FÁBIO SANTOS

Da fama à reciclagem: a surpreendente jornada de Regina Duarte

Ao olharmos para essa nova faceta de Regina Duarte, é inevitável pensar que sua participação na reciclagem e na manutenção da limpeza da cidade é mais relevante e valiosa do que seu último cargo na pasta da Cultura

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Regina Duarte, figura conhecida no cenário artístico brasileiro, assumiu a pasta da Cultura no governo Bolsonaro com promessas de revitalizar o setor. No entanto, sua gestão foi marcada por momentos esdrúxulos, como a curiosa menção ao "pum do palhaço", que ressoaram de forma estranha no âmbito da gestão cultural, sugerindo uma falta de alinhamento com a seriedade que o cargo demanda. Sua passagem pela pasta, lamentavelmente, foi marcada por uma notável inoperância, deixando um vazio no campo da promoção e incentivo à cultura.

A surpreendente imagem que circula nas redes de Regina Duarte catando lixo nas ruas, enquanto inicialmente poderia causar estranheza, ressalta a dignidade e a relevância do ofício da reciclagem. Milhares de pessoas dependem dessa atividade informal para garantir sua subsistência, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e a limpeza das cidades. A trajetória de Regina Duarte nos lembra o quão surpreendente e imprevisível a vida pode ser. Às vezes, os caminhos que percorremos nos levam a lugares completamente inesperados. A transição de uma carreira artística consolidada, passando de forma trágica pela política, até a atividade de reciclagem revela a capacidade de reinvenção e adaptabilidade que todos possuímos, mesmo diante das reviravoltas mais inesperadas que a vida pode nos causar. Em suas próprias palavras: “nossa, ela saiu da Globo e agora cata papelão”, disse Regina Duarte rindo.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), o Brasil ainda enfrenta desafios significativos em relação à gestão de resíduos sólidos. Em 2022, o país produziu cerca de 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, e apenas 3% desse total foi efetivamente reciclado. Ao olharmos para essa nova faceta de Regina Duarte, é inevitável pensar que sua participação na reciclagem e na manutenção da limpeza da cidade é mais relevante e valiosa do que seu último cargo na pasta da Cultura. Enquanto a cidade agradece por seu esforço nesse sentido, a arte parece não ter sido igualmente beneficiada.

Diante de todo fracasso à frente da secretaria de Cultura, a nova incursão da Regina é contra o universo das artes plásticas. A ex-atriz tem se dedicado a coletar materiais recicláveis nas ruas: bitucas de cigarro, folhas secas, caixas de papelão, cascas de árvores, que se tornarão parte integrante de sua exposição. Esse hobby peculiar revela uma tentativa de Regina Duarte de se reinventar artisticamente após seu afastamento da televisão brasileira e seu fracasso na política. No entanto, é essencial compreender que gestos simbólicos não satisfazem as exigências da arte. A exposição "A Natureza e eu, novas descobertas" de Regina Duarte, que conta com folhas secas enquadradas, deixa evidente a ausência de talento e sensibilidade para as artes plásticas. As obras expostas parecem mais um conjunto de trabalhos escolares infantis desorganizados, distantes de uma expressão artística autêntica. Infelizmente, falta à ex-atriz a verdadeira vocação necessária para se destacar nesse campo.

Ao contrário, ao observarmos Vik Muniz, artista plástico brasileiro aclamado internacionalmente, conhecido por seu trabalho inovador e criativo com materiais diversos, incluindo resíduos e objetos do cotidiano, somos imersos em um universo de criatividade e maestria técnica que transcende a mera reciclagem criando obras de arte que cativam. Vik utiliza esses materiais para criar representações artísticas que desafiam a percepção de forma magistral e provocam reflexão sobre a natureza da arte e da realidade. Na série "Pictures of Garbage" (2008), Muniz criou imagens icônicas, como a Mona Lisa e O Grito, utilizando resíduos encontrados em um aterro sanitário. As obras resultantes foram fotografadas, criando uma interessante interseção entre arte e reciclagem. Sua destreza e sensibilidade artística ilustram a importância de reconhecer e valorizar talentos verdadeiros na cena artística contemporânea.

Por fim, a arte não é uma brincadeira nem um passatempo para os desprovidos de talento. A falta de respeito pela arte e pelos artistas dedicados, que dedicam suas vidas ao aprimoramento de suas habilidades, equivale a uma desvalorização da cultura e da expressão humana. Ao invés de nos fixarmos em figuras como Regina Duarte, devemos direcionar nossa atenção para aqueles que autenticamente enriquecem o mundo com sua arte e criatividade.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum