As eleições na Venezuela no próximo domingo (25) são o grande tema da política internacional da semana. Mas o empobrecimento do debate realizado no Brasil sobre o país é verdadeiramente assustador.
Nas redes sociais e na imprensa tradicional, a única questão que parece existir nessas eleições é: Maduro é ditador? Como vai ser a contagem de votos? Que linda a oposição venezuelana! Veja só como ele atacou o sistema eleitoral brasileiro...
Esse debate - amplamente capturado pelos interesses mais neoliberais - me parece infértil sob diferentes aspectos: se Maduro vencer, quem o questiona como ditador não aceitará o resultado das eleições.
Se Maria Corina Machado ganhar, a vitória contra a "ditadura" - que permite eleições competitivas - será celebrada pelos incautos ou interessados na derrocada da esquerda venezuelana.
Criticar Maduro por suas falas tiradas do contexto - como a do banho de sangue - é muito fácil. Outros criticam o presidente por sua aliança com a Igreja Universal. Outros, por ser "tosco".
Mas parece que, para essa esquerda - muito mais preocupada com aparências e validações de entidades internacionais - é muito difícil criticar Maria Corina Machado, cuja única plataforma é a privatização total da Venezuela.
Maria Corina Machado, não se esqueçam, é signatária do Foro de Madri, organização privatista da extrema direita globa, que conta com Javier Milei e Eduardo Bolsonaro.
Então, para estes, vale de tudo pela institucionalidade? Vale implementar o neoliberalismo mais nefasto em troca da melhora de aparências?
A armadilha da vitória da oposição
O plano da Mesa de la Unidad Democrática é somente este: vender o país inteiro para os EUA, inclusive a estatal de petróleo PDVSA.
Para fazer isso, pela constituição do país, a MUD precisaria de apoio para uma reforma constitucional na Assembleia Nacional e de apoio na Suprema Corte.
Não será possível, porque a câmara é dominada pelo PSUV e a maioria dos membros do supremo venezuelano são chavistas.
Para isso, a Mesa de la Unidad Democrática, tão guapa e fragrante, terá que fechar o Congresso, acabar com os movimentos sociais, e na prática, dar um golpe de estado.
Ou seja: Maduro pode aceitar o resultado eleitoral perfeitamente. Ainda assim, para governar - leia-se vender a Venezuela -, a extrema direita terá que cruzar a linha da institucionalidade, tão prezada por parte do campo progressista brasileiro.
Se isso ocorrer, perceberão o erro que cometeram? Ou vão condenar o golpe que, na prática, apoiaram?
Dá pra criticar Maduro?
Mas é claro que dá. Opa!
Mas poucos o fazem pelos motivos certos.
Poucos o criticam por sua política econômica dos últimos anos, que expandiu as privatizações no país e diminuiu o papel do Estado na economia.
Poucos o criticam pela dolarização da economia da Venezuela causada pela escalada inflacionária. Maduro tem tentado controlar os papéis e adotado uma agenda mais pragmática para defesa da economia, o que tem causado retrocessos em direitos sociais e renda no país.
Poucos o criticam pela aliança com alas mais ao centro da política venezuelana que têm feito o governo ceder ao interesse de alguns setores econômicos e políticos.
Mas é isso que essa parcela da esquerda brasileira faz?
Não. Os sociais liberais compram qualquer narrativa descontextualizada vendida pela imprensa golpista venezuelana que apoiou sucessivos golpes à democracia e a transformam em fato para tentar transformar Maduro em um monstro.
Uma das piores é recente, em que diversos jornais noticiaram a suposta censura a quatro sites opositores: três deles seguiam no ar e um nunca existiu.
Entre as mentiras dos que querem transformar a Venezuela em paraíso neoliberal e o risco de ficar mal na foto por defender a soberania venezuelana, a segunda opção parece mais adequada.
Quem você escolhe entre o vendilhão bonitinho e o soberano "tosco"? A escolha não é muito difícil...