformas digitais, quando as vidas passam a ser valoradas a partir de likes e alcance, fatores que hoje começam a interferir na vida profissional de muita gente.

Embora o filme seja limitado em suas questões, ele lança uma série de temas e lembretes de que as redes são importantes, mas que a vida, a felicidade e a beleza não podem ser determinadas única e exclusivamente por inteligências artificiais que visam reconstruir uma espécie de lógica colonial, onde os padrões são binários e brancos. Ou seja, a distopia de "Feios" não está tão longe assim de nós.

"Feios" é sucesso de público, mas ainda não foi confirmado pela Netflix se haverá continuidade. Para quem quiser saber como termina a trama, os livros ("Feios - 1", "Perfeitos - 2", "Especiais - 3" e "Extras - 4") podem ser encontrados nas livrarias brasileiras.


 

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