Reportagem publicada pelo jornal americano The Washington Post afirma que jovens voltaram a comprar CD, mesmo sem ter onde tocá-los. Apesar de afirmar que as vendas não apontam relevância no resultado, de acordo com a Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA, na sigla em inglês), o repórter Zoe Glasser entrevistou vários jovens que voltaram a se interessar pelo formato.
São apontadas inúmeras razões para o fenômeno. Uma delas é ter uma lembrança física do artista. Outra, segundos os jovens, é colaborar com as vendagens dos seus ídolos. Por fim, a principal é que os CDs são mais baratos do que os discos de Vinil.
Os velhos bolachões, que tiveram uma volta triunfal após serem considerados banidos do mercado, têm – ao contrário dos CDs, - inúmeras outras razões para virarem joias de consumo. A principal delas é o som, que muitos especialistas garantem ser de muito melhor qualidade do que qualquer outra mídia, desde que tocados em um equipamento adequado.
Além disso, os discos de vinil primam por espaços grandes em suas capas, capazes de reproduzir muitas informações e artes que se eternizaram na história do mercado fonográfico.
A despeito desta ou daquela mídia, o mais importante mesmo é ouvir música, ter cada vez mais acesso a ela de maneira fiel e com boa qualidade. Um dia, ainda bem garoto, sonhei em poder ter todos os discos do mundo. Hoje, isso é praticamente possível, graças às plataformas por demanda, que ainda necessitam de regularização, sobretudo na questão dos direitos dos artistas.
Por outro lado, o que imagino faltar aos jovens de hoje com relação aos CDs, assim como os das décadas anteriores com os vinis, é a questão do pertencimento. Guardar um dinheirinho, ir até a loja, escolher bem e, finalmente, comprar um álbum, era um ritual inesquecível que acabava triunfalmente com os amigos em volta da vitrola discutindo as faixas, indo e voltando sem parar.
O fato de serem poucos, muito bem recomendados e escolhidos, comprados com sacrifício talvez nos levasse a dar um valor maior ao que ouvíamos. Isso tudo, sem contar o objeto físico que em muitos casos – como o meu, por exemplo – ficaram guardados por toda a vida. O “Abbey Road”, dos Beatles, primeiro LP que tive na vida, presente do meu pai em 1969, é o mesmo que está na prateleira de casa até hoje, 54 anos depois.
Da mesma maneira, percorro meus velhos LPs e CDs e consigo rever boa parte da história da minha vida, nostalgia que os arquivos digitais nos arrancaram definitivamente. O mesmo ocorre com os livros. E talvez por isso, pela questão táctil, o contato direto com o objeto, insistem muito mais em sobreviver ao digital do que as mídias da música.
É sempre bom também não esquecer que os arquivos digitais de música permitiram a chegada de novos gêneros, feitos a partir de colagens e fragmentos eletrônicos.
No final das contas, sem apelar para o velho e bom saudosismo, irrefutável mesmo é que sempre que se perde algo de um lado, se ganha por outro. E, assim como os meninos que voltaram a comprar CDs, neste nosso novo tempo temos um pouco de todos os outros tempos anteriores.