CHICO ALENCAR

O general e o brigadeiro francos e seus pares fracos

Outros oficiais, inclusive um notório capitão, interrogados no mesmo processo que investiga as articulações de “virada de mesa”, acometidos de nanismo ético, preferiram ficar calados.

General Freire Gomes e brigadeiro Baptista Júnior.Créditos: Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

O general Freire Gomes, comandante do Exército à época de Bolsonaro, abriu o jogo em depoimento dado à Polícia Federal na sexta-feira (1): respondendo a nada menos que 280 perguntas, em depoimento de mais de sete horas, na sede da PF, em Brasília, disse que o então presidente participou de reuniões para debater o golpe, tanto antes da eleição presidencial, quanto depois da vitória de Lula no 2º turno. O tenente-brigadeiro Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, foi na mesma linha.

Tiveram estatura moral. 

O que responderam acerca de suas reações às propostas golpistas, flagrantemente inconstitucionais, não sabemos. Precisam explicar por que não denunciaram o que estava sendo tramado dentro do governo. Era o caso de denúncia pública e até voz de prisão aos proponentes da trama criminosa. 

Já outros oficiais, inclusive um notório capitão, interrogados no mesmo processo que investiga as articulações de “virada de mesa”, acometidos de nanismo ético, preferiram ficar calados. O general Braga Netto classificou Freire Gomes como “cagão”, por não topar entrar no esquema golpista.

O adjetivo de baixo calão, pela postura demonstrada nos interrogatórios, não caberia melhor a esses outros colegas de alta patente? Já está evidente que havia um golpe em curso, e seu chefe supremo era aquele que se escafedeu em avião da FAB para os EUA, com R$ 800 mil, “para aguardar os acontecimentos” – como, aliás, a maioria da população reconhece (55%), segundo pesquisa Datafolha divulgada em janeiro de 2023.

Bolsonaro quer acesso imediato à integra dos depoimentos que o incriminam, isto é, privilégios na investigação. É como se um suspeito exigisse ser informado de que seu telefone seria grampeado... Aí nada seria apurado!

Novos desdobramentos podem vir à tona. O depoimento do general Freire Gomes fez com que a PF chamasse para novo interrogatório o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fez acordo de delação premiada e é considerado peça-chave nos inquéritos da Polícia Federal que envolvem o ex-presidente da República e aliados. 

A expectativa é de que Cid possa tirar dúvidas, confirmar versões e revelar mais detalhes a partir das informações dadas por Gomes. O depoimento foi marcado para a segunda-feira, dia 11 de março. 

Enquanto isso,  o Senado está realizando uma consulta pública sobre projeto do senador bolsonarista Mourão (Republicanos/RS) que anistia os golpistas. Se você ainda não votou, vote! Está pau a pau. Sem anistia para golpistas.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum