Um vídeo viralizou nesta quinta-feira (11) mostrando um religioso (?) ungindo os pés de Jair Bolsonaro sendo assessorado pelo “Rei do Porco”, o empresário Reinaldo Moraes (PL). A cena, recheada de termos conhecidos do meio evangélico, aconteceu na Suinobras, em Cuiabá-MT. O vídeo, em si, já é um meme pronto: o “REI DO PORCO” ungindo os pés de BOLSONARO (o porco mor) na SUINOBRAS. Mais simbólico que isso, impossível.
Mas quero analisar quadro a quadro esse insólito episódio:
O teatro montado tem um objetivo claro e principal: enviar uma mensagem ao povo católico/evangélico do Brasil de que Jair Bolsonaro é um “ungido de deus” (aqui as minúsculas são propositais) para abençoar o Brasil. A ideia de que a benção seguirá “onde ele colocar a planta dos pés” remete à promessa bíblica dada a Israel de que “todo lugar que pisar a planta dos vossos pés (...) será vosso”. (Deuteronômio 11.24) Esse discurso que mexe com o imaginário da “benção de Deus” é potente e deve ser levado em conta. Nada ali naquele palco montado na Suinobras é à toa. Sabe onde se quer chegar e sabe exatamente as palavras a serem ditas.
Porém, um elemento deve ser observado e destacado: na Bíblia, geralmente a unção dos “Reis” e “Autoridades” se dá sobre a cabeça e não sobre os pés. Por que aquela parafernália toda em volta dos pés e, e aí está a chave de leitura daquele ato, o tornozelo de Bolsonaro? Preste atenção na fala do “religioso”: “Nós destravamos aquilo que colocaram no seu tornozelo”. A referência, mais uma vez, é obvia e ululante: Bolsonaro em breve será preso. E caso não seja, a possibilidade de uma tornozeleira eletrônica é real e imperiosa. E como toda a extrema direita faz com habilidade, a resposta é dada antes da coisa feita. Já se abençoa o tornozelo antes da tornozeleira, para que, ao recebê-la, seja o “cumprimento da profecia”.
A unção com óleo, na Bíblia é geralmente associada ao sacerdócio ou a uma missão política real. Sacerdotes e Reis eram ungidos. E a ideia de um “ungido do senhor”, ou “messias” (não é à toa que muitos fazem alusão ao próprio nome do inelegível como portador desse “chamado”) para “abençoar o povo” (desculpem-me o excesso de aspas, mas elas são necessárias) é uma ideia que cai como uma luva no imaginário cristão, principalmente evangélico, que desde a década de 80 espera por esse “presidente evangélico” que abençoará todo o Brasil. Essa imagética foi, e continua sendo, muito bem construída em torno do ex-presidente miliciano.
Mas já que, como foi dito, a unção não aconteceu sobre a cabeça, mas sim sobre os pés, imediatamente me veio à mente uma outra figura bíblica: “o ídolo dos pés de barro”, uma referência ao sonho do Rei Nabucodonosor II, interpretado pelo profeta bíblico Daniel. Veja o texto bíblico:
“Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; essa estátua, que era grande, e cujo esplendor era excelente, estava em pé diante de ti; e a sua vista era terrível. A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços, de prata; o seu ventre e as suas coxas, de cobre; as pernas, de ferro; os seus pés, em parte de ferro e em parte de barro. Estavas vendo isso, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra que feriu a estátua se fez um grande monte e encheu toda a terra.” (Daniel 2:31-35)
Desde então se diz que, ainda que uma imagem possa ter sinais de grandeza e poder (ouro fino, prata, cobre e ferro) os pés de barro demonstram que ela pode ser derrubada a qualquer momento. Não há dúvidas: Bolsonaro é um ídolo de pés de barro. Mais cedo ou mais tarde cairá, e se fará um grande monte de estragos e destroços que “encherá toda a terra”. O “mito” será derrubado pela verdade. Seus pés de barro, sujos e podres, serão destruídos pela pedra da democracia e a ferida não resistirá. Veremos a queda desse ídolo e celebraremos pisando sobre o monturo de maldades e perversões que cairão sob a justiça real e corajosa que, historicamente, fez com que impérios e ditaduras deixassem de existir.
Por mais que pareça difícil e distante, acreditem: “a justiça fluirá como um rio...”
Bolsonaro e o bolsonarismo ainda serão destruídos. Não há unção que sustente os pés de barro desse ídolo! Amém!