PL FAKE NEWS

A base do governo Lula estreia na Câmara e passa no teste com folga - por Mauro Lopes

O governo venceu a primeira batalha na Câmara por 238 votos a 192 e aprovou a urgência para a tramitação do PL das Fake News. Foi uma vitória relevante, sem ter sido de goleada. Houve diversas surpresas no desempenho dos jogadores. Dez conclusões possíveis

Votação PL Fake News na Câmara dos Deputados.Créditos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Escrito en OPINIÃO el

O jogo na Câmara dos Deputados finalmente começou a ser jogado, com a votação da urgência do PL das Fake News na noite desta terça-feira. O governo Lula passou no primeiro teste e tem o primeiro desenho de sua base parlamentar entre deputadas e deputados. A vitória por 238 votos a 192 não pode ser considerada uma goleada, mas foi um 2 a 0 bastante satisfatório, que deve se repetir, com um placar até mais ampliado, na semana que vem, quando for votado o mérito do projeto.

O resultado aponta também para uma aprovação folgada do arcabouço fiscal de Haddad-Tebet.

Veja o mapa da votação por partido. Voto não (em vermelho) é contra a urgência; voto sim (em verde), a favor:


Dez indicações que sobressaem:

1. A primeira e mais relevante: o governo tem sua base. Não é pouco isso, pois havia temor inclusive entre líderes governistas de que a base do governo não se concretizasse de maneira  viável. Com 40 votos de frente sobre a oposição vitaminada pelo apoio e a grana das plataformas num tema crucial para elas e para a democracia, foi uma vitória a ser celebrada. Com 238 votos, o governo não consegue aprovar projetos de lei complementar (são necessários 257) e menos ainda emendas constitucionais (308 é o número mínimo). Mas a base do governo tem potencial de ser ampliada, como o mapa indica.

2. A esquerda e centro esquerda atuaram unidas, coesas, sem defecções. PT, PSOL, PDT, PSB, PCdoB, PV e Rede votaram totalmente alinhados com o governo - apenas um deputado do PDT votou contra a urgência. Cinco deputados do PT não estiveram na sessão. 

3. Do outro lado do espectro político e ideológico, a extrema direita marchou unida também.  O PL teve 79 votos contra a urgência e apenas 6 a favor, com ausência de 14. Para quem esperava 30% da bancada do PL na base do governo, o resultado foi frustrante -e vários analistas políticos e articuladores do governo sonhavam com isso. Somando ausentes (14) e quem votou a favor da urgência (6), chega-se a 20% da bancada. Mas é uma conta torta, pois não pode-se considerar os ausentes como alinhados ao governo. Da mesma maneira que não se pode considerar os cinco ausentes do PT como contrários à urgência. O fato é que a defecção no PL representou pouco mais de 7% da bancada. Outros dois partidos compõem a base da extrema direita na Câmara, o Novo, e seus três deputados votaram contra a urgência, e o Podemos -dos 12 deputados do partido, 10 votaram e 9 foram contra a urgência. 

4. O Republicanos foi a grande surpresa e indica o sucesso da ação do ministro Alexandre Padilha na conquista deste partido para a base do governo. Dos 42 deputados do partido, 36 votaram. 28 deles a favor da urgência e apenas oito contrariamente. O Republicanos, que já foi o braço político da Igreja Universal, tem se afastado do núcleo mais fundamentalista do agrupamento e desde o início do ano tem substituído pastores e bispos extremistas dos diretórios partidários, numa ação combinada com Padilha. Ponto para o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.

5. Enquanto o Republicanos surpreende positivamente o governo, sem ter um ministro sequer, o União Brasil segue decepcionando. Dos 59 parlamentares da legenda, 12 não apareceram para votar. Nada menos que 28 votaram contra a urgência - foi a segunda bancada que mais votos deu contra o governo, atrás apenas do PL. Apenas 19 deputados votaram a favor.

6.Se a decepção com o União Brasil já era mais ou menos esperada, com o comportamento da bancada do partido desde o início do governo, houve uma importante surpresa negativa para o governo: o PSD. O partido do presidente do Senado tem três ministérios no governo Lula, mas não compareceu. Dos 42 deputados federais da bancada, 31 compareceram à votação e apenas metade deles (15) votaram a favor da urgência. 16 foram contra. 

7. E Arthur Lira? Ninguém duvida de sua força -e quase todos a temem. Nem Eduardo Cunha sonhou ter o poder dele. O presidente da Câmara tem sido, de fato, um aliado do governo. Mas o preço em cargos e dinheiro e poder tem sido alto. Lira conduziu a sessão como um aliado do governo. Mas o resultado da votação da bancada de seu partido demonstrou que o controle de Lira pode ser inferior ao que ele propagandeia. Dos 47 deputados do partido, nove faltaram à sessão. Apenas 17 votaram a favor da urgência; 21, contra.  

8. O PSDB piscou para o governo. Dos 14 deputados do partido, 11 votaram, e sete deles com o governo -inclusive Aécio Neves. 

9. O Avante de Janones está na base, ainda que dividido. Deu 4 votos para a urgência -dois votaram contra e um faltou. 

10. Aparentemente, o Cidadania, o Patriota, o PSC e o Solidariedade estão à espera de ofertas mais palpáveis do governo. O líder do Solidariedade, Paulinho da Força, tem reclamado abertamente da falta de afeto. É um  grupo de 18 parlamentares. Dez votaram contra a urgência, quatro a favor. A ver. 

A vitória para o regime de urgência deverá ser confirmada na próxima terça, na votação do projeto. Significará um golpe duro na ação da extrema direita e suas fake news nas redes. Importante para o governo Lula e a sociedade.