Tal como já tinha ensaiado no ano passado, o presidente Jair Bolsonaro ameaça, de novo, com um golpe de estado no aniversário da Independência do Brasil.
Percebe que pode ser derrotado nas eleições de 2 de outubro e morre de medo de, depois, fora da Presidência, uma vez perdida a imunidade, acabar preso, juntamente com os filhos.
Assim, Bolsonaro está empenhado em fazer no Sete de Setembro uma "tanqueata golpista", tanto em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, quanto no Rio, na Praia de Copacabana. Um desfile de ódio, prepotência e ameaças à democracia.
É preciso ser dito que os donos do poder "celebram" o Dia da Pátria com uma narrativa mentirosa e farsesca, que apresenta a ruptura administrativa com Portugal, liderada por um príncipe português, de formação absolutista, como independência de fato. E escondem a continuidade, no país nascente, da escravidão, do latifúndio, da monocultura, da dependência externa.
É preciso fazer o contraponto. Apresentar a História contra a histeria. A razão contra a raiva. O conhecimento contra a mistificação. O questionamento contra as verdades absolutas. A democracia contra a autocracia.
Deixando de lado a paúra de Bolsonaro de acabar vendo o sol nascer quadrado, vamos refletir sobre o que foi, de fato, a independência.
Como outras passagens da vida de nosso País, ela também não deve ser vista apenas pelas lentes da história oficial.
Foi o que busquei mostrar, em 20 capítulos ilustrados por Claudius, no livro de minha autoria "Independência e Vida! - Para refletir sobre a independência incompleta do Brasil", lançado no último sábado.
Aproveito, então, neste artigo, um trecho desse livro, editado pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.
“Hoje, 200 anos após a Independência do País, cabe indagar sobre o que é a independência plena para as mulheres vítimas de violência e misoginia, para os negros e brancos pobres, para os indígenas, para os LGBTQIA+, para aquela parcela da juventude nem-nem: sem escola, sem trabalho”.
"Independência é também entender que pátria que se fecha em si mesma, xenófoba, nega a Humanidade. Somos, cada vez mais, cidadã(os) do mundo: internacionalismo proletário, internacionalismo planetário”.
"Em nosso tempo, milhares de pessoas da África e da Ásia morrem tentando chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo. Em pleno século XXI, os mares maltratados do planeta são caminhos não de conquistas e ‘descobrimentos’, mas de fugas e tormentos. Muitos países europeus não aceitam os refugiados. Não acolhem os expatriados e a Humanidade se afoga”.
"Independência, passados 200 anos, é saber que, como nação, ainda precisamos romper muitas amarras do ‘não’: desemprego, violência, desigualdade, opressão. Independência é combater o cupim da República, a corrupção, meio espúrio de acumulação de capital e de ganhar eleição. Corrupção que é também de ideias e ‘narrativas’, baseadas na mentira, nas fake news, na falsificação. No bloqueio de qualquer diálogo com o autoritário ‘é a minha opinião’”.
"O bicentenário da Independência do Brasil – em um país e mundo ainda marcados pela injustiça, pela guerra e por preconceitos de todo tipo – nos convoca a dar um grito de indignação e também um sussurro de ternura. Por sabermos, ‘realistas esperançosos’, como queria Ariano Suassuna (1927-2014), que nosso planeta e nosso país, apesar de tudo, têm jeito”.
"Nossos patrícios do Clube da Esquina já cantaram, há meio século: um grande país eu espero do fundo da noite chegar”.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.