OPINIÃO

O golpe de 64, por Bolsonaro e seus seguidores – Por Walter Barretto Jr.

Escrever esse artigo me fez lembrar um inusitado acontecimento político brasileiro: “Filhote da ditadura!”, disse Leonel Brizola, se dirigindo a Paulo Maluf, em debate com os demais candidatos em 1989

Jair Bolsonaro homenageia golpe de 64 quando era deputado.Créditos: Flickr / Bolsonaro
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Apesar de eu ser um leitor assíduo dos temas da política brasileira, o personagem Jair Bolsonaro não estava no meu radar de leitura. Porém, no dia da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (2016), com a homenagem feita pelo então deputado Jair Bolsonaro ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, passei a conhecê-lo. Um primeiro susto, de centenas que estavam por vir.

Você verá nas frases a seguir, todas do nosso livro ‘Bolsonaro e seus seguidores: o horror em 3.560 frases (Geração Editorial, 2022)’, que Bolsonaro e seus seguidores frequentemente fazem homenagens ao governo militar implantado após o golpe de 64. O PDF gratuito do livro está disponível no final deste artigo.

Escrever esse artigo me fez lembrar um inusitado acontecimento político brasileiro: “Filhote da ditadura!”, disse Leonel Brizola, se dirigindo a Paulo Maluf, em debate com os demais candidatos para a eleição presidencial de 1989, na TV Bandeirantes e tendo Marília Gabriela como mediadora.

13 de abril de 1994

“Quero aqui nesta oportunidade, como não sou um conspirador, saudar o regime que se iniciou em 31 de março de 1964, do qual tenho saudades, e a população brasileira também. (...) Não foi um regime perfeito, os homens não eram perfeitos, e eu até diria que naquele tempo também roubavam sim, mas roubavam 10% e hoje roubam do povo brasileiro 90%.” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: site da Câmara dos Deputados.

09 de dezembro de 1998

“Dessas vinte pessoas, dezenove eram mulheres; e elas disseram que viviam muito melhor no regime militar do que no atual. Brevemente, no meu entender, chegará a hora de as mulheres novamente voltarem às ruas, como aconteceu em 1964.” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: site da Câmara dos Deputados.

31 de abril de 2004

“31 de março de 1964 é uma data reverenciada pelos brasileiros de bem, pelos democratas. (...) Para reverenciar a memória dos militares que, em 1964, evitaram fosse instalada no país ditadura totalitária de esquerda. Vou me ajoelhar, por alguns segundos... (Ajoelha-se o orador).” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: site da Câmara dos Deputados.

31 de março de 2005

“Hoje é um dia muito especial para mim. Sou capitão do Exército Brasileiro e quero falar um pouco sobre o dia 31 de março de 1964 (...). A edição do AI-5 foi consequência da ação dos comunistas, que se lançaram à luta armada sob o pretexto de combater a ‘ditadura’. Os militares sempre estiveram ávidos por entregar o controle do país aos civis, mas não puderam fazê-lo, ante o clima de guerra revolucionária desenvolvido pelas esquerdas.” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: site da Câmara dos Deputados.

11 de dezembro de 2008

“Louvo o AI-5 porque, pela segunda vez, colocou um freio naqueles da esquerda que pegavam em armas, sequestravam, torturavam, assassinavam e praticavam atos de terror em nosso país.” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: site da Câmara dos Deputados.

31 de março de 2010

“Saúdo os militares e civis que, em 1964, tiveram a coragem de assumir o comando do país.” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: site da Câmara dos Deputados.

16 de junho de 2011

“Falam tanto em golpe militar... Ora, são sempre as Forças Armadas que dão golpe num país. É lógico! Não vão ser os jornalistas ou o pessoal da OAB, eles não têm fuzil! Quem dá golpe é quem tem força. Mas, se foi um golpe em 1964, de diga o nome do general ou do marechal que assumiu no dia 1º de abril. O pessoal reluta um pouquinho e responde: ‘Castello Branco’. Não, foi o [então presidente da Câmara dos Deputados] Ranieri Mazzilli. Só em 15 de abril que Castello Branco assumiu. Que golpe é esse?” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: Playboy, por Jardel Sebba.

15 de março de 2014

“Ditadura, propriamente, não era. Era um regime autoritário forte. Agora, que não era uma democracia, não era. Não existe democracia em que o presidente pode editar ato institucional. Eu acho que a revolução escolheu bem a hora de entrar, mas não a de sair. Com o passar do tempo, o cachimbo entortou a boca. Por isso, saiu escorraçada.” General Newton Cruz, chefe do SNI durante a ditadura militar. Fonte: Folha.

29 de outubro de 2015

“Combateu o terrorismo e a guerrilha, por isso ele é um herói [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra].” General Hamilton Mourão. Fonte: Folha, por Rubens Valente.

31 de março de 2016

“31 de março de 1964, devemos, sim, comemorar esta data. Afinal de contas, foi um novo 7 de Setembro (...). O Brasil merece os valores dos militares de 1964 a 1985.” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: Folha.

17 de abril de 2016

“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff! Pelo Exército de Caxias, pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo, e por Deus acima de todos, o meu voto é ‘sim’!” Deputado Jair Bolsonaro, no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Fonte: site da Câmara dos Deputados.

08 de novembro de 2016

“Sou capitão do Exército, conhecia e era amigo do coronel, sou amigo da viúva. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra recebeu a mais alta comenda do Exército, a Medalha do Pacificador, é um herói brasileiro.” Deputado Jair Bolsonaro. Fonte: Folha, por Ranier Bragon.

30 de julho de 2018

“Não houve golpe militar em 1964.” Jair Bolsonaro, candidato à presidência. Fonte: Folha de Pernambuco.

