Se há uma comunidade que tem como uma das suas prioridades apoiar o protagonismo feminino e incentivar as mulheres a ocuparem espaços, com certeza uma delas é a comunidade judaica brasileira. No Brasil, a comunidade judaica, hoje, lidera uma revolução feminina, onde as mulheres cada vez mais ganham vez e voz.
As duas sinagogas mais conhecidas da Cidade de São Paulo, a Congregação Israelita Paulista e BETH-EL, são hoje presididas por mulheres, Laura Feldman e Isabel Cohn. Quando vamos para as grandes entidades, mulheres ocupam postos de diretoras. Além disso, há o próprio protagonismo natural da mulher judia. Ela é uma grande educadora dentro do lar, uma grande alquimista da belíssima gastronomia kosher, tem um protagonismo nas escolas judaicas, como educadoras, e entre as grandes universidades brasileiras, não há uma sequer que não tenha mulheres judias em posição de destaque. Então, na comunidade judaica, a formação das mulheres é realizada com grande cuidado, pensando nas suas grandes contribuições com seus olhares femininos.
Dito isso, essa comunidade hoje se preocupa com o protagonismo feminino na gestão pública. É nítido que quando olhamos para o Brasil como um todo, a ausência de mulheres em cargos de destaque nas grandes pastas de governo é evidente. Em um ano eleitoral, a comunidade judaica paulista, através de suas lideranças femininas, resolve então colocar na mesa essa discussão.
"As mulheres têm conquistado um espaço significativo na sociedade ocidental, marcando avanços impressionantes desde o surgimento do movimento sufragista. Embora na comunidade judaica esse progresso possa parecer mais lento devido às tradições patriarcais, importantes avanços estão sendo feitos. Um exemplo notável é na Federação Israelita do Estado de São Paulo, onde a criação do Grupo de Empoderamento e Liderança Feminina representa um marco significativo. Essa iniciativa não apenas fortalece a posição da mulher em termos de liderança comunitária, mas também promove o bem-estar físico e mental das meninas e mulheres" de acordo com Miriam Vasserman, vice-presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo.
A Comissão Advocacy do Grupo de Empoderamento e Liderança Feminina da Federação Israelita do Estado de São Paulo convida para uma conversa inédita sobre a participação das mulheres na Prefeitura de São Paulo. Estarão presentes no evento quatro mulheres muito bem preparadas que têm participação fundamental nos rumos da cidade de São Paulo: Eunice Aparecida de Jesus Prudente, Secretária Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho e ex-Secretária Municipal de Justiça; Marcela Arruda, Secretária Municipal de Gestão; Aline Torres, ex-Secretária Municipal de Cultura; Elza Paulina de Souza, ex-Secretária Municipal de Segurança Urbana. Mediação: Luciana Feldman, coordenadora da comissão Advocacy de Empoderamento e Liderança Feminina da Federação Israelita do Estado de São Paulo
Tema: Gestão de Mulheres na Prefeitura de São Paulo Data: 17/04, quarta-feira Horário: 17h às 18:30h Local: FISESP Link para inscrição gratuita: https://bit.ly/3IVLfdC
As mulheres na gestão pública enfrentam uma série de desafios na busca pela equidade de gênero. Equidade de gênero refere-se à justiça e à imparcialidade na distribuição de oportunidades e recursos entre pessoas de diferentes gêneros, buscando eliminar discriminações e garantir que todos tenham condições iguais de realização e desenvolvimento.
É imprescindível reconhecer a importância das políticas públicas como ferramentas essenciais para corrigir as desigualdades históricas e persistentes que afetam as mulheres. Entretanto, é necessário ir além e considerar as diversas condições e necessidades individuais de cada mulher, levando em conta fatores como raça, classe social e outras características. Nesse sentido, o conceito de interseccionalidade surge como uma ferramenta valiosa, destacando como as desigualdades estruturais se entrelaçam e impactam de forma ainda mais intensa as mulheres. A implementação de políticas públicas deve ser coordenada e intersetorial, visando atender às demandas específicas das mulheres e promover a igualdade de oportunidades em todos os níveis. No entanto, é importante destacar que tais políticas têm enfrentado obstáculos, incluindo a redução de investimentos e a pouca representação feminina nos espaços de poder.
Diante desse cenário, a formação de redes de mulheres em posições de liderança emerge como uma estratégia fundamental para o compartilhamento de conhecimentos e o apoio mútuo, fortalecendo a voz e a presença feminina em todas as esferas da gestão pública. Além do contexto público, a dificuldade em alcançar a equidade de gênero também persiste no setor empresarial, onde um ambiente muitas vezes sexista é evidenciado. As influências do contexto patriarcal, racista e heteronormativo se tornam presentes e evidentes, com os homens ocupando predominantemente os cargos de poder e decisão, além de deterem o controle econômico.
É importante reconhecer que, nesse ambiente, as mulheres enfrentam não apenas desafios de representatividade, mas também situações de violência e discriminação. A representatividade feminina na política e em cargos de liderança continua a ser um desafio significativo em diversos países, incluindo o Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, enquanto 4.908 homens ocupavam posições de administração em cidades brasileiras, apenas 662 mulheres desempenhavam a mesma função. Essa disparidade reflete-se não apenas na representação, mas também nas diferenças salariais, com as mulheres recebendo, em média, 86,1% da remuneração dos homens na Administração Pública Federal. As oportunidades de cargos e funções de liderança para mulheres ainda são limitadas, com cerca de 60% desses cargos ocupados por homens. Além disso, a presença feminina na liderança pode ter impactos significativos, reduzindo até 32% da desigualdade de gênero na educação entre adolescentes e até 24% na mortalidade infantil, conforme dados da Revista Nexo.
Apesar desses obstáculos, a percepção geral é que a presença de mais mulheres no serviço público traz benefícios, conforme apontado por 90% dos entrevistados em uma pesquisa do Datafolha. Em países latino-americanos e caribenhos, embora as mulheres tenham uma presença maior em áreas como educação e desenvolvimento social, sua representação é significativamente menor em áreas como economia e defesa nacional, de acordo com informações do Insper.edu.br. Na indústria de tecnologia, por exemplo, as mulheres representam apenas um terço do contingente de trabalhadores e têm 65% a mais de chances de serem demitidas do que os homens, conforme dados do Blog Aspec (especializado em informática e mercado de trabalho).
Portanto, as políticas públicas voltadas para as mulheres são indispensáveis não apenas para corrigir as desigualdades de gênero, mas também para abordar as interseções de gênero e raça que permeiam nossa sociedade. Uma abordagem mais ampla e solidária se faz necessária para enfrentar os desafios por que passam as mulheres tanto na gestão pública quanto no setor empresarial, visando construir um futuro mais justo e igualitário para todos.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.