E PONTO FINAL!

Uva-passa forever! Eis que chega novamente a noite da batalha

Meu amigo, você engole peixe cru, toma suco de couve ‘detox’, come lichia, que mais parece um ranho, mas uva-passa não? Ah, dá licença... Vai ter uva-passa sim!

Créditos: YouTube/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

É Natal! “Jingle bells, jingle bells, acabou o papel... Não faz mal, não faz mal, limpa com jornal...”. Pois é, chegou mais uma noche buena e as piadinhas do pavê e paródias cretinas do hit natalino tentam quebrar o gelo diante da grande batalha campal que se avizinha e que se repete todos os anos nas horas finais do dia 24 de dezembro.

Eu não sei em outros lugares do mundo, mas no Brasil a uva-passa divide a humanidade. A iguaria tem história milenar. Secas ao sol, aproveitando o próprio açúcar, as rotundas e rechonchudas uvas, escuras ou brancas, murcham e ganham uma cobertura cristalizada e adoçada que ao longo dos séculos satisfizeram o paladar de gregos, romanos, árabes, ibéricos e toda sorte de gente que teve a oportunidade de pegar um punhado desse alimento divino e socar na boca, até encher as arestas dentais com suas sementinhas incômodas.

“Hoje vai ter uva-passa e acabou, porra!”, gritaria o bufão limítrofe de faixa no peito, sentado à frente do banquete e do amontoado de latas de leite condensado. Claro, se ele for um dos integrantes do Team Raisin. Mas essa informação eu já não tenho como cravar.

O fato é que quem não gosta de uva-passa deveria ser identificado com uma etiqueta quando chega à casa alheia. Evitaria o constrangimento da cara de nojo e anteciparia os primeiros estrondos das baterias granadeiras que irrompem anunciando a guerra. “Caraio, botaram uva-passa no arroz!”, “Mais que caceta, tem uva-passa na farofa”. Mermão, cê não gosta de uva-passa? Então vaza!

O sujeito vai “no japonês” e mastiga peixe cru, enche o rabo de temaki de água-viva, aquele ser gelatinoso e incendiário que habita os mares poluídos, se chapa de suco ‘detox’ de couve e aipo-da-Malásia, saboreia delirante uma gosma que atende pelo nome de lichia, que mais parece um ranho fungado e engolido, mas "ain, uva-passa não".

Tenha a santa paciência! A noite do menino Jesus bombando, vários quitutes e acepipes dos mais afamados e o cidadão lá, enchendo o saco que notou uma uva-passa na calda do peru. Oh, irmão... Finge que não viu e come o bagulho aí.

Neste Natal a minha habilidade de contornar conflitos de natureza uval já zerou. Uva-passa forever!

Ah, não gosta de uva-passa? Vai querer o quê? Umas dentaduras de gelatina da Finni? Quer um bolo de pote? Um brigadeiro de colher com noz-pecã?

Entendam, e aqui ninguém tem compromisso com uma tal imparcialidade gastronômica propalada como “tolerância”: Vai ter uva-passa sim!

Agora senta lá e come esse arrozinho com farofa e tender, que tá uma delícia.

Cheios de uva-passa.