MANCHA VERDE

E daí se Gabriela Anelli era ou não da Mancha Verde? Ela tinha esse direito

Há um crime de um lado e a incompetência da Segurança Pública de outro; o resto é conversa de Tiago Leifert e seus pares

Gabriela Anelli.Créditos: Redes Sociais
Escrito en OPINIÃO el

Gabriela Anelli era ou não era da Mancha Verde, a torcida organizada do Palmeiras? A pergunta é tão inútil quanto a resposta. Que diferença isso faz? O primeiro a levantar a tal lebre foi o apresentador Tiago Leifert, que foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter nesta segunda-feira (10), após afirmar que, por conta disso, ela “assumiu o risco” de ser morta (?!).

Anelli, de apenas 23 anos, foi atingida por estilhaços de uma garrafa e morreu, dias depois, em consequência dos ferimentos que atingiram seu pescoço. Leifert se desculpou no mesmo dia. De acordo com ele, ela não estava no confronto, mas sim em outro portão do Allianz Parque.

De acordo com Tiago Leifert, estivesse a torcedora no mesmo local do confronto, talvez merecesse mesmo morrer, pois teria “assumido o risco”?. O canhestro raciocínio de Leifert foi criticado de maneira veemente pelo ex-jogador Casagrande:

“Tanto faz a diferença, Tiago. Se a Gabriela Anelli estava fora ou dentro, ela continua sendo a vítima. Ela morreu devido a uma briga de torcida. Você tem a cara de pau de vir defender esses torcedores do Flamengo?” afirmou Casão.

Fora de controle

A despeito da discussão entre os dois, uma coisa é certa. Não é de hoje que a violência nos estádios está fora de controle. Qualquer pai com um pouco de responsabilidade pensa várias vezes antes de levar seus filhos aos estádios. De acordo com os relatos até aqui, Gabriela estava na fila para entrar quando foi atingida pela garrafada.

Mesmo que estivesse no meio de seus pares da torcida Mancha Verde, é bom que se lembre sempre, ela estaria exercendo seu pleno direito de cidadania e organização. Torcidas organizadas têm o direito de existir e os torcedores de participarem dela, com ampla liberdade.

Posto isto, além do infeliz comentário de Tiago Leifert, há mais dois problemas sérios neste triste episódio, que são de extrema relevância. Um deles, é óbvio, é o crime cometido por Leonardo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, torcedor do Flamengo que veio do Rio de Janeiro para assistir à partida e acabou atirando a garrafa em Gabriela, pelo simples fato dela torcer para outro clube que não o dele.

A agressividade deste tipo de torcedor é claramente inspirada no fascismo. Quem não pensar como eu, deve ser eliminado. A covardia do criminoso ainda se inspira no comportamento de rebanho. Escondido no meio da multidão, considerou que o ato ficaria na conta da sua turba. Foi pego pelas câmeras de segurança, está preso e deverá ser julgado por homicídio doloso, quando o sujeito assume o risco pelo crime.

O outro problema, que parece ser tão irremediável quanto inadiável, é a falta de capacidade que as autoridades têm de dar uma solução a ele. Não há polícia, secretaria de Segurança ou qualquer autoridade que consiga resolver esta questão. O cidadão que se arvora a ir ao estádio torcer pelo seu time do coração corre risco iminente e pronto. Seja ele membro de torcida organizada ou não.

Na ponta, no final de mais este episódio trágico, fica uma família despedaçada com a perda de uma moça de 23 anos que teria longo caminho pela frente, interrompido pela estupidez generalizada.

Chega, né?