07 de março de 2019

“As Forças Armadas sempre estiveram ao lado da democracia e da liberdade.” Presidente Jair Bolsonaro. Fonte: Aos Fatos.

26 de março de 2019

“Por mim, o único ‘golpe militar’ no Brasil que não pode ser comemorado é o de 1889. Parabéns, Presidente!” Deputada Carla Zambelli. Fonte: o próprio Twitter.

29 de março de 2019

“CONVITE. O Comandante Militar do Norte, General de Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, tem a honra de convidar V Exa / V Sa para a solenidade alusiva aos 55 anos da Revolução Democrática de 31 de março de 1964.” Comando Militar do Norte. Fonte: Congresso em Foco.

29 de março de 2019

“Diante de um cenário de graves convulsões, foi interrompida a escalada em direção ao totalitarismo. As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo.” General Lourival Carvalho Silva. Fonte: Metrópoles, por Guilherme Amado e Bruna Lima.

31 de março de 2019

“As Forças Armadas participam da história da nossa gente, sempre alinhadas com as suas legítimas aspirações. O 31 de março de 1964 foi um episódio simbólico dessa identificação.” Ministério da Defesa. Fonte: Jornal Nacional, por William Bonner.

31 de março de 2019

“Num dia como o de hoje o Brasil foi liberto. Obrigado militares de 64! Dúvida? Pergunte aos seus pais ou avós que viveram aquela época como foi?” Deputado Eduardo Bolsonaro. Fonte: o próprio Twitter.

08 de agosto de 2019

“Herói nacional [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra].” Presidente Jair Bolsonaro. Fonte: Folha.

31 de março de 2020

“11 de abril de 64: em eleições indiretas o Congresso elege o marechal Castello Branco como presidente da República, de acordo com a Constituição de 1946. (...) E não houve golpe em 31 de março.” Presidente Jair Bolsonaro. Fonte: Aos Fatos.

31 de março de 2020

“Há 56 anos, as Forças Armadas intervieram na política nacional para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população. Com a eleição do general Castello Branco, iniciaram-se as reformas que desenvolveram o Brasil.” General Hamilton Mourão, vice-presidente. Fonte: o próprio Twitter.

31 de março de 2020

“O movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira.” General Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa. Fonte: Folha, por Fábio Zanini.

21 de maio de 2020

“Se gabam [as Forças Armadas] de ter livrado o Brasil do comunismo em 1964, coisa que eles não fizeram de maneira alguma. No tratamento deles com o comunismo fizeram só merda, do início até o fim. E quando terminou o governo militar, qual era a única força política que restava? A esquerda.” Olavo de Carvalho. Fonte: BBC News Brasil, por Mariana Sanches.

19 de dezembro de 2020

“A senhora [viúva do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra] é um exemplo. A senhora conta, narra fatos. Como os presos, não era preso político, não, terroristas, eram tratados lá no DOI-Codi de São Paulo. Tratados com toda a dignidade, inclusive as presas grávidas por parte da senhora.” Presidente Jair Bolsonaro. Fonte: Aos Fatos.

16 de fevereiro de 2021

“Em 64, então foi dado o contragolpe militar, é que teve lá, até os 17 atos institucionais, o AI-5 que é o mais duro de todos como vocês insistem em dizer, aquele que cassou 3 ministros da Suprema Corte, você lembra? Cassou senadores, deputados federais, estaduais, foi uma depuração. Com recadinho muito claro: se fizer besteirinha, a gente volta.” Deputado Daniel Silveira. Fonte: UOL, por Reinaldo Azevedo.

31 de março de 2021

“Neste dia, há 57 anos, a população brasileira, com apoio das Forças Armadas, impediu que o Movimento Comunista Internacional fincasse suas tenazes no Brasil. Força e Honra!” General Hamilton Mourão, vice-presidente. Fonte: Congresso em Foco e UOL.

05 de maio de 2021

“Eu não exaltei o golpe militar de 64. O golpe mili (parou a fala no meio da palavra) — não, não disse que era uma exaltação. (...) Não houve um golpe militar.” General Walter Braga Netto, ministro da Defesa. Fonte: O Antagonista.

27 de março de 2022

“Eu não podia deixar um velho amigo [capitão Carlos Alberto Brilhante Ustra], que lutou por democracia, que teve sua reputação quase destruída, sem deixar de ser citado naquele momento.” Presidente Jair Bolsonaro. Fonte: G1, por Guilherme Mazui e Alexandro Martello.

31 de março de 2022

“Hoje são 31 de março. O que aconteceu nesse dia? Nada? A história registra nenhum presidente perdendo seu mandato nesse dia. Por que a mentira? A quem ela se presta? O Congresso Nacional, em 2 de abril, votou pela vacância de João Goulart (...).” Presidente Jair Bolsonaro. Fonte: Poder360, por Murilo Fagundes.

31 de março de 2022

“Em 31 de março de 1964 a Nação salvou a si mesma!” General Hamilton Mourão, vice-presidente. Fonte: Folha.

31 de março de 2022

“Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a OAB, as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo.” General Walter Braga Netto, ministro da Defesa; Almir Garnier Santos, comandante da Marinha; Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército; Carlos Almeida Baptista Junior, comandante da Aeronáutica. Fonte: site do Ministério da Defesa.

14 de abril de 2022

“Então, tem o velhinho aqui (aponta para si próprio). Eu não posso usar o meu Viagra, pô? O que são 35 mil comprimidos de Viagra [comprados pelas Forças Armadas] para 110 mil velhinhos? Não é nada.” General Hamilton Mourão, vice-presidente. Fonte: UOL.

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