Bolsonaro se transformou em chacota internacional pelo seu legado de destruição ambiental, mas merecia mais. Na polêmica reunião ministerial de abril de 2020, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, hoje acusado de organização criminosa ligada à extração ilegal de madeira, sugeriu o que veio a ser a tônica da política ambiental do governo Bolsonaro: aproveitar a preocupação da mídia com a pandemia para “ir passando a boiada”.
O latifundiário Bedin, conhecido como o “pai da Soja”, de Sorriso no Mato Grosso, afirmou apoiar Bolsonaro “até debaixo d’água”. Bedin é parte de uma longa lista de mega empresários ligados ao agronegócio que apoiou Bolsonaro em 2018 e luta pela sua reeleição. O custo dessa aliança de morte é duramente pago pela natureza e por todas e todos nós, com a elevação do preço dos alimentos e as vidas tombadas no campo, onde os conflitos territoriais se avolumam.
A “boiada” ceifou as vidas de Bruno Pereira e Dom Phillips, renegou à fome as crianças Yanomami e deixou um legado de fome e destruição. Durante a pandemia em 2021, os assassinatos no campo subiram 75%, segundo a Comissão Pastoral da Terra. Via de regra, os assassinos permanecem impunes.
A Amazônia, no coração do planeta, agoniza. A cada ano de governo Bolsonaro, o IPAM registrou um novo recorde de desmatamento na região. É uma conclusão científica que a destruição do bioma já está em um ponto de não retorno.
Além do desmatamento, os focos de queimadas e extensão de área devastada por incêndios também batem recordes. Mesmo com a infame fake news de Bolsonaro de que a Amazônia “não pega fogo por ser úmida”, o Inpe registrou, neste ano, um aumento de 53% da área queimada na região e de novos 14% de focos de queimadas em relação ao ano passado, que também já era recordista.
E a causa vem sendo apontada por especialistas e ambientalistas: desmonte, arrocho orçamentário e tentativa de desmoralização dos órgãos fiscalizadores e políticas públicas de proteção ambiental. Um dos primeiros decretos do governo foi a transferência do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura. Logo após, o desmonte seguiu com a desestruturação do Ibama e do ICMbio, com substituição de técnicos especializados por gente de confiança do governo e ligada aos interesses do agronegócio, da mineração, de garimpeiros e madeireiros. Não é uma coincidência que o Observatório do Clima tenha noticiado uma queda de 81% em 2021 na apreensão de equipamentos utilizados em atividades ilegais do garimpo na Amazônia.
O desmonte acompanha a chuva de fake news. Bolsonaro repercute mentiras como a da existência de uma “indústria da multa no campo”, de que os povos ribeirinhos são os responsáveis pelos incêndios da Amazônia e de que o Ibama comete “abusos” na fiscalização. Por trás, está o compromisso com a impunidade dos crimes ambientais. Entre janeiro de 2019 e março de 2022, 98% dos alertas de desmatamento emitidos não foram atendidos pelo governo federal. Em 2019, foram criados núcleos de conciliação para reduzir e flexibilizar ainda mais as multas ambientais.
Enquanto tira a proteção, o governo amplia as possibilidades de avanço do agro. No início do governo, foi revogado o decreto que coloca limites para a expansão da produção de cana-de-açúcar em áreas de floresta nativa. Em 2022, foi decretado o fim da proteção de todas as cavernas em território nacional e legalizado o desmatamento de margens de rios em zonas urbanas, o que causará mais ocorrências de enchentes e inundações nas cidades. Para piorar, o governo propôs ainda projeto de lei (PL 191/20) que autoriza mineração em terras indígenas e outro (PL 6.299/2002) que intensifica a liberação e comercialização de agrotóxicos.
A gestão de Bolsonaro é marcada pelo ecocídio, o que confirma a urgência de todas e todos que defendem a justiça climática, a retomada democrática e a vida a derrotar Bolsonaro nas ruas e lutar para fazer isso ainda no primeiro turno.
Estas eleições são as mais importantes da nossa geração. Há muito em jogo. A urgência da questão ambiental nos exige coragem.