OPINIÃO

Venezuela: o que te escondem - e o que verdadeiramente está em jogo - nas eleições

Parcela da esquerda cai na armadilha da direita e apoia amiga de Milei e Bolsonaro para ficar limpinha

Maria Corina Machado, candidata de facto da oposição venezuelana, com seu amigo Javier Milei
Maria Corina Machado, candidata de facto da oposição venezuelana, com seu amigo Javier MileiCréditos: Reprodução/Youtube
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As eleições na Venezuela no próximo domingo (25) são o grande tema da política internacional da semana. Mas o empobrecimento do debate realizado no Brasil sobre o país é verdadeiramente assustador.

Nas redes sociais e na imprensa tradicional, a única questão que parece existir nessas eleições é: Maduro é ditador? Como vai ser a contagem de votos? Que linda a oposição venezuelana! Veja só como ele atacou o sistema eleitoral brasileiro...

Esse debate - amplamente capturado pelos interesses mais neoliberais - me parece infértil sob diferentes aspectos: se Maduro vencer, quem o questiona como ditador não aceitará o resultado das eleições.

Se Maria Corina Machado ganhar, a vitória contra a "ditadura" - que permite eleições competitivas - será celebrada pelos incautos ou interessados na derrocada da esquerda venezuelana.

Criticar Maduro por suas falas tiradas do contexto - como a do banho de sangue - é muito fácil. Outros criticam o presidente por sua aliança com a Igreja Universal. Outros, por ser "tosco".

Mas parece que, para essa esquerda - muito mais preocupada com aparências e validações de entidades internacionais - é muito difícil criticar Maria Corina Machado, cuja única plataforma é a privatização total da Venezuela.

Maria Corina Machado, não se esqueçam, é signatária do Foro de Madri, organização privatista da extrema direita globa, que conta com Javier Milei e Eduardo Bolsonaro.

Então, para estes, vale de tudo pela institucionalidade? Vale implementar o neoliberalismo mais nefasto em troca da melhora de aparências?

A armadilha da vitória da oposição

O plano da Mesa de la Unidad Democrática é somente este: vender o país inteiro para os EUA, inclusive a estatal de petróleo PDVSA.

Para fazer isso, pela constituição do país, a MUD precisaria de apoio para uma reforma constitucional na Assembleia Nacional e de apoio na Suprema Corte.

Não será possível, porque a câmara é dominada pelo PSUV e a maioria dos membros do supremo venezuelano são chavistas.

Para isso, a Mesa de la Unidad Democrática, tão guapa e fragrante, terá que fechar o Congresso, acabar com os movimentos sociais, e na prática, dar um golpe de estado.

Ou seja: Maduro pode aceitar o resultado eleitoral perfeitamente. Ainda assim, para governar - leia-se vender a Venezuela -, a extrema direita terá que cruzar a linha da institucionalidade, tão prezada por parte do campo progressista brasileiro.

Se isso ocorrer, perceberão o erro que cometeram? Ou vão condenar o golpe que, na prática, apoiaram?

Dá pra criticar Maduro?

Mas é claro que dá. Opa!

Mas poucos o fazem pelos motivos certos.

Poucos o criticam por sua política econômica dos últimos anos, que expandiu as privatizações no país e diminuiu o papel do Estado na economia.

Poucos o criticam pela dolarização da economia da Venezuela causada pela escalada inflacionária. Maduro tem tentado controlar os papéis e adotado uma agenda mais pragmática para defesa da economia, o que tem causado retrocessos em direitos sociais e renda no país.

Poucos o criticam pela aliança com alas mais ao centro da política venezuelana que têm feito o governo ceder ao interesse de alguns setores econômicos e políticos.

Mas é isso que essa parcela da esquerda brasileira faz?

Não. Os sociais liberais compram qualquer narrativa descontextualizada vendida pela imprensa golpista venezuelana que apoiou sucessivos golpes à democracia e a transformam em fato para tentar transformar Maduro em um monstro.

Uma das piores é recente, em que diversos jornais noticiaram a suposta censura a quatro sites opositores: três deles seguiam no ar e um nunca existiu.

Entre as mentiras dos que querem transformar a Venezuela em paraíso neoliberal e o risco de ficar mal na foto por defender a soberania venezuelana, a segunda opção parece mais adequada.

Quem você escolhe entre o vendilhão bonitinho e o soberano "tosco"? A escolha não é muito difícil...

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