De Lisboa - Lula segue sendo um fenômeno de aceitação e popularidade por onde passa planeta afora, e seu carisma e informalidade afável permanecem figurando como fatores hipnotizadores para chefes de Estado e de governo de todo mundo, especialmente para as lideranças europeias, que desde os dois primeiros mandatos do petista veem nele uma bússola para "compreender" as demandas da América Latina.
Lula chegou a Portugal para sua primeira visita à Europa neste terceiro mandato e, em muitos aspectos, aliás, na maioria deles, nada mudou. Marcelo Rebelo de Sousa, seu homólogo local, rasgou-se em elogios ao petista, inclusive lembrando predicados do brasileiro apontados por seus antecessores Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva.
Com os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro (PL) e de sua selvageria anticivilizatória, não só a Europa, mas também o resto das nações, passaram a perceber que o traquejo e a postura cativante e amigável de Lula eram necessários para que o Brasil recuperasse seu protagonismo no cenário internacional. Não foi à toa o apoio explícito que recebeu durante o período eleitoral, quando líderes europeus só faltaram fazer o "L". Alguns outros até fizeram, literalmente.
Porém, Lula arranjou um sério embaraço sozinho. Tão sério que chamá-lo de embaraço, por si só, já é um eufemismo. Ao afirmar, durante sua visita à China, que a Ucrânia tinha tanta culpa pela guerra que a aflige quanto a Rússia, que a invadiu, Lula arranjou foi uma grave crise diplomática. Para piorar tudo, afirmou ainda que EUA e União Europeia fomentam o conflito colocando-se ao lado dos ucranianos e fornecendo armas a Kiev.
A fala caiu como uma bomba e rendeu respostas oficiais de todos os lados. O clima azedou nos dias que antecederam a partida do brasileiro para seu tour por Portugal e Espanha, países da União Europeia historicamente mais próximos de nós.
O que se notou neste primeiro dia de viagem de Estado, entretanto, é que Lula mantém-se forte. Nem as tais ameaças de "protestos massivos" da extrema direita portuguesa, que faz cosplay de bolsonarismo na franja ocidental da península, se concretizaram e o que se viu nas ruas de Lisboa foi o contrário, com apoiadores gritando "Lula, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!".
Só que não é possível seguir ignorando o mal-estar gerado pela declaração dada em Pequim sobre o maior conflito bélico em solo europeu desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Há uma clara torção de nariz em inúmeros setores do cenário político, mesmo de gente que nunca fez muitas objeções ao metalúrgico que se tornou um dos líderes mais influentes da Terra nos últimos 20 anos.
Agora, cabe aguardar se seu tom mais comedido e se suas "explicações" sobre a posição explicitada anteriormente em relação à Guerra da Ucrânia foram suficientes.
Os primeiros sinais são bons, mas nunca é demais lembrar que nas relações internacionais nem tudo é o que parece ser. Contudo, os ânimos se acalmaram após o primeiro-ministro António Costa dizer textualmente que “Lula é bem-vindo e que esta (Portugal) é sua casa”.