A cidade de São Paulo vive uma explosão de dengue, tendo sido registrados até agora mais de 14 mil casos em 2024, com uma morte confirmada. E o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, não planeja nada, corre atrás do prejuízo, mas o que ele não perde é a oportunidade de superfaturar, mesmo quando se trata de uma área tão delicada como a saúde.
No início do ano, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou um inquérito civil para apurar suposto ato de improbidade administrativa praticado pela prefeitura de São Paulo na compra de armadilhas contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.
É que a administração Ricardo Nunes gastou R$ 400 por unidade de uma armadilha contra o mosquito. O problema é que existe uma versão similar desenvolvida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) ao custo de R$ 10.
A Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde) comprou as armadilhas gastando um total de R$ 19 milhões, o que representa 28% do valor empenhado pelo órgão em 2023. Se a gestão municipal tivesse optado pela versão da Fiocruz, a despesa teria sido de apenas R$ 200 mil.
A falta de planejamento também é a marca dessa gestão, principalmente na área social. Recentemente, o infectologista Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Anvisa, acusou a secretaria municipal de Saúde de ter se atrasado na realização das atividades para o combate à doença. Ele lembrou que havia 2 mil agentes comunitários de saúde e da noite para o dia foram contratados mais 12 mil. “Se fossem contratados mais 100 agentes, eu entenderia que estaria aumentando a força de trabalho, mas sair de 2 mil para 12 mil significa que alguma coisa está errada”, afirmou o especialista.
Essa descarada desfaçatez da atual gestão com a saúde pública revela um parentesco ideológico de Ricardo Nunes com Jair Bolsonaro, o negacionista cuja política no enfrentamento à Covid-19 foi criminosa, tendo sido responsável por pelo menos 700 mil mortos.
Infelizmente, o descaso das autoridades com a saúde pública tem sido comum na história do Brasil. Em geral, os governos sempre temeram que o reconhecimento público de uma epidemia pudesse atrapalhar os negócios, prejudicando a economia.
Esse, aliás, foi o principal “argumento” de Bolsonaro para tentar impedir o isolamento social enquanto a Covid chegava a matar quatro mil pessoas por dia.
Tivemos no passado o caso da meningite, que se alastrou no país na década de 1970. Sem estratégicas de prevenção e tratamento, a ditadura militar escondia os números assombrosos. Das favelas, a meningite se expandiu para áreas mais ricas, o que tornou insustentável a continuidade do acobertamento dos casos. Às pressas, as autoridades tomaram medidas como a suspensão de aulas e a importação de vacinas, a partir de 1975.
O Brasil se redimiu desta triste marca ao empreender o combate à Aids, com a criação do SUS, nas décadas de 1980/1990, tornando o país uma referência mundial no controle da doença, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Especialistas dizem que um dos aspectos mais marcantes da luta contra a Aids é a sua relação com os direitos humanos, com a mobilização da sociedade civil e dos governos e agências multilaterais na elaboração de políticas públicas de prevenção e tratamento.
É preciso que resgatemos essa tradição de engajamento no combate às epidemias. Por isso, políticos negacionistas como Ricardo Nunes e Jair Bolsonaro precisam ser banidos da vida política. Afinal, sabemos que eles nada têm de incompetentes, pois trata-se de um projeto político de desmantelamento dos serviços públicos.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum