Pela primeira vez uma pesquisa do IBGE trouxe à luz dados importantes sobre a comunidade LGBTQIA+ no Brasil. O levantamento inédito com base em questionário aplicado em 2019 revela que quase 3 milhões de brasileiros declaram-se gays, lésbicas ou bissexuais. A pesquisa, incompleta por não trazer, por exemplo, dados sobre a transexualidade é, segundo muitos especialistas, um avanço, mas deve se levar em conta uma enorme possibilidade de subnotificação, até mesmo pelo medo de muitas pessoas assumirem sua orientação sexual em tempos tão agressivos e violentos.
Mas o que essa pesquisa tem a ver com o título da coluna de hoje? Nada!
Porque, apesar do esforço de boa parte da sociedade em associar o termo sodomia ao comportamento das pessoas com orientações sexuais diversas da “hegemônica” heteronormatividade, biblicamente falando não há nada que justifique o uso da referência a Sodoma (cidade destruída pela “ira de Deus” no Antigo Testamento – Gênesis 19) à comunidade LGBTQIA+. O texto bíblico não se refere à relações homoafetivas, mas à falta de hospitalidade e uma possível crença de que o sexo com “seres divinos” transferisse alguma espécie de “poderes” a quem conseguisse essa proeza. Nada de homoafetividade. Tudo de violência e crendices.
Para piorar a situação dos que insistem em atribuir a pecha de “sodomitas” aos homoafetivos, a própria Bíblia nos revela qual o verdadeiro PECADO de Sodoma, que despertou a “ira destruidora” da Divindade: A INJUSTIÇA SOCIAL. O texto do profeta Ezequiel lança luz sobre essa história: " ‘Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: Ela e suas filhas eram arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam os pobres e os necessitados.” (Ezequiel 16:49)
Portanto, não resta dúvida alguma: a “ira de Deus” que veio sobre Sodoma é porque era uma cidade próspera, com fartura de comida, mas isso não fazia diferença alguma para os pobres e necessitados. Eles continuavam à margem da sociedade, com seus direitos aviltados e suas necessidades gritando aos quatro ventos pedindo comida e justiça. Sodomia é, portanto, a atitude de uma sociedade arrogante e próspera que insiste em segregar e condenar à miséria sua gente pobre e necessitada. Sim! Nesse aspecto o Brasil é um país cheio de sodomia!
O atual presidente é sodomita! O Congresso é sodomita! A igreja está repleta de sodomitas (lembre-se de que há pastores chamando as pessoas em situação de rua de vagabundos)! E minha oração hoje, como cristão e pastor é: “- Deus, que é Mãe e Pai de tod@s, livrai-nos de um país sodomita! Levante mais profetas como o padre Júlio Lancellotti, como os pastores Vladimir Souza e Gilberto Chagas Jr e tantas outras lideranças religiosas que, incansavelmente, se levantam contra a injustiça e a verdadeira sodomia.
E que pelo menos parte da igreja brasileira se arrependa de ser sodomita na sua essência, abandone o pecado da arrogância e da injustiça social, quebre e lance fora de seus altares o ídolo que chamam de “Mito” e abrace a causa dos pobres e dos oprimidos, das minorias que sangram diante da violência, da juventude negra que vem sendo dizimada pela força de um Estado violento e opressor, que liberte as mulheres de uma submissão doentia que lhes é imposta “em nome de Deus” e da comunidade LGBTQIA+, a quem atribuem erroneamente um pecado que não é deles, mas sim de todo aquele que, “tendo fartura de comida, não ajudam os pobres e necessitados”.
Deus nos livre de um Brasil sodomita! Amém!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.