RAIMUNDO BONFIM

Neoliberalismo e o apagão em São Paulo

Apagão em São Paulo.Créditos: Foto: Yuri Murakami /Fotoarena/Folhapress
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O apagão que assolou São Paulo, após fortes chuvas no início do mês, é um lembrete vívido dos desafios enfrentados em setores essenciais, como o fornecimento de energia elétrica. É um exemplo contundente do impacto negativo que a privatização de empresas públicas têm causado na vida das pessoas. O processo de privatização é defendido pelos neoliberais com o discurso de ampliar investimentos e melhorar a eficiência dos serviços prestados. 

A crise energética, que causou o apagão em São Paulo, demonstra as fragilidades de um sistema em que a prioridade é o lucro e não as necessidades do povo. A promessa de alcançar o acesso universal e a qualidade dos serviços não se sustenta, diante do aumento do valor das tarifas e da péssima prestação dos serviços, pois a regra do mercado é atacar direitos, demitir pessoal,  reduzir investimentos em infraestrutura e manutenção em busca do retorno financeiro imediato.

No contexto do apagão em São Paulo, a falta de investimento e manutenção adequada é consequência direta da priorização do lucro em detrimento da segurança e eficiência do serviço elétrico. A busca acelerada por privatizações no estado, sem um amplo debate público e sem consulta à população, tem sido a marca principal do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas.  

A Enel, empresa que comprou o setor de energia de São Paulo quando este foi privatizado, reduziu drasticamente o número de funcionários, em 36% desde a aquisição da antiga estatal Eletropaulo em 2018, apesar do aumento no número de clientes, das tarifas e consequentemente do lucro. A busca do lucro fácil e rápido compromete a qualidade do serviço oferecido pela empresa, que ficou comprometida pela falta de pessoal, tecnologia e  qualificação e capacitado para lidar com a demanda crescente de clientes e problemas decorrentes de eventos climáticos. Tudo isso resulta em problemas de manutenção, atrasos no atendimento e até mesmo na redução da qualidade do serviço fornecido.

Neste apagão, mais de 4 milhões de paulistanos ficaram sem energia, uma parte por até 6 dias, evidenciando a extensão dos danos e os transtornos  enfrentados pela população e pelos setores comerciais afetados. O descontentamento dos moradores afetados levou a protestos, como o ocorrido na zona sul, onde manifestantes bloquearam a avenida Giovanni Gronchi, na região do Morumbi. Ainda nas últimas semanas,  a Enel admitiu que mais de 80 mil casas estavam sem energia.

Essa crise energética impactou diretamente a economia local. A Associação Comercial de São Paulo estima que o comércio tenha sofrido perdas na ordem de R$126 milhões, considerando o volume diário de transações na cidade e na região metropolitana. A Enel precisa ser condenada a reparar os danos causados e se preparar para tomar medidas preventivas, como aumento de funcionários capazes de atender a população em situação como a que ocorreu em São Paulo. 

Enquanto a população estava no escuro, o prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas estavam curtindo todas as regalias que nossa elite gosta, em camarote da Fórmula 1. E a solução que o prefeito propõe é cobrar taxa da população para enterrar a fiação elétrica. É o Nunestaxa!

A ideia de que a privatização resultaria em maior eficiência e melhorias no serviço não se traduz na realidade. É o que irá ocorrer caso a Sabesp, o Metrô e a CPTM sejam privatizados.

O apagão no fornecimento de energia pela Enel expõe as consequências de um serviço essencial, que não pode ficar à mercê de interesses financeiros. A priorização do lucro muitas vezes negligencia investimentos adequados em infraestrutura, manutenção e resiliência do sistema. O resultado é a vulnerabilidade exposta durante eventos climáticos extremos, como o temporal que causou esse apagão.

É crucial a mobilização e unidade do movimento popular e sindical para defender empresas estatais, reconhecendo a importância delas na manutenção de serviços essenciais voltados para o benefício da maioria da população. Neste sentido saudamos a realização do Plebiscito Popular contra as privatizações, no qual aproximadamente 900 mil pessoas votaram contra as privatizações da Sabesp, Metrô e CPTM. A CMP participou dessa importante iniciativa de luta e pressão política. 

Na quinta-feira, 16, os movimentos populares e sociais lotaram a Assembleia Legislativa de São Paulo na audiência para debater o projeto de lei de privatização da Sabesp, local onde está sendo realizada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os motivos e responsáveis pelo apagão. O mais curioso é que os parlamentares ficaram sem energia durante uma das sessões.

Essa jornada não é apenas uma mobilização por direitos e serviços de qualidade e baratos, mas também pela preservação da soberania nacional e pelo interesse do povo, em oposição aos interesses dos capitalistas que querem se apropriar de recursos públicos e naturais. 

A resistência contra a privatização das empresas públicas é, portanto, a defesa e  proteção dos serviços essenciais e do patrimônio coletivo. Pela reestatização do setor de energia e contra as privatizações de todas as empresas públicas de São Paulo.

Água e energia não são mercadorias!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum