CRÔNICA DO GOLPE

8 de janeiro, o dia em que nossos piores pesadelos quase se tornaram realidade

Crônica do dia em que o Brasil quase se tornou uma ditadura

Créditos: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Escrito en OPINIÃO el

Quando vi as primeiras imagens da tentativa de golpe de 8 de janeiro do ano passado, a sensação foi de déjà vu. Me veio à cabeça um misto de espanto e incredulidade semelhante ao 11 de setembro de 2001, quando liguei a TV, com minha filha de poucos meses no colo, para assistir e confirmar imagens da web do avião se lançando contra as Torres Gêmeas.

Como nos pesadelos, os acontecimentos pioram conforme nossos receios, um pequeno monstrinho se transforma num monstro gigantesco, e essa dinâmica de pesadelo se repetiu nos dois momentos.

Ao primeiro avião se espatifando contra um prédio seguiu-se outro, no que parecia uma coisa fora da realidade, cena de filme. Mesmo sentimento que tive no 8 de janeiro, à medida que os golpistas foram avançando para enfim tomarem a praça e invadirem os prédios dos 3 Poderes.

Aonde iria aquilo? Onde iria parar?

Como as coisas só pioravam, já me vinha à lembrança a tentativa frustrada de explodir um caminhão tanque carregado de combustível no aeroporto de Brasília dias antes.

O golpe estava acontecendo e ele estava sendo televisionado ao vivo.

Comecei a pensar que aos acontecimentos de Brasília se seguiriam tumultos em presídios pelo país, rebeliões das PMs dos estados bolsonaristas, intervenção das Forças Armadas, golpe.

Felizmente, as forças que apenas assistiram ao infame governo Bolsonaro sem prendê-lo resolveram agir, dirigidas pelo presidente Lula, seu ministro da Justiça Flávio Dino e, sabemos hoje, Janja Lula, que foi quem primeiro se manifestou contra a medida de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que daria o poder aos militares e seria como chamar os golpistas para dentro de casa, os vampiros para o banco de sangue.

Não podemos esquecer também que fator determinante para que o golpe não ocorresse foi a declaração do governo dos EUA contrária a ele. Nossas Forças Armadas seguem a dois patrões: o Brasil, que lhes paga o soldo, e os EUA, sua pátria de sonho, o país que gostariam de servir, já que têm um quase desprezo pelo povo brasileiro, a quem se julgam superiores.

Hoje, quando se completa um ano da tentativa de golpe, sabemos que ele fracassou em sua investida, mas os cabeças e comandantes continuam soltos, ainda impunes.

Muitos bagrinhos estão presos, condenados a penas severas, mas aqueles que todos sabemos quem são continuam impunes. Especialmente o chefe de todos, que pregou o golpe desde o primeiro dia de seu malfadado governo.

Temos a palavra do presidente Lula e do ministro chefe das investigações no STF Alexandre de Moraes de que todos os culpados serão punidos.

Mas, ainda outro dia, uma investigação dos militares no seu âmbito chegou à conclusão de que não houve crimes de militares, quando há vestígios e provas abundantes da ligação deles com a sujeira do golpe.

O que nos dá um pouco de alento é que o sentimento em favor da democracia e contrário ao golpe continua forte. Segundo o Datafolha de dezembro, 74% do povo prefere a democracia. Mas, para 15%, ditadura ou democracia lhes é indiferente. E 7% querem a ditadura. Talvez estimulados pela impunidade, especialmente de seu líder.

A rejeição aos golpistas é seguida pela necessidade de que sejam punidos.  Esse é o desejo da Nação.

Que ele se cumpra, colocando um a um dos golpistas, especialmente os mandantes, comandantes e patrocinadores, atrás das grades com uma pena dura que desestimule novas tentativas.

Mas, por enquanto, a sensação que temos é de que os cachorros continuam soltos no quintal, à espera de quem alguém lhes abra a porta e dê o "apito de cachorro".

 

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