HÁ MENORES DE IDADE ALI?

Por que a CNN escondeu o rosto dos agentes do GSI que ajudaram no golpe

Emissora usou ‘malandragem’, mas isso não vai longe. Equipe do órgão só foi trocada semanas após a posse de Lula e todos os militares das imagens são integrantes do governo Bolsonaro

Créditos: CNN Brasil e Palácio do Planalto/Reprodução
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Quem viu o noticiário nesta quarta-feira (19) foi “surpreendido” com um “furo” da CNN Brasil: as imagens “exclusivas” de agentes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) colaborando com terroristas bolsonaristas durante a invasão do Palácio do Planalto na tarde de 8 de janeiro deste ano. Nelas aparecem também o, àquela altura, novo ministro-chefe do órgão, o general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, que tinha assumido o cargo uma semana antes.

Há algumas coisas, antes de tudo, que precisam ser explicadas. Aquelas imagens são do circuito de câmeras de segurança do Planalto, portanto, câmeras do governo, e todo o material já estava há meses com o Supremo Tribunal Federal (STF), a instância máxima do Judiciário brasileiro, que ficou encarregada dos inquéritos dos terroristas de extrema direita. Nada ali estava “escondido”. Nada ali era “novidade”.

As imagens foram divulgadas pela CNN Brasil no exato momento em que parlamentares de extrema direita, na Câmara e no Senado, pressionam por um CPI cínica para “apurar os responsáveis pelo 8 de janeiro”, como se o planeta Terra fosse cego e surdo e não tivesse testemunhado o que a horda de celerados fomentada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez. Outro ponto é o fato de a divulgação coincidentemente ter ocorrido poucas horas antes da participação do ministro-chefe do GSI, o general G. Dias, numa sessão da Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre a trágica data.

É absolutamente desnecessário ficar tecendo críticas ou dando explicações sobre os vieses ideológico e editorial da CNN Brasil, que tem entre seus colaboradores figuras como um admirador do astrólogo autodenominado filósofo Olavo de Carvalho, baluarte da mais fétida ala ultrarreacionária da política brasileira, além de a rede ter contratado Janaína Paschoal para ser sua comentarista. Só que a CNN Brasil passou um recibo danado ao borrar os rostos apenas dos militares colaboracionistas do GSI, enquanto G. Dias e os terroristas ficaram com suas caras estampadas na matéria da emissora.

Não se trata de boato ou informação truncada. É um fato público, amplamente divulgado e oficial, visto que tudo consta nos inquéritos do STF, que o corpo de agentes do GSI não foi trocado na passagem do governo Bolsonaro para o governo Lula. Na vida real, a máquina pública composta por centenas de milhares de mulheres e homens em cargos de “confiança” não é simplesmente resetada e, do dia para noite, todos os seus integrantes são trocados. No GSI isso é pior ainda, pois são militares e aqueles outros militares que os substituirão precisam ter formação e carreiras específicas para as funções que exercerão. Para se ter uma ideia, um mês após os ataques de 8 de janeiro, a maior parte do corpo de funcionários do GSI ainda era da gestão do general Augusto Heleno, portanto, oriunda do governo Bolsonaro.

O GSI, como bem definiu o servidor da Polícia Federal lotado no Palácio do Planalto que vem falando com exclusividade à Fórum sobre essa crise golpista, desde 12 de dezembro do ano passado, é “onde foi gestado o golpe”. Foi lá que tudo foi arquitetado. Aquelas imagens apenas mostram o óbvio: os agentes do GSI permitem que os arruaceiros façam o que bem entenderem, e eles agem assim porque são bolsonaristas e estavam metidos naquilo até a medula. Ponto. Mas por que borrar seus rostos?

Como bem esclareceu o policial federal que reportou todo o esquema do GSI na tentativa de golpe de Estado, desde o fim de 2022, aqueles homens eram figuras bem conhecidas e integrantes da equipe de inteligência do general Augusto Heleno, e obviamente seriam facilmente identificados se tivessem suas faces mostradas no ar. Muitos dos agentes do GSI já apareceram em matéria do período pós-eleição de 2022, sobretudo frequentando o acampamento golpista do QG do Exército na capital federal.

Até mesmo o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, estranhou a atitude da emissora de omitir quem eram aqueles agentes militares colaborando com golpistas. “Existiam menores nas imagens? Por que rostos borrados? Quem vazou? Com qual interesse?”, questionou o ex-interventor federal que ocupou o lugar de Ibaneis Rocha durante seu afastamento, determinado pelo STF.

G. Dias, que foi demitido há poucos minutos, percebeu bem no meio da tempestade que não tinha comando em relação a seus “subordinados”, que a bem da verdade eram mesmo subordinados aos interesses da gestão anterior. Rodando como peru nos corredores do Palácio do Planalto, ele não sabia o que fazer ao notar que estava entre traidores.

Agora, seria interessante e oportuno que a CNN, praticando um bom jornalismo, mostrasse os rostos dos militares que estavam cometendo um crime, afinal, ajudar terroristas a destruírem um palácio que eles próprio (militares) deveriam proteger, é crime. Normalmente, quando criminosos são identificados em outras circunstâncias, a CNN coloca seus rostos e, eventualmente, até mesmo suas identidades. Esses precisam ser identificados da mesma forma.