Nunca as nossas Forças Armadas foram tão usadas eleitoralmente como nos desfiles "cívico-militares" desse Sete de Setembro. A máquina pública, nas celebrações do Bicentenário da Independência, está posta a serviço da narrativa bolsonarista. De uma História feita por grandes "heróis", "mitos" vencedores. Uma História sem povo.
O tom devia ser outro: nos 200 anos da Independência do Brasil, cabe indagar o que foi esse fato histórico e o que é a nossa Nação.
"Quem declara independência e não abole a escravidão, vai ver não é livre nada, apenas mudou de patrão!", sentenciou Fernando Brant.
O Brasil, em 1822, passou a ser uma Monarquia constitucional, mas com o imperador com um super poder "moderador".
No país nascente não havia justiça social: continuou a escravização dos africanos e seus descendentes, a dizimação dos nativos, a concentração da propriedade pelos patriarcas "donos de gado e gente".
Continuou a dependência externa: passamos a ser submissos economicamente à Inglaterra, "a senhora dos mares".
Hoje, no Bicentenário da Independência, é preciso indagar; o que é emancipação para 33 milhões de famintos, 10 milhões de desempregados, para milhares de sem teto e sem-terra?
O que é independência para os que sofrem todo tipo de preconceito - de classe, de raça, de orientação sexual? O que é Pátria para a juventude nem-nem: nem escola, nem trabalho?
O Bicentenário do Brasil Nação nos convoca a dar um grito de indignação contra a desigualdade e a opressão. E um sussurro de ternura: "vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor", cantou Caetano. Somos afrodescendentes, eurotupis, judárabes - Povo da Raça da Brasil! Que luta com gana, garra e sonho, sempre. Somos maioria de Marias, Marielles, malês. Pedros pedreiros, Josés que plantam café.
Somos a maior biodiversidade do planeta, e vamos impedir a devastação em curso, que agride nossos biomas nesse governo que mata r desmata.
Somos não o coração morto do antigo Imperador, mas corações pulsantes e solidários. Corações que, em meio às trevas, repetem a esperança cantada há meio século pelo Clube da Esquina, do qual somos todos sócios: "um grande país eu espero do fundo da noite chegar!".
Somos Cazuza, repetindo a jura: "grande pátria desimportante, em nenhum instante eu vou te trair!"
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.