Não há em absoluto nenhuma questão moral nesta análise, muito ao contrário. Anitta é uma grande artista e os apelos sensuais e sexuais que faz não a desmerecem em momento algum, muito ao contrário. Muito menos o fato de cantar predominantemente o funk das favelas cariocas, gênero que ganha em proporções geométricas os corações e mentes dos brasileiros e do mundo.
Ela foi indicada na disputa do Grammy 2023 como Artista Revelação, o que por si só já é uma das maiores vitórias que uma cantora brasileira poderia almejar. Essa conversa é boa, mas ganhar é melhor ainda. Havia, no entanto, no caminho de Anitta, uma moça de 23 anos chamada Samara Joy.
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Samara é uma cantora de jazz negra do Bronx, distrito intercultural de Nova Iorque, berço do rap e do hip hop, onde são faladas mais de 75 línguas diferentes. Ela vem de uma família de músicos, fundadores do grupo de gospel The Savettes, da Philadelphia.
Improváveis
Ela estava na lista dos “improváveis” para o prêmio da revista “Billboard”, mas acabou vencendo Anitta, tida como uma das favoritas, e que poderia ser a primeira brasileira a conquistar o prêmio na categoria.
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Outros oito artistas ou bandas além de Samara e Anitta concorreram na categoria: Måneskin, Omar Apollo, Domi & JD Beck, Latto, Muni Long, Tobe Nwigwe, Molly Tuttle e Wet Leg.
Samara levou e com toda a justiça. Sua voz nos remete às grandes cantoras de jazz americanas, sem nenhum medo de exagerar. Canta como poucas, faz sketches (improvisos com a voz), trabalha a dinâmica de maneira pra lá de acertada, tem um timbre de voz lindo e é muito afinada, como alerta a professora de canto Rosa Estevez.
Como se não bastasse, além de uma banda excelente, ela tem um repertório de muito bom gosto, escolhido a dedo, que mistura clássicos da canção americana como “Misty”, de Errol Garner e Johnny Burke, com canções mais modernas, que ela transforma a seu jeito, de maneira fabulosa. Este é o caso, por exemplo de “Someone Like You”, parceria da cantora britânica Adele com Daniel Wilson.
Antes mesmo do lançar seu primeiro álbum, a diretora de cinema Regina King descreveu Joy como se “Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald vivessem em seu corpo”.
Fãs de Anitta ficaram aborrecidos com a derrota e atacaram a cantora nas redes sociais. Não há, obviamente, o menor cabimento para isso. Com todos os méritos de Anitta, são coisas incomparáveis.
Anitta é uma artista de várias frentes, faz performances, clipes, dança, enfim, é fruto do que há de mais elaborado nos dias de hoje no show business.
Samara Joy é cantora. E que cantora! Ela devolve a música ao seu local de origem. Para ouvi-la, basta o som. Sua voz e ponto.
Ouça abaixo: