Na Economia, fatos e indicadores (juros, inflação, câmbio, produção) estão em constante movimento. Relacionam-se entre si, de forma ininterrupta, criando uma dinâmica misteriosa que os “especialistas”, na tentativa de prever o futuro, muito mais erram do que acertam. Por trás dela, interesses financeiros e empresariais atuam - por meio da mídia, do lobby, da especulação - de forma selvagem e desigual, criando um terror orquestrado.
É exatamente o que vem ocorrendo agora, com a proximidade do anúncio do pacote de corte de gastos a ser apresentado pelo governo Lula. O simples fato de o anúncio ter sido adiado causou um terremoto. O dólar superou alta histórica, batendo recordes diários; a Bolsa de Valores caiu, ao sabor do sobe e desce especulativo, traduzindo as “expectativas do mercado”; os profetas do caos voltaram a defender uma inevitável subida da taxa básica de juros da economia, a fim de fazer frente a previsões de inflação futura que “estoura” o teto da meta;” e, nessa trilha mais que conhecida, a turma de sempre aponta como única saída possível o retrocesso social. De novo. E de novo...
Nos últimos 10 anos, o Brasil adotou políticas econômicas liberais: Teto de Gastos, Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, independência do Banco Central, entre outras medidas, que levaram ao desmonte de mecanismos de proteção social característicos do Estado de Bem-Estar Social. O argumento por trás dessas medidas deriva da crença de que um orçamento crescente, sem austeridade fiscal, seria causa direta da retração econômica e, portanto, somente uma política radical de cortes seria capaz de reverter o quadro, com a retomada do crescimento pela via do investimento privado e da melhora na eficiência do gasto público.
Acontece que, passada uma década do início desse processo, os efeitos passaram longe do esperado: a restrição ao orçamento público sucateou áreas essenciais e acabou servindo apenas para que os gastos que geram privilégios, como as despesas com militares, os supersalários, a manutenção da desoneração da folha de pagamento e as emendas parlamentares, não apenas fossem mantidos, como aumentados. O país se manteve estagnado, com crescimento muito baixo, e inflação e juros à mercê do cenário internacional.
Com a eleição de Lula, a PEC da transição negociada permitiu um impulso fiscal imprescindível para a retomada do crescimento e do emprego, sob inflação controlada.
Agora, passados quase dois anos, a histeria do ajuste fiscal retorna, mesmo que todos os agentes econômicos saibam que o cenário externo é desfavorável, por causa da tendência de alta dos juros nos EUA, resultado das eleições americanas, e do conflito no Oriente Médio, que deve se prolongar.
Um corte de gastos em despesas sociais como o BPC e o seguro-desemprego, sob a justificativa de que conterá os maus presságios do mercado financeiro e a alta do dólar, é um tremendo retrocesso e não pode avançar. Mais do que nunca é preciso coragem para combater a hipocrisia do mercado e da sua elite parlamentar que, enquanto defende isenções e desonerações para os mais ricos e tributação sobre os mais pobres, promove cortes nas despesas sociais.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.