Não, não é otimismo de alguns setores de oposição, tampouco pessimismo de parte de seus correligionários. A campanha de Jair Bolsonaro pela reeleição ao Palácio do Planalto chegou ao limite e, ao que tudo indica, não terá mais força para subir na tábua das marés.
É óbvio e dispensável dizer que tudo (ou quase tudo) pode acontecer numa eleição brasileira, mas a divulgação da nova pesquisa Ipec (antigo Ibope), na noite desta segunda-feira (29), confirmou com clareza que o esforço hercúleo do atual presidente e de seu entourage para alavancá-lo rumo a mais quatro anos de mandato não adiantou absolutamente nada.
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Bolsonaro infringiu a lei, o bom senso e a decência ao liberar um caminhão de dinheiro em pleno período eleitoral para garantir um Auxílio Brasil temporário a 20,2 milhões de brasileiros, numa das maiores compras de voto oficiais já vistas no mundo. Soltou sua verve religiosa neopentecostal deflagrando uma verdadeira jihad em igrejas evangélicas por todo país, atribuindo possessões demoníacas a Lula e com sua esposa ministrando cultos políticos em tom de profecia. Manteve a calma e ficou vermelho como um pimentão no Jornal Nacional para não explodir com a emissora que tanto odeia, soltou seu palavrório obsceno e tosco (que encanta a tantos) num debate de grande audiência e com um Lula apático e sem reação, manteve suas redes de fake news a todo vapor, além de entrar nos lares de todos os cidadãos com seu discurso ultraconservador de família e outros valores medievais por meio do horário eleitoral.
Nada, rigorosamente nada mudou nos gráficos de intenção de voto. Uma mísera subida ali, outro insignificante pontinho acolá, mas sem qualquer alteração no cenário. Bolsonaro não sobe, Lula não desce e suas flechinhas de desempenho não se aproximam por nada neste mundo, seguindo indefinidamente paralelas e com um abismo de 12% (ou até 16%, por conta da margem de erro) as separando, o que representa em números absolutos algo entre 15 e 25 milhões de votos, uma humanidade de diferença, praticamente inconquistáveis em pouco mais de um mês de campanha.
O que deve terminar de cristalizar esse cenário, colocando os últimos pregos na tampa do caixão de sua empreitada eleitoral pela reeleição, é o Datafolha de quinta-feira (1°), um instituto com pesquisas marcadas por um sincronismo digno de relógio suíço com outros levantamentos presenciais confiáveis, como é o caso do Ipec.
Alguém pode dizer, "ah, mas tem o 7 de setembro". A essa altura, travado num atoleiro do qual não se ergue um só centímetro depois de tantas estratégias e recursos que efetivamente costumam dar resultado, não será mais um show de horrores com bravatas e a habitual camarilha cafona estrunchada em fardinhas mofadas, usando jargões da caserna, que o içará dessa estagnação enfadonha em que se meteu depois de um mandato caótico.
É sentar e aguardar, mas o cenário está se definindo a cada dia diante dos olhos de todos