IGUALDADE

Um Carnaval para todas – Por Monica Benicio

Esse Carnaval é o primeiro onde retomamos a esperança com nosso país, com nosso futuro. E que seja, portanto, o último onde o machismo e a misoginia ainda circulem entre nós

Marielle Franco já deu o recado: "Não é não!".Créditos: Monica Benicio
Escrito en OPINIÃO el

Chegou o Carnaval 2023. O primeiro sem restrições desde o início da pandemia. O primeiro desde a derrota da extrema direita nas urnas. E, se o Carnaval já é, por si só, a festa das liberdades e do afeto, este ano a tendência é de que isso se potencialize muito mais. É tempo de retomada, inclusive da alegria.

Mas, é sempre importante lembrar, Carnaval é política. É uma festa feita por muitas e muitas mãos. Pessoas que fazem desse momento o seu ganha-pão, a sua fonte de renda. Além de tantas outras que aproveitam a folia para mostrar sua opinião sobre o país, sobre a cidade onde vivem, sobre as nossas dores e delícias enquanto brasileiras e brasileiros. E, se é político, o Carnaval não pode menosprezar ou ignorar as mulheres.

Aqui no Rio, onde eu vivo, ainda vemos muitos blocos sem banheiros químicos adequados e em quantidades suficientes. Ainda percebemos uma total falta de estrutura para crianças. E, como sabemos, impedir a circulação de criança é também impedir a presença das/dos responsáveis, principalmente mães.

Ainda constatamos, aqui no Rio, a falta de avisos e de orientações sobre como se prevenir e denunciar assédios. E isso se repete, infelizmente, pelo Brasil inteiro. O pouco caso com a vida, a segurança e o bem-estar das mulheres não é uma exclusividade carioca.

A rua é pública, mas o nosso corpo, não. A festa é coletiva, mas a nossa vida é só nossa, e a vivemos como bem entendermos. É tão simples, mas todo ano vemos como o machismo ainda está tão enraizado, com centenas de relatos de mulheres (e também de pessoas LGBTs) que contam, nas redes sociais, sobre a insistente dificuldade de poder ir e vir plenamente, aproveitando o melhor dessa época sem medo.  

Mas, importante dizer, essa insegurança e falta de estrutura não se dão apenas no Carnaval. Pelo contrário, o descaso com as mulheres se dá o ano inteiro, de forma quase generalizada.

Nessa época, onde a liberdade e a diversidade tentam se existir através da alegria, só fica mais evidente. Mas a falta de apoio, de solidariedade e de políticas públicas voltadas para o público feminino se repete por todo o ano.

Precisamos de espaços seguros, onde todas as mulheres estejam livres de assédio. Onde as diversidades sexuais e as dissidências de gênero possam ser quem são, possam viver livremente seus afetos e sua alegria. Esse Carnaval é o primeiro onde retomamos a esperança com nosso país, com nosso futuro. E que seja, portanto, o último onde o machismo e a misoginia ainda circulem entre nós. Que tenhamos um Carnaval seguro para todas as pessoas. Para todas.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.