“Era uma facada no meu coração!” Foi desta forma que a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, mãe do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe expressou a dor de ver as imagens de seu filho sendo espancado até a morte. Juntei meu choro ao pranto da mãe e grande parte dos brasileiros por tamanha crueldade, tão violenta e perversa. O ódio que paira no ar brasileiro mais uma vez se tornou fato, e mais uma vez (como se fosse alguma novidade) esse ódio foi direcionado a um corpo negro.
Ao ler o nome do rapaz assassinado, me veio imediatamente à mente a associação a um outro africano, também refugiado/escravizado por um grande império, mas com uma sorte diferente do jovem congolês. Estou falando de Moisés, o grande líder bíblico da revolta dos escravos hebreus na saga bíblica narrada no livro do Êxodo. Moisés, diferentemente do que afirma o texto bíblico, provavelmente significa “filho” (um nome egípcio) e não “salvo das águas”. Pois Lotsolove perdeu seu Moïse, seu FILHO e o Brasil, mais uma vez, mostrou que está muito longe de ser a “pátria mãe gentil”, nem aos seus e nem a quem lhe chega como FILHO.
O assassinato de Moïse é um tapa na cara dessa sociedade que nega ser racista, xenofóbica e que hoje (principalmente no Rio de Janeiro) está entregue ao poder miliciano. Poder este que chegou ao governo federal e quer porque quer transformar o Brasil nesse país violento, sórdido e cruel como a mente desse ser abjeto que hoje ocupa a presidência. Ele e seus filhos querem transformar o país numa república miliciana, em nome de Jesus, Amém! Com o aval de pastores e lideranças cristãs, pasmem!
Uma outra coisa que fica evidente é a “terceirização não pessoalizada” dos crimes no Brasil, quando partem de gente poderosa. Os criminosos nunca são nominados, antes são coisificados para que seus nomes não apareçam e saiam ilesos de seus crimes. É “o helicóptero” da pasta base, a cocaína “do avião da FAB”, as barragens “das mineradoras” e agora “o quiosque” assassino. Como se essas coisas tivessem por elas mesmas a capacidade de comprar, vender e transportar as drogas, explorar criminosamente o solo e, no caso de Moïse, como se “o quiosque” o tivesse espancado (ainda que os “mandados” estejam presos), mas “o quiosque” mesmo está em liberdade e “não tem culpa de nada”, como se esses que executaram tivessem simplesmente, por vontade própria, assassinado o rapaz que cobrava “do quiosque” seus direitos trabalhistas.
Triste país, cada vez mais entregue aos violentos, aos perversos, aos cristãos sem Cristo, ao presidente sem honra e às milícias. Hoje choro por ser brasileiro. “Até quando?”, me pergunto… e sei que não estou sozinho nessa dor, nessa dúvida e nesse choro.
O Brasil matou mais um MOÏSE, o Brasil perdeu mais um filho! Choremos!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.