GOLPE DE 64

Em nome de Jesus, Ditadura nunca mais! – Por pastor Zé Barbosa Jr

Em nome de Jesus, o torturado, relembramos e reverenciamos a memória de tantos irmãos e irmãs que tombaram nos “anos de chumbo”, como Frei Tito e Paulo Wright, e tantos outros que sobreviveram

Monumento Tortura Nunca Mais, no Recife.Créditos: Unicamp
Escrito en OPINIÃO el

Em nome de Jesus, o exilado (levado por seus pais ao exílio, no Egito), relembramos os milhares de brasileiros que tiveram que deixar o seu país às pressas por conta de um regime autocrático, violento e perverso;

Em nome de Jesus, o periférico, rechaçamos essa política classista que ignora as periferias, jogando-as ao esquecimento público e entregando-as aos poderes do tráfico, das milícias e de alguns religiosos que aumentam a exploração e falta de dignidade humana;

Em nome de Jesus, o pobre, repudiamos uma política que destrói os direitos, aniquila a chance de trabalho e massacra a massa trabalhadora que resiste aos desmandos de um desgoverno que lhe retira a dignidade e obriga seres humanos a atos de humilhação para conseguir “um pedaço de osso”;

Em nome de Jesus, o não branco, denunciamos o genocídio da juventude negra e o racismo estrutural que coisifica o jovem negro, e como “coisa”, o elimina como se não fizesse parte da nossa humanidade; também o genocídio das tribos indígenas, cada vez mais à mercê dos latifundiários e grileiros que roubam suas terras e assassinam nossos índios, verdadeiros donos e cuidadores de nossa terra;

Em nome de Jesus, amigo dos excluídos, gritamos com os nossos irmãos e irmãs LGBT’s contra a LGBTFobia que mata e exclui gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, intersexos e os relega a uma vida de “segunda categoria”, reféns de um sistema heteronormativo que, em nome de deus, os trata como malditos e, por isso, merecedores da morte;

Em nome de Jesus, que reconhece a voz e a força das mulheres, nos juntamos à luta contra o feminicídio e o machismo, também estruturais e estruturantes de nossa sociedade, que reduz a mulher à subserviência e que tem como grande objetivo de vida “servir ao homem e aos filhos”, retirando delas a proeminência, protagonismo e poder, a elas inerentes e justos;

Em nome de Jesus, o preso político, torturado e morto, com o aval do Império e do deus fundamentalista da religião opressora, condenamos, rejeitamos e desprezamos quaisquer movimentos que queiram relembrar a terrível e cruel ditadura que vivemos recentemente, e que não reconhecemos como legítimas as palavras de apoio de líderes religiosos a tais atos. São falsos líderes, mercenários da fé, que há muito já venderam suas almas ao que existe de mais perverso neste sistema.

Em nome de Jesus, o torturado, relembramos e reverenciamos a memória de tantos irmãos e irmãs que tombaram nos “anos de chumbo”, como Frei Tito e Paulo Wright, e tantos outros que sobreviveram aos porões e às torturas desse período. Com estes, o Cristo se identifica em suas dores e temores.

Em nome de Jesus, o que experimenta a ressurreição, reivindicamos a esperança e o encorajamento para a luta; o ânimo que, contra tudo e todos, nos preenche; a vida que insiste em não se entregar à morte e a força para recomeçar, resistir e avançar.

Não vamos retroceder!

Em nome de Jesus!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.