ANA BEATRIZ PRUDENTE ALCKMIN

A boa arte une

Concerto Beneficente da CIP traz à Sala São Paulo o Ensemble MultiPiano com a Orquestra Sinfônica Nacional da Colômbia

Ensemble MultiPiano.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Em um evento que promete ser inesquecível, a Congregação Israelita Paulista (CIP) realizará no dia 4 de agosto um Concerto Beneficente na Sala São Paulo, trazendo ao Brasil o aclamado Ensemble MultiPiano. A apresentação contará com os renomados pianistas israelenses Tomer Lev, Berenika Glixman e Nimrod Meiry-Haftel, acompanhados pela Orquestra Sinfônica Nacional da Colômbia, sob a batuta do maestro Yeruham Scharovsky. O concerto será uma rara oportunidade de apreciar a excelência musical desses artistas em um dos mais prestigiados palcos do Brasil. Os ingressos estão à venda em https://orquestra.byinti.com/ e a renda será destinada aos projetos sociais da CIP, reforçando seu compromisso com a cultura e a solidariedade.

A arte, há milênios, tem um papel importante, às vezes pouco comentado, que é a sua capacidade de unir pessoas e passar por cima de todo tipo de discriminação. Quando ouvimos uma música, uma boa música, e ela toca o nosso coração. Na verdade, pouco importa a nacionalidade de quem está tocando, pouco importa a cor da pele de quem está tocando, pouco importa a religião de quem está tocando. Nós nos esquecemos de quem está tocando porque aquela arte produzida é maior que os nossos conflitos, é maior que as nossas diferenças. A arte quebra barreiras.

Vivemos um momento muito triste no mundo, com o aumento do antissemitismo. Pessoas ignorantes confundem as decisões do governo de Israel com decisões do povo judeu. Pessoas ignorantes se aproveitam do momento delicado político para atacar a população judaica, sendo Israel o único estado judeu no mundo. Sabemos bem que antissemitismo não é fazer críticas ao governo de Israel, porque qualquer governo pode ser criticado. O antissemitismo é o ódio contra judeus e o ódio puro pelos israelenses que vivem no estado judaico. É um momento de muita violência, e a arte é esse elemento que pode nos unir, que pode mostrar a grandeza de um povo e da sua cultura. 

Aqui me refiro à cultura do povo israelense, assim como à cultura do povo brasileiro, muitas vezes sendo refém de seus governantes. Muitas vezes, na história do Brasil, ficaram no poder pessoas que não representaram a totalidade do povo brasileiro, os valores do povo brasileiro, e o mesmo pode acontecer com qualquer outro país. A arte brasileira está acima das questões políticas dos brasileiros, está acima dos seus governos, assim como a arte israelense está acima de seu governo.

A arte, como expressão universal da experiência humana, emerge como uma poderosa ferramenta na desconstrução de preconceitos, promovendo empatia e compreensão entre diferentes culturas e comunidades. Ela está constantemente presente na luta contra o preconceito, atuando como uma ferramenta poderosa de conscientização e transformação social. Historicamente, a arte expressa, questiona e desafia normas e valores sociais, expondo injustiças e promovendo a luta por igualdade. Ela oferece novas perspectivas e cria empatia, ajudando a desconstruir preconceitos e estereótipos arraigados.

Uma das maneiras pelas quais a arte combate o preconceito é através da representação. A visibilidade de grupos marginalizados em diferentes formas de arte – pintura, escultura, teatro, cinema e literatura – é essencial para a inclusão e o reconhecimento dessas comunidades. Quando artistas de diversas origens têm a oportunidade de contar suas próprias histórias, desafiam as narrativas dominantes que frequentemente os excluem ou retratam de maneira estereotipada. Por exemplo, a obra de artistas negros, indígenas e outros grupos minoritários oferece uma visão autêntica de suas experiências, rompendo com a invisibilidade e a desumanização que muitas vezes enfrentam.

Além disso, a arte possui um poder único de evocar empatia. Ao criar uma conexão emocional, ela permite que o público experimente, mesmo que indiretamente, a realidade de outras pessoas. Isso pode levar a uma maior compreensão e compaixão, facilitando a quebra de preconceitos. A arte também serve como uma plataforma para o ativismo e a resistência. Muitos movimentos sociais têm usado a arte para mobilizar e unir pessoas em torno de uma causa comum. Murais, músicas de protesto, performances e outras formas de arte pública são frequentemente utilizadas para desafiar diretamente as injustiças e inspirar ações coletivas. O movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, por exemplo, fez uso extensivo de canções de protesto para fortalecer a solidariedade entre os manifestantes e comunicar suas mensagens de resistência e esperança.

Um exemplo relevante desse papel da arte pode ser observado nos museus que combatem o antissemitismo. Iniciativas museológicas dedicadas a expor e educar sobre o Holocausto e outras formas de perseguição antissemita desempenham um papel muito importante na luta contra o preconceito. Esses museus não apenas preservam a memória histórica, mas também educam novas gerações sobre os perigos do ódio e da intolerância. Ao apresentar testemunhos, artefatos e narrativas viscerais, esses espaços criam uma experiência educativa que vai além do conhecimento acadêmico, tocando profundamente os visitantes e promovendo uma reflexão crítica sobre o antissemitismo e outras formas de discriminação.

Além disso, a arte na educação desempenha um papel fundamental na formação de jovens e na promoção de valores de respeito e igualdade. Ao incorporar obras de arte que abordam temas de diversidade e inclusão no currículo escolar, educadores podem ajudar os estudantes a desenvolver uma visão mais ampla e inclusiva do mundo. Isso não apenas enriquece seu conhecimento cultural, mas também os prepara para se tornarem cidadãos mais empáticos e conscientes, além de desenvolver o lado artístico e sensível nos jovens.

Em resumo, a arte tem um impacto significativo no combate ao preconceito, funcionando como um espelho que reflete a diversidade e a complexidade da experiência humana. Ao promover a visibilidade, evocar empatia, servir como meio de ativismo e influenciar a educação, a arte desafia as percepções preconceituosas e contribui para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Seu poder reside na capacidade de tocar corações e mentes, inspirando mudanças profundas e duradouras.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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