ANA BEATRIZ PRUDENTE ALCKMIN

Nasce uma Estrela: Vitor Campilongo

Ao visitar a exposição do artista plástico Vitor Campilongo, o que me surpreendeu foi o nível de maturidade alcançado por ele, mesmo sendo um rapaz tão jovem

O artista plástico Vitor Campilongo e a colunista Ana Beatriz Prudente Alckmin.Créditos: Arquivo pessoal
Escrito en OPINIÃO el

Encontrar a própria identidade artística é um processo que pode levar anos e alguns artistas passam a vida inteira sem nunca defini-la. Isso nos leva a uma questão ainda mais complexa: quem é responsável por definir essa identidade? O próprio artista ou os críticos de arte?

Eu parto da premissa de que o artista é quem fala sobre sua própria obra. Embora existam pessoas como eu, que observam, analisam e refletem, é no conjunto da obra que sentimos as características que se tornam a assinatura de um artista. Geralmente, atingir esse nível de identidade exige muita experiência e anos de estrada. Costumo dizer que é o ponto de maturidade do desenvolvimento artístico.

Ao visitar a exposição do artista plástico Vitor Campilongo, o que me surpreendeu foi o nível de maturidade alcançado por ele, mesmo sendo um rapaz tão jovem.

O artista coloca como interesse social de seu trabalho a própria matéria-prima: a tinta. A tinta se torna a temática de sua obra e ele passa a representar seu universo, explorando diversas paletas, mas sempre focado no produto em si — a tinta, no formato do tubo de tinta.

Para entender um pouco mais a construção do trabalho do artista e como ele chegou nesse ponto de interesse, eu o ouvi:

“Isso eu começo a pesquisar através de uma experimentação. Tem um artista americano, ele se chama Richard Serra. Ele, em 1930, fez uma lista de verbos. E, a partir desses verbos, ele aplicava os verbos no material que ele queria trabalhar, que, no caso, era o metal. Então, ele escreveu jogar, amassar, dobrar. Ele aplicava esses verbos, essas ações, no material. Eu fiz uma listinha de verbos minha e comecei a aplicar essas ações na tinta. A partir do momento que eu comecei a distribuir a tinta através de um olhar diferente, através de uma experimentação diferente, eu comecei a, de fato, entrar nesse… Tipo, o que a tinta me oferece? O que ela pode me oferecer? Além dos verbos — depois que foi um impulso experimentacional, essa coisa dos verbos —, isso me colocou a fim de pesquisar esse tema, que virou o tema. A tinta virou o tema. Então, eu não uso a tinta para representar algo ou um outro tema. Ela é o tema. E aí, eu vou chegando nessas formas, desenvolvendo, por exemplo, nessa obra dessa mão, que, originalmente, ela é de parede, mas ela está aqui, encostada na mesa. Ela tem essa tinta aqui, que eu exprimi do tubo, e tem uma armação de terra. Então, eu faço o que eu quero com ela. Eu moldo ela, ponho ela na posição que eu quiser. Isso aqui é concreto armado, e a tinta eu chamo de tinta armada. É a mesma ideia por trás: ter essa sustentação que ajuda. E aí, por conta desse trabalho, dessa pesquisa com a tinta, eu chego naquele tridimensional, que são essas esculturas de madeira. É madeira o material.”

O Mercado de Arte

O mercado de arte é um ambiente dinâmico e multifacetado, onde diversos fatores influenciam tanto o valor das obras quanto a relação entre artistas, galerias, colecionadores e instituições. Determinar o preço de uma obra envolve uma combinação de elementos, como a reputação do artista, a demanda por seu trabalho e a autenticidade das peças. Artistas com reconhecimento internacional, premiações importantes e participação em grandes exposições costumam ter suas obras mais valorizadas. Além disso, a exclusividade — seja por meio de peças únicas ou edições limitadas — e o respaldo de galerias e leilões respeitados contribuem para consolidar o prestígio e o valor no mercado.

