Dada a gravidade dos crimes cometidos pela ditadura militar brasileira implantada em 1964, alguns segmentos progressistas a classificavam de fascista. Mas o fascismo não é exatamente uma gradação para os regimes de direita. E nem todos os regimes de direita criminosos eram fascistas. O fascismo tem características próprias.
Entre estas está a criação de um clima generalizado de intolerância com quaisquer divergências na sociedade, apoiado num movimento de massas agressivo. Assim, a violência contra os opositores não vem apenas do aparelho de Estado, mas uma parcela da população se engaja nela.
O fascismo não tem adversários políticos, tem inimigos mortais. Não tolera a divergência e busca exterminar fisicamente seus opositores. Faz com que vizinhos se hostilizem e que até a comemoração privada no seio de uma família possa ser alvo de intolerância. E o faz apoiado num movimento que arregimenta multidões.
O fascismo é, portanto, um tipo específico de ditadura de direita. Muito mais nefasto e perigoso.
Pois o assassinato do petista Marcelo Arruda, semana passada em Foz de Iguaçu, foi um ato típico do fascismo. Tem a cara do fascismo.
Marcelo comemorava, em companhia da mulher, dos quatro filhos e de amigos, seu 50º aniversário. A festa tinha como tema uma homenagem a Lula e ao PT, partido do qual Marcelo era dirigente no município. Isso, por si só, foi intolerável para seu assassino.
Aos gritos de “aqui é Bolsonaro”, ele invadiu o evento. Como era policial e, minutos antes, já tinha ameaçado voltar e acabar com a festa a tiros, o aniversariante Marcelo - guarda civil municipal - tinha buscado um revólver para se defender.
Essa providência fez com que, mesmo atingido mortalmente, Marcelo conseguisse ferir o criminoso e impedir uma chacina.
O incidente, que atingiu duas famílias – Marcelo está morto e seu assassino, que também tem família, está no hospital – é próprio da intolerância do fascismo.
É fruto de uma característica marcante que ele tem: a criação a criação de um clima de ódio na sociedade, fazendo com que diferenças de opinião política sejam intoleráveis e estimulando que os adversários sejam atacados.
Evidentemente, do ponto de vista penal o presidente Jair Bolsonaro não pode ser responsabilizado pode esse crime horripilante. Mas, do ponto de vista político, deve ser responsabilizado por estimular de forma consciente na sociedade um clima que multiplica esse tipo de barbaridade.
Não por acaso, minimizou o crime, comparando-o a uma simples briga.
É preciso, também, deixar claro que não se justifica que democratas fiquem em cima do muro diante do episódio. Nesse sentido, foi profundamente infeliz a declaração do pré-candidato à Presidência Ciro Gomes, um democrata, que se limitou a lamentar a polarização que se desenha no País e a manifestar solidariedade às famílias afetadas. Para um líder político é pouco.
Quando num dos polos está o neofascismo não se pode ficar em cima do muro. Não se pode agir como Pôncio Pilatos e lavar as mãos. Não há equidistância possível, nem basta lamentar o ocorrido.
É preciso assumir um lado, dizer com todas as letras que o criminoso fascista tem que ser responsabilizado. E apontar como responsáveis politicamente aqueles que criam o clima de ódio. O principal deles é Bolsonaro.
Até porque, num processo de ascensão do neofascismo, como o que vivemos, é provável que crimes como o que vitimou Marcelo não parem por aqui.
Lamentavelmente.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.