O Brasil está em chamas. Literalmente. As últimas semanas têm sido de sufocamento coletivo, com o céu cinza, o ar pesado e o futuro nebuloso. Mais uma vez, pela milésima vez, atearam fogo no Brasil. Segundo o MapBiomas, 2024 já tem mais do que o dobro de queimadas de 2023. E o ano ainda nem acabou! É desesperador, mas eu faço um alerta: precisamos, juntas, juntos e juntes, enfrentar essa situação e salvar nossos ecossistemas.
O negacionismo climático se tornou um sentimento comum. E não falo apenas de bolsonaristas e figuras da extrema direita, que desprezam a ciência. Falo, sobretudo, do senso comum, que foi moldado para o menosprezo da questão ambiental.
Tendemos a achar que o fogo na Amazônia é só um problema da Amazônia, ou que as enchentes no Sul são problemas do Sul, ou ainda que a fumaça em São Paulo é um problema apenas de São Paulo. Mais de 200 cidades apresentam umidade igual ou pior que o deserto do Saara. E a maior parte dos incêndios foi iniciada pelo agronegócio, de acordo com pesquisadores da área. Lembrando que o Brasil é o maior produtor de soja do mundo. A verdade é que, ao longo dos anos, o capitalismo nos individualizou e, mais do que isso, nos desconectou da natureza.
Nós também somos natureza, por mais que tantas vezes nos achemos superiores a ela. Nós também somos bicho, somos água, somos seres que não só interferem nos ecossistemas, mas que os nutrem e os modificam, o tempo todo, de forma ininterrupta. Essa percepção, ensinada pelos povos indígenas, é fundamental para que a gente assuma a responsabilidade por tudo o que está acontecendo.
O Governo Federal precisa agir para frear as queimadas. Apenas em São Paulo foram registradas 76 mortes por síndrome respiratória aguda grave após o último incêndio. É preciso, urgentemente, agir para que esse crime não se repita. Sim, crime. A forma como o agronegócio age hoje no nosso país não pode ser naturalizada.
De acordo com o sistema BDQueimadas, do Inpe, o Brasil registrou 20.734 focos de incêndio desde o início de setembro. A maior parte ocorreu e segue ocorrendo em terras privadas do agro. Estão nos matando para plantar soja! Estão nos matando para criar gado! Quantas vidas precisam ser sacrificadas para que se torne positiva a margem de lucro de um bilionário do agronegócio?
Este ano, o Governo Lula destinou R$ 14,8 bilhões para a agricultura familiar, no Plano Safra. Porém, na mesma canetada, foram destinados R$ 508,5 bilhões para o agro. É simplesmente inaceitável que isso continue acontecendo. Aqueles que alimentam o Brasil, que colocam a comida na nossa mesa, estão sendo esmagados por aqueles que vendem commodities para outros países, enquanto envenenam a nossa água e queimam a nossa terra.
É urgente que os grandes criminosos ambientais sejam devidamente responsabilizados. Por isso, precisamos reivindicar que exista reforma agrária nas terras alvos de queimadas ilegais. Também foi necessária a decretação de Estado de Emergência Climática no Brasil, para que sejam acelerados recursos e iniciativas para a prevenção de futuras catástrofes que ainda podem ser evitadas. Também defendo - enquanto parlamentar e cidadã preocupada em como as vidas das pessoas são diretamente afetadas por tudo isso - mais investimentos na atenção básica e especializada do SUS, para que se lide da melhor forma com os problemas respiratórios, neurológicos e demais complicações do ar poluído pelas fumaças. Além disso, o Ministério da Saúde precisa urgentemente iniciar uma campanha massiva sobre a necessidade ou não do uso de máscaras.
E, acima de tudo, o agro precisa ser controlado, para que o Brasil possa respirar. O agro precisa de freio, para que a gente, enquanto civilização e espécie, possa avançar.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.