Garantir a proteção e organização do trabalho artístico também é essencial. Galerias e seguradoras desempenham um papel fundamental ao proteger obras contra falsificações e ao estabelecer contratos que asseguram o reconhecimento e a valorização dos artistas. Ferramentas tecnológicas, como etiquetas digitais, estão ganhando espaço ao facilitar o registro de informações detalhadas sobre autoria e autenticidade. No entanto, no Brasil, artistas independentes ainda enfrentam dificuldades para acessar esse tipo de proteção, ficando mais expostos a falsificações e práticas irregulares.

Nesse cenário, iniciativas como o Núcleo de Arte e Direito do MASP têm grande importância. O núcleo se dedica a debater temas como a regulamentação do mercado, os direitos autorais e o combate às práticas ilícitas. A falsificação, por exemplo, é um problema significativo. Estima-se que cerca de 40% das obras de arte possam ser falsificadas ou incorretamente atribuídas. No Brasil, a informalidade nas negociações e a falta de registros confiáveis facilitam fraudes, que muitas vezes servem como instrumento para lavagem de dinheiro.

É nesse contexto que entra o trabalho dos peritos em arte. Esses especialistas atuam em conjunto com químicos, físicos e restauradores para atestar a autenticidade das obras. Através de análises grafotécnicas, estudos dos materiais e comparações com o histórico e estilo do artista, os peritos desempenham um papel fundamental no combate às falsificações e na construção de um mercado mais transparente e confiável.

Para minimizar esses problemas, galerias e colecionadores devem adotar boas práticas, como manter registros detalhados sobre a procedência das obras, armazenar dados técnicos e investir em tecnologias como etiquetas digitais e blockchain. Essas soluções tecnológicas vêm ganhando força no mercado de arte e prometem maior transparência e segurança ao rastrear a origem das peças.

Outro ponto importante é o crescimento da área de restauração de obras de arte. A demanda por profissionais qualificados nessa área tem aumentado no Brasil, impulsionada pelo aumento no número de colecionadores e instituições preocupadas com a preservação de suas peças. Contudo, a falta de regulamentação da profissão ainda abre espaço para que amadores realizem intervenções inadequadas, prejudicando obras de valor inestimável.

No mercado brasileiro, os desafios coexistem com oportunidades. No setor primário, feiras como a SP-Arte e a ArtRio têm sido fundamentais para apresentar novos artistas e movimentar o mercado. Já no mercado secundário, que envolve leilões, há limitações claras: a instabilidade econômica, a falta de grandes casas de leilão internacionais, como Sotheby’s e Christie’s, e a pequena base de colecionadores de alto poder aquisitivo restringem o crescimento desse segmento no país.

Apesar dessas barreiras, há sinais de avanço. Galerias brasileiras têm ganhado visibilidade internacional ao participar de importantes feiras globais, o que ajuda a projetar artistas locais no cenário mundial. A formação de novos colecionadores, impulsionada por ações educativas e eventos culturais, também fortalece o mercado. Além disso, tecnologias emergentes, como blockchain e plataformas digitais, abrem novas perspectivas ao oferecer maior transparência e facilitar o acesso às obras de arte.

Por fim, os museus desempenham um papel crucial na preservação do patrimônio artístico, embora enfrentem desafios financeiros para garantir a proteção completa de suas coleções. Auditorias periódicas e parcerias com empresas privadas têm sido algumas das soluções encontradas para lidar com esses obstáculos e proteger o acervo artístico.

O mercado de arte no Brasil, portanto, está em processo de transformação. Com a valorização de artistas nacionais, o uso crescente de tecnologias inovadoras e a profissionalização do setor, há espaço para um desenvolvimento mais estruturado e promissor. A combinação entre tradição e inovação pode abrir novos caminhos e fortalecer ainda mais o cenário artístico brasileiro.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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