Ao longo de 75 anos, o conflito entre Israel e Palestina tem sido marcado por motivações profundas, entrelaçadas por questões históricas, religiosas e econômicas.
A disputa pela terra sagrada, permeada por séculos de tensões e reivindicações, estabeleceu um terreno fértil para um embate que transcende fronteiras geográficas. Recentemente, o grupo terrorista Hamas perpetrara um ataque sem precedentes contra Israel, ceifando vidas inocentes, incluindo mulheres, crianças e idosos, numa demonstração chocante de violência indiscriminada.
Filosoficamente é crucial distinguir vingança de justiça. Enquanto a primeira busca a satisfação momentânea de um agravo, a segunda almeja a restauração do equilíbrio social e a promoção do bem comum. A Lei de Talião, originada em tempos antigos, é uma concepção que preconizava uma retribuição proporcional ao mal infligido. No entanto, ela não passa de uma concepção de justiça rudimentar e cruel, uma vez que perpetua um ciclo de violência e não aborda as raízes dos conflitos. É necessário ressaltar que a Lei de Talião foi progressivamente abolida, reconhecendo-se sua inadequação aos princípios contemporâneos de justiça. Seu cerne punitivo e desumano não encontra respaldo nas sociedades modernas, que buscam soluções humanizadas e inclusivas para a resolução de conflitos. No entanto, é alarmante observar como, em meio à complexidade do conflito entre Israel e Palestina, surge uma resposta que ecoa os preceitos primitivos da Lei de Talião.
A resposta de Israel ao ataque do Hamas transcende a mera defesa contra um grupo terrorista. A desproporcionalidade dos ataques, que atingem sinagogas, escolas e hospitais em territórios palestinos, sinaliza um desvio da busca pela justiça em prol de uma estratégia de impacto generalizado. Este padrão de violência indiscriminada sugere um direcionamento não apenas contra o Hamas, mas contra o povo palestino como um todo, culminando em um ciclo de sofrimento e desespero. É crucial reconhecer que, em meio ao caos, Israel pode estar explorando a situação para avançar em seu plano de soberania e dominação na região. A instrumentalização das crenças religiosas como justificativa para a violência é uma afronta à verdadeira essência da fé e uma distorção da busca pela paz e convivência pacífica.
A historicidade e religiosidade que permeiam as relações entre Israel e Palestina são intrínsecas à compreensão desse conflito. Ambas as nações têm laços ancestrais profundos com a região, considerada sagrada para o Judaísmo e Islamismo. Para os judeus, é o local do Primeiro e Segundo Templos, enquanto para os muçulmanos, é o terceiro local mais sagrado, abrigando a Mesquita de Al-Aqsa. No entanto, na perspectiva sionista, que almeja o retorno dos judeus à Terra Prometida, a soberania sobre toda a Palestina histórica é vista como uma forma de cumprir uma promessa divina. A ampliação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, onde não há o Hamas, é uma expressão concreta desses interesses. Sob o pretexto de garantir a segurança nacional e a integridade territorial, Israel expande sua presença em áreas disputadas, o que gera tensões crescentes. Essa estratégia é percebida pelos palestinos como uma usurpação de território e uma afronta à sua própria identidade religiosa e cultural.
Portanto, os interesses religiosos de Israel na Palestina desempenham um papel crucial na dinâmica do conflito e na resposta desproporcional. Enquanto para alguns é uma busca pela realização de uma promessa divina, para outros é um dilema complexo de direitos e identidade. Compreender essas motivações é essencial para buscar soluções que respeitem as crenças e aspirações de todas as partes envolvidas. Por fim, é essencial compreender que a vingança, por si só, não é justiça. A resposta de Israel ao ataque do Hamas, permeada por uma sombra de desproporcionalidade, é uma trágica manifestação dessa distinção. A Lei de Talião, uma vez desacreditada e abolida, não pode encontrar ressonância em um mundo que aspira a valores mais elevados de humanidade e coexistência. O massacre promovido por interesses religiosos clama por uma reflexão profunda sobre os rumos do conflito e a urgência de um diálogo baseado na empatia e na busca genuína pela paz.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.