Uma pesquisa recente mostra que a fome voltou com força total no Brasil, mazela social que havia sido extinta durante os governos Lula e Dilma. Segundo a pesquisa Vigisan (Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil), realizada pela Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), o número de famintos no país subiu de 19,1 milhões para 33,1 milhões em menos de 2 anos, 14 milhões a mais em comparação com 2019.
Em mais uma prova de que o governo Bolsonaro é o governo do retrocesso, do desemprego, da fome, do desmonte de programas sociais, esse número, que representa incríveis 15,5% da população brasileira, aumentou 6 pontos percentuais desde 2020, quando foi realizada a primeira edição dessa pesquisa. Os dados mostram com precisão a tragédia econômica e social pela qual passa o Brasil, que afeta principalmente a população mais vulnerável.
A crise econômica também faz a chamada classe média sofrer com o fantasma da fome. Hoje, de acordo com a mesma pesquisa, temos 58,7% da população brasileira convivendo com insegurança alimentar em algum grau. Ou seja, 125,2 milhões de brasileiros estão preocupados com a possibilidade de não ter alimento no futuro ou já passam fome, sem condição de fazer ao menos três refeições durante o dia. O mais inacreditável: cerca de 20% dos trabalhadores do agronegócio estão sem ter o que comer.
É verdade que a desigualdade social e a fome não são invenções do governo Bolsonaro, e sim resultados do sistema capitalista. Porém, em três anos de governo, os famintos cresceram 73% enquanto o número de bilionários aumentou em 48%. Não se trata de desgoverno, trata-se de um governo dos ricos, que só acumularam riqueza sob Bolsonaro.
Os alimentos da cesta básica aumentaram até 67% nos últimos 12 meses, enquanto 180 mil pessoas estão jogadas nas ruas das cidades, por não terem emprego e renda suficientes para comer e pagar aluguel.
Durante a pandemia, a CMP distribuiu mais de 340 mil toneladas de alimentos a famílias necessitadas com objetivo de colocar comida no prato das pessoas que passam fome, sem deixar de articular e mobilizar o povo para cobrar dos governos políticas e programas de proteção social, especialmente no período da pandemia da Covid-19. Mesmo com as ações de solidariedade promovidas pela CMP e outros movimentos populares, a pobreza e a fome têm aumentado em nosso país, afetando mais as mulheres, o povo negro e as crianças.
O capitalismo no Brasil é selvagem e assassino, neste momento Bolsonaro não passa de um preposto do capitalismo, por isso tem apoio de 70% dos empresários. Um pequeno grupo de privilegiados aumenta, ostenta e multiplica sua riqueza enquanto milhões são jogados na mais absoluta pobreza. E pior: convence os mais pobres de que isso é correto e de que devem dar “sua cota de sacrifício” para o crescimento do país, abrindo mão de direitos trabalhistas, aceitando rebaixamento de salário e o fim da proteção social. Aliás, é o pobre quem paga os impostos que os ricos sonegam ou os polpudos lucros advindos da isenção fiscal do governo federal, que tira dos trabalhadores e trabalhadoras para entregar aos mais ricos.
Tal cenário aponta que, se historicamente o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, a situação está cada vez pior. A última edição do Relatório de Riqueza Global, elaborado pelo banco Credit Suisse, mostra que o 1% mais rico do Brasil deteve 49,6% das riquezas do Brasil em 2021. Para se ter uma ideia, em 2010, no fim do governo Lula, este índice chegou à mínima histórica, com 40,5% das riquezas nas mãos deste mesmo 1%.
Mas o que mudou nos últimos anos? A elite do atraso deu um golpe em 2016, com a finalidade de manter ou aumentar seus lucros em detrimento de retrocessos contra o povo, utilizando-se dos mais diversos subterfúgios para colocar um ponto final nos governos democráticos que estavam justamente revertendo esse histórico processo de concentração de riqueza e opressão aos mais pobres, como o enfraquecimento dos sindicatos, retirada de direitos, desmonte das políticas sociais, e a criminalização dos movimentos populares.
Não é coincidência, portanto, a volta da fome. Trata-se de um projeto capitalista, em que os ricos ficam mais ricos e os pobres ficam mais pobres, em que o povo se limita a ser massa de manobra e mão de obra barata, sem direito à dignidade humana.
Impossível não lembrar de Bolsonaro prometendo que gostaria de ter “o Brasil de 40, 50 anos atrás de volta”. E, para tristeza da população brasileira, ele conseguiu. A fome voltou ao patamar de 30 anos atrás. Temos novamente um país onde as pessoas morrem de fome e as crianças deixam de ir à escola em busca de subempregos para tentar melhorar de qualquer forma o rendimento familiar.
É preciso dar um basta em tudo isso. Em outubro próximo, precisamos derrotar Bolsonaro e abrir caminho para o desenvolvimento econômico com geração de trabalho e renda, retomada dos direitos, das políticas públicas, respeito ao meio ambiente e à soberania. Vamos à luta para eleger Lula presidente, fortalecer os movimentos populares e construir um país em que o povo não passe fome!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.