Nos dias atuais, grassam discursos que recorrem a termos modernos e modernosos que remetem a gestões – de empresas, do estado (lato senso), de pessoas – que sejam inclusivas, sustentáveis, socialmente responsáveis e outros adjetivos que buscam adornar o discurso. Discursos que sempre mencionam e dizem se preocupar com estruturas inclusivas para as pessoas com deficiência.
Em quase sua totalidade as falas advêm de pessoas sem deficiência que pensam modelos para a sua realidade, visto que a sociedade continua a ser pensada e construída para elas, a despeito de toda evolução legislativa que já alcançamos.
Não há política pública para a inclusão de pessoas com deficiência, por exemplo, sem a sua (delas, nossa) efetiva participação através das entidades que nos representam, como determina a Constituição brasileira que internalizou ao nível de emenda constitucional, a Convenção Internacional da ONU sobre as Pessoas com Deficiência.
As gestões, no geral, são deficientes. Não as pessoas.
Isso gera Cidades, Estados, um País deficiente. Não as pessoas.
Empresas que não escutam e dão lugar de fala e decisão aos seus funcionários, parceiros, consumidores, à comunidade de pessoas com deficiência, são igualmente deficientes.
A falha grotesca que há, geralmente, nessa estrutura social que se acha no direito de pensar, propor e executar tudo para as pessoas com deficiência, advém do capacitismo estrutural que há nas sociedades.
O registro, entretanto, se faz necessário: deficientes são as estruturas, espaços, as políticas e seus gestores. Não as pessoas.
Dirigentes, públicos e privados, que se acham modernos e repaginados ao decorar os termos da moda, mas olvidam ao básico da nossa necessária representatividade e participação ativa, são deficientes. Não as pessoas.
As poucas exceções, a confirmar a regra, têm que ser destacadas. Programas como o Projeto Praia Acessível (para citar apenas um ótimo exemplo), fruto de uma parceria entre Prefeitura de Fortaleza e Governo do Ceará, que chega este ano a dez mil atendimentos, precisa ser elogiado.
A regra capacitista a ocorrer em todo o País, entretanto, deve ser igualmente exposta.
Muito em breve não irão sobreviver aqui no Brasil as gestões que não se adequaram via D.E.I. (termo em inglês que se refere a diversidade, equidade e inclusão), E.S.G. (também em inglês, se refere à governança social e ambiental) e outros parâmetros que impõem cada vez mais a responsabilidade social, ambiental e humana às gestões. Será difícil sobreviver também no capital aberto, cujo humor dos investidores é cada vez mais guiado por valores sociais, humanos e ambientais, ou mesmo se habilitar a receber loas pelo cumprimento do Protocolo 2030 da ONU e de demais organismos internacionais. Será cada vez mais difícil obter a atenção de fundos e linhas bilionários (lembrando que os 100 maiores fundos de investimentos no mundo com base em E.S.G reúnem cerca de meio trilhão de dólares, segundo dados atuais). Isso será implacável se as gestões – lato senso – também não nos ouvirem e nos derem vez e voz.
Permanecerão cegas, mudas, aleijadas, doidas, surdas, autistas, para exemplificar aqui – com pesar - termos capacitistas e ofensivos que alguns ainda costumam nos dirigir. Elas assim permanecerão. Mas não nós, as pessoas.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum