Nesta segunda-feira (25), o jornal norte-americano The New York Times revelou que Jair Bolsonaro passou dois dias escondido na Embaixada da Hungria no Brasil, localizada em Brasília, supostamente para evitar sua prisão dias após a apreensão de seu passaporte, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e de dois de seus mais próximos assessores terem sido presos. O fato ocorreu na primeira quinzena de fevereiro.
Bolsonaro teve o documento de viagem apreendido como medida cautelar contra uma possível fuga do Brasil, uma vez que o ex-chefe de Estado é o alvo central do inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado perpetrada pelo antigo governo entre o final de 2022 e o começo de 2023, após a derrota do radical para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O fato do ex-presidente se refugiar na Embaixada da Hungria, que é considerado um território estrangeiro, portanto fora da jurisdição nacional, pode configurar violação de medida cautelar, o que ensejaria uma ordem de prisão preventiva. A Polícia Federal (PF) já informou, após a notícia vir à tona, que abriu inquérito para investigar a fuga de Bolsonaro.
Diante da situação, é impossível não compará-la com aquela vivida por Lula em 2018. À época, no mês de abril, o presidente, que na ocasião estava sem mandato, foi alvo de uma ordem de prisão emitida pelo então juiz Sergio Moro no âmbito da investigação sobre o "triplex do Guarujá", na esteira da operação Lava Jato.
Lula passou dois dias no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), antes de se entregar aos agentes da Polícia Federal (PF). Neste período e até mesmo antes da efetivação da ordem de prisão, recebeu incentivos e propostas para deixar o país ou se refugiar em uma embaixada, com o intuito de evitar a cadeia. O petista, entretanto, negou categoricamente essa possibilidade e decidiu permanecer no país e ser preso para enfrentar seus acusadores e provar sua inocência.
Em vídeo gravado no interior do sindicato, pouco antes de ser preso, Lula deixou claro que não se acovardaria.
“Primeiro, que eu não tenho medo das denúncias contra mim, porque sou inocente. E não sei se meus acusadores são inocentes. Segundo, eu poderia ter fugido. Estive na divisa do Paraguai com o Brasil, estive em Foz do Iguaçu, vizinho do Uruguai e da Argentina. Eu poderia ter saído, poderia ter ido para uma embaixada", declarou na ocasião.
“Não quis fugir porque quem é inocente não corre, enfrenta os problemas. E quero provar minha inocência. Se tem político que não tem honra e não se defende, eu tenho muita honra e quero me defender. É por isso que estou muito tranquilo e vou a Curitiba saber o que ‘seu Moro’ quer, o que ‘seu Dallagnol’ quer. Saber se eles estão dispostos a discutir comigo e debater, publicamente, os processos”, prosseguiu.
Veja vídeo:
Em abril de 2019, ou seja, um ano após ser preso, Lula concedeu sua primeira entrevista à imprensa de dentro da prisão e, aos jornalistas Florestan Fernandes Júnior e Mônica Bergamo, reafirmou que recebeu propostas para se refugiar em embaixadas, mas recusou todas.
"Tinha muita gente que achava que eu deveria sair do Brasil, ir para uma embaixada, muita gente achava que eu deveria fugir. Eu tomei como decisão que meu lugar é aqui. Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o Moro, desmascarar o Dallagnol e a sua turma e desmascarar aqueles que me condenaram, que eu ficarei preso cem anos, mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade. Eu quero provar a farsa montada. Eu quero provar (..) E eu tomei a decisão. Eu falei: eu vou, eu vou lá. Eu não vou esperar que eles venham até mim, eu vou até eles, porque eu quero ficar preso perto do Moro. Porque eu tenho que provar minha inocência", disparou Lula.
Assista:
Em novembro de 2019, então, após 580 dias preso, Lula foi solto e sua condenação anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que declarou o então juiz Sergio Moro suspeito e parcial para julgá-lo. Três anos depois, com sua inocência comprovada, Lula participou de mais uma eleição e foi alçado à presidência da República para seu terceiro mandato com mais de 59 milhões de votos.