ANA BEATRIZ PRUDENTE ALCKMIN

A Genialidade de Greicy Khafif

"Quando você está diante de uma obra de Greicy Khafif, é impossível não sentir um impacto avassalador de comunicação"

Obra de Greicy Khafif.Créditos: Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

Eu fico imaginando como foi a sensação dos primeiros críticos de arte ao descobrirem Basquiat. Como será que foi o desafio de comunicar ao mundo a descoberta de um gênio? Ao ler a história de Basquiat e sua trajetória, fica claro para mim que ele também não sabia que era um gênio; essa consciência surgiu muito depois. Mesmo assim, ele nunca se considerou um gênio, apesar de ser um.

Ser um observador atento do mundo da arte e colocar-se no lugar daquele que vai avaliar o trabalho artístico de outro exige grande responsabilidade. Uma responsabilidade que vai muito além de simplesmente dizer: "é bonito", "é feio", "é bom" ou "não é bom", porque a arte não se resume a isso. A arte não se trata apenas de beleza; não se trata de classificar como boa ou ruim. A arte vai muito além de olhares padronizados; ela comunica. E, no que diz respeito às artes plásticas, expressa aquilo que seu criador deseja transmitir. Portanto, não cabe a ninguém determinar se algo é bem feito ou não. Temos olhares atentos para a arte de um artista, temos observações feitas por críticos de arte, mas a autoridade de julgar se uma obra é boa ou ruim não nos pertence. No entanto, sabemos reconhecer quando estamos diante de algo genial.

A genialidade é frequentemente vista como um dom inato, mas exemplos como os de Ludwig van Beethoven e Vincent van Gogh mostram que o verdadeiro talento é construído através de dedicação contínua. Beethoven, mesmo após perder a audição, continuou a compor suas obras-primas, provando que sua genialidade resultou do esforço e da perseverança. Van Gogh, por outro lado, apesar das dificuldades emocionais e da falta de reconhecimento em vida, pintava incansavelmente, criando um legado imortal. Ambos exemplificam que o sucesso resulta do trabalho árduo e da coragem de buscar sempre o aprimoramento, transformando potencial em realização concreta.

Eu não sei exatamente qual foi o percurso que levou Greicy Khafif a alcançar o nível de maturidade artística que ela possui hoje. Não sei se, assim como no caso de Van Gogh e Beethoven, ela se dedicou a um trabalho árduo, incansável e magistral, ou se há algo de quase mágico nesse processo. O fato é que o trabalho dela revela uma maestria artística; ele comunica de maneira poderosa e incisiva. Quando você está diante de uma obra de Greicy Khafif, é impossível não sentir um impacto avassalador de comunicação. Sua arte nos transporta para um universo carregado de mensagens, e o mais fascinante é que, ao observar suas telas, você descobre múltiplas camadas. É um trabalho construído em etapas, que possui uma profundidade não só na mensagem, mas também na execução técnica; se você olhar com atenção, irá se perder nas camadas de pinceladas, colagens e texturas.

Obra de Greicy Khafif (Reprodução)

Sem dúvida, sua obra transmite muito do feminino, mas não de uma forma estereotipada; é um feminino audacioso, que mistura o urbano com o clássico, repleto de charme. É como imaginar uma mulher elegante e sofisticada caminhando por ruas grafitadas e afirmando: "Este é também o meu lugar; minha essência feminina pertence aqui". Isso é incrivelmente intenso. Faz muito tempo que eu não sentia esse tipo de empoderamento feminino ao contemplar uma tela. As pinceladas de Khafif não são leves ou suaves; as figuras femininas que ela pinta não são lânguidas ou delicadas. Elas são impactantes, de uma maneira que a feminilidade delas pulsa com vigor.

A primeira vez que vi o trabalho de Khafif, senti um certo receio — medo de reconhecer o brilhantismo ali presente, porque comunicar ao mundo o talento de um artista requer uma responsabilidade enorme, e eu tive medo de assumir essa responsabilidade. No entanto, minha consciência falou mais alto: “Eu não posso privar o mundo do conhecimento dessa excepcionalidade.” Talvez aqueles que já conhecem o trabalho dela compreendam do que estou falando, mas aqueles que ainda não conhecem precisam saber que existe uma mulher, uma artista plástica brasileira, de profunda competência, que transmite um impacto comunicativo arrebatador, com um feminino que é disruptivo, mas que, simultaneamente, de alguma forma, transmite charme e elegância.

E isso é, de certo modo, paradoxal, porque o disruptivo geralmente não é associado a charme ou elegância; ele é, por definição, algo que quebra os padrões com os quais estamos acostumados. Mas, de alguma maneira, o trabalho dela consegue evocar tudo isso, colocando o espectador em um estado de atenção, de perplexidade, diante de uma profundidade feminina que ele ainda não compreende totalmente por ser inovadora, mas que, de alguma forma, nos encanta de maneira sutil e sofisticada. E é essa combinação que torna sua obra tão extraordinária.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum