A sustentabilidade na moda é um tema cada vez mais discutido e essencial para o desenvolvimento social e econômico. Em 2024, a prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (SMDET), firmou um compromisso de cooperação com a Fashion Week. Com duração de 12 meses, essa parceria tem como objetivo apoiar empreendedores e promover ações que incentivem uma moda mais inclusiva e responsável. A iniciativa visa fortalecer os empreendimentos coletivos e individuais, oferecer capacitação e qualificação profissional, e facilitar o acesso a recursos e informações fundamentais para o crescimento sustentável dos negócios.
Segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Eunice Prudente, "a parceria da prefeitura de São Paulo com o setor privado traz uma série de benefícios para as instituições e para a população. Uma das principais vantagens é que o governo pode executar atividades para as quais não teria recursos técnicos ou financeiros caso não houvesse a parceria com uma empresa privada. É essa parceria em torno de recursos técnicos e metodologias que impulsiona a cidade. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho tem feito o que pode para impulsionar cada vez mais a formação de mão de obra qualificada na cidade de São Paulo; um exemplo disso é o POT." Essa declaração destaca a importância da cooperação com o setor privado na ampliação do impacto das ações voltadas ao desenvolvimento local.
A SMDET concentra suas ações em diversas frentes, desde o apoio ao empreendedorismo até a inclusão social e o desenvolvimento sustentável. Entre os objetivos, destaca-se o incentivo a novos modelos de negócios, ao uso de tecnologias inovadoras e ao fortalecimento da economia local, além da criação de estratégias de acesso a mercados e intermediação de vagas de emprego. A Secretaria também promove o debate sobre consumo responsável e sustentabilidade, enfatizando a redução das desigualdades e o apoio às vocações econômicas da cidade, o que contribui para um futuro mais justo e equilibrado para São Paulo.
Na última edição da São Paulo Fashion Week, realizada de 16 a 20 de outubro de 2024, foram apresentados desfiles instigantes que destacaram a versatilidade das peças. Marcas como Salinas, Dário Mittmann e Eloísa Faria apresentaram coleções pulsantes. Os modelos que passavam pela passarela mostravam como as roupas permitiam inúmeras combinações, o que fez com que as mulheres que assistiam ao desfile imaginassem a possibilidade de montar vários looks com as mesmas peças. O profissional responsável por definir a montagem do look que vai para a passarela é o stylist. Esse fenômeno, chamado versatilidade na passarela, evidenciou como um desfile que traduz a adaptabilidade das roupas é uma verdadeira vitrine de moda consciente.
Esse profissional stylist, responsável por definir quais peças entram no desfile e organizar a ordem dos looks, colabora na escolha de modelos, trilha sonora, cenografia e maquiagem, garantindo que tudo esteja em sintonia com a intenção do estilista. Sua participação pode variar, mas sempre alinhada ao conceito da coleção. Essa harmonia é crucial para transmitir a mensagem sobre o que a moda pode ser, tanto nos aspectos estéticos quanto nos valores que ostenta. No caso da última edição da São Paulo Fashion Week, a versatilidade na montagem dos looks transmitiu com força uma mensagem de moda consciente e sustentabilidade.
A sustentabilidade se tornou tão fundamental no século 21 que não é possível pensar em nada que não a inclua. Ela é transversal em todas as áreas da nossa vida, e não há opção de algo existir hoje sem que fomente, de alguma forma, a sustentabilidade. Nesse contexto, a moda sustentável deve ser a regra. No entanto, surge a pergunta: como promover uma marca que seja sustentável e, ao mesmo tempo, atraia o olhar do consumidor?
Esse desafio se torna ainda mais complexo em tempos de fast fashion, em que grandes marcas de moda lançam coleções semanais a preços acessíveis. Para qualquer grife de roupas no formato tradicional — que atua apenas por loja física — competir com essas plataformas online de vendas de moda, ou com marcas híbridas que têm loja física e online muito bem estruturada, é difícil. As lojas físicas, seja em shoppings, galerias ou ruas, enfrentam altos custos de manutenção e a necessidade de uma equipe especializada que torne o ambiente agradável — tanto no interior quanto na construção de uma vitrine atrativa.
Além dos custos operacionais, é necessário investir continuamente no treinamento da equipe para que vendedores, promotores e gerentes promovam os valores da marca. Outro desafio é a produção em si: é preciso oferecer produtos de qualidade, com bom acabamento e durabilidade. Isso sem mencionar os altos gastos com marketing, construção de mídias sociais, relações públicas e fortalecimento do branding.
Marcas que operam exclusivamente online não arcam com os custos operacionais das lojas físicas, nem com o pagamento e treinamento contínuo de funcionários do varejo. Isso lhes permite ter um fluxo maior de rentabilidade, especialmente quando se estabelecem em grandes portais de venda (Marketplaces) e fortalecem sua presença nas redes sociais e junto a influenciadores. Como resultado, conseguem lançar coleções com maior frequência, criando uma competição acirrada com as grifes de formato tradicional.
O grande trunfo das marcas exclusivamente virtuais é a agilidade na troca de coleções. O público que compra apenas pelo site ou por portais de venda espera sempre encontrar algo novo a cada visita. Essa lógica de renovação constante é o principal atrativo das lojas online, mas também incentiva um consumo exacerbado, o que não é sustentável.
Esses dilemas atuais do mercado de moda nos levam a questionar: como promover uma coleção de roupas seguindo o calendário — primavera/verão e outono/inverno? A resposta está em promover a versatilidade da coleção. O lojista que trabalha com uma grife no formato tradicional precisa mostrar que suas roupas podem ser usadas de diversas formas. Ele deve ensinar suas clientes a criar diferentes looks com as mesmas peças, demonstrando que não é necessário atualizar a coleção todo mês. Dessa forma, a consumidora pode usar as peças de formas variadas durante um período mais longo até a chegada das novidades da próxima coleção.
Peças versáteis estão ganhando destaque por permitirem várias combinações e se adaptarem a diferentes ocasiões. A praticidade também tem sido um ponto forte, com looks que facilitam o dia a dia e nos deixam prontas em pouco tempo. Além disso, a versatilidade é uma aliada da moda consciente, mostrando que é possível aproveitar melhor uma única peça sem a necessidade de um grande volume de roupas.
A moda consciente propõe alternativas mais sustentáveis ao modelo de fast fashion, caracterizado por ciclos rápidos de produção, consumo e descarte. Embora ofereça roupas mais baratas, não é incomum que o modelo de produção fast fashion se veja envolvido em polêmica, como trabalho análogo à escravidão em países como Bangladesh, onde os trabalhadores recebem salários insuficientes para sobreviver. Além das questões sociais, o impacto ambiental desse modelo é alarmante. A indústria da moda é a segunda maior poluidora global, consumindo grandes quantidades de água e energia, e gerando resíduos têxteis que contaminam solos e águas com pesticidas e químicos.
Como resposta, o movimento slow fashion, iniciado em Londres em 2004, defende uma produção mais ética, valorizando a mão de obra e produzindo em menor escala, geralmente sob demanda. Essa abordagem evita desperdícios e garante preços justos para todos os envolvidos. Há um equívoco em pensar que isso resulta em produtos mais caros; na verdade, é uma questão de equivalência: se no fast fashion uma pessoa compra cinco blusas de qualidade inferior, ela gastaria o valor dessas cinco em uma única blusa de qualidade, produzida por uma indústria que segue a linha slow fashion.
Mesmo sem condições para consumir apenas de marcas conscientes, é possível adotar práticas mais sustentáveis, como comprar em brechós e evitar o consumo excessivo. Pequenas mudanças, como reduzir a compra de roupas desnecessárias, ajudam a minimizar impactos e promovem um consumo mais responsável.
Em um cenário onde o desejo de economizar se choca com a vontade de consumir de maneira consciente, a Geração Z enfrenta um dilema difícil: como alinhar seus valores sustentáveis com as escolhas de consumo? O crescimento de marcas de fast fashion como a Shein, que atrai com preços baixos e novas coleções constantes, evidencia essa contradição. Enquanto 58% dos jovens dizem preferir marcas sustentáveis, a popularidade do fast fashion desafia essas intenções, impulsionada pela pressão das redes sociais e pelo desejo de seguir tendências com rapidez.
Para aproximar discurso e prática, o papel das marcas, dos influenciadores e das políticas públicas é crucial. Iniciativas como “deinfluencing” e “underconsumption core” emergem como movimentos que incentivam escolhas mais conscientes, enquanto a moda de segunda mão ganha espaço como alternativa sustentável. Para que essa mudança ocorra de forma significativa, o acesso ao consumo ético precisa ser facilitado, promovendo uma transição em que a Geração Z possa, de fato, unir seus valores ao comportamento de consumo.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum