Um número crescente de brasileiros se pergunta se o Brasil deve manter suas Forças Armadas. Alguns, mais informados, lembram que a Costa Rica, um pequeno país da América Central, com pouco mais de cinco milhões de habitantes, não tem Exército desde 1949.
Lembram, também, que isso contribuiu para a estabilidade democrática daquele país, numa região em que os vizinhos conviveram com golpes militares, ditaduras e seguidas situações de desrespeito aos direitos humanos.
Então, cresce a pergunta: afinal, para que servem o Exército, a Marinha e a Aeronáutica? Para ficar marchando e pintando meio-fio nos quartéis?
Mas estão equivocados os que pensam que um país das dimensões e da importância do Brasil possa prescindir de Forças Armadas.
No entanto, como fazer com que a população compreenda a importância da existência dos militares para o País?
Depois de ocuparem o governo de forma ilegítima durante os mais de 20 anos em que atropelaram a democracia, instituindo uma ditadura responsável por torturas e assassinatos de opositores políticos, os militares ficaram com a imagem seriamente maculada.
Posteriormente, quando da transição para a democracia (ainda que uma democracia limitada, com a transição tutelada pela cúpula militar), essa imagem melhorou.
As Forças Armadas deixaram a cena política e voltaram aos quartéis – lugar de onde não deveriam sair, salvo em casos de defesa nacional diante de ameaças externas.
Pois bem, nos últimos anos, e mesmo antes de Bolsonaro assumir a Presidência - lembremo-nos das ameaças do general Villas-Boas ao STF para evitar que Lula se candidatasse – o comportamento das Forças Armadas foi levando a nova deterioração de sua imagem.
Isso se acirrou com o atual presidente. Bolsonaro as tem utilizado como guarda pretoriana. E elas, repletas de benefícios que os demais servidores públicos não recebem, têm se prestado a esse papel. Isso vai desde uma "reforma" da Previdência que beneficia seus integrantes, até os reajustes salariais muito acima dos concedidos a seus colegas civis.
Mas agora, usando uma expressão do saudoso Stanislaw Ponte Preta, estamos adentrando ao perigoso terreno da galhofa.
Como justificar a nomeação de um general que, ao assumir o Ministério da Saúde, admitiu não saber sequer o que era o SUS? Como justificar o comportamento omisso e letal desse general, de braços dados com o presidente, diante da pandemia?
Como explicar o fato de 79 mil militares estarem recebendo o Auxílio Emergencial, que só poderia ser pago a desempregados? Note-se: não estamos falando de algumas dezenas de espertalhões, que podem existir em qualquer corporação, mas de quase 80 mil integrantes das Forças Armadas. Isso aconteceu sem o conhecimento dos escalões superiores – ou mesmo sem sua conivência? Em caso positivo, estaríamos diante de um caso extremo de falta de controle.
A isso tudo se soma a descoberta, pela polícia espanhola, de que pelo menos um avião da FAB a serviço da Presidência da República fazia tráfico internacional de drogas. Foram quase 40 quilos de cocaína pura encontrados numa das aeronaves da comitiva de Bolsonaro.
Por fim, o que a Marinha tem a dizer sobre os navios abandonados na Baía de Guanabara, um dos quais, desgovernado, colidiu com um pilar da Ponte Rio-Niterói? Isso não é de sua alçada?
Os exemplos poderiam se multiplicar. E não falamos aqui das grosseiras tentativas de interferência no processo eleitoral ou dos questionamentos, sem qualquer base, das urnas eletrônicas, nem da manifesta simpatia por fanáticos golpistas acampados em frente a quartéis, clamando por golpe - o que é inconstitucional e criminoso.
Esse processo de partidarização e desmoralização das Forças Armadas não serve ao País.