Não interessa se Jair Bolsonaro tem ou não uma enfermidade grave. O fato dele explorar isso de maneira circense, toda vez que leva uma enxurrada de críticas e vê o que resta de popularidade ir por água abaixo, é algo patético e colabora para aprofundar ainda mais esse ambiente de seita apocalíptica que seus devotos impõem ao Brasil.
Até dois dias, com a Bahia e Minas Gerais submersos, a criatura indescritível que ocupa a chefia do Estado brasileiro se esbaldava num jet ski, no baile funk homofóbico improvisado numa balsa e num carrinho do hotwheels, como um adolescente dos mais pirracentos e asquerosos. Foi aí que uma avalanche de críticas vindas de todos os lados o soterrou.
Bolsonaro desceu ainda mais no precipício e vê a cada dia sua popularidade evaporar. Todas (absolutamente todas) as pesquisas de opinião mostram Lula disparado na corrida eleitoral deste ano, na maior parte delas com vitória no 1° turno. Seus índices minguam e já há gente na própria direita radical que enxerga o líder extremista, estacionado na casa do 20%, até mesmo fora de um eventual 2° turno.
Como das outras vezes, Bolsonaro mobilizou um aparato de guerra e foi levado a um dos hospitais mais luxuosos do Brasil. Lá, com uma sonda nasogástrica e pijama, deitou no leito e fez cara de moribundo para ser fotografado. Publicou a imagem nas redes sociais junto com um texto apelativo, como previsivelmente faz. Não demorou muito para que outros figuras de seu séquito fizessem o mesmo, como ministros e a esposa.
Falou que não está bem, que será melhor avaliado e que pode precisar de cirurgia. Na sequência joga a culpa de tudo no seu bode expiatório único: a esquerda.
Se ele está ali, "nas últimas", é culpa do Adélio, do PT e do PSOL. Aí pede a ajuda de Deus e seus fanáticos seguidores hipnotizados elevam o grau do transe e começam a soltar as mais malucas orações para salvar o "PR".
Curioso que aquela figura do militar durão, que não tem medo de nada, que enfrenta o vírus da Covid-19, que prefere perder a vida do que a liberdade, bicho-solto e destemido de-sa-pa-re-ce.
O diabólico e inintimidável capitão-presidente, que enfrenta tanques e fuzis, dá lugar a um melodrama patético que nitidamente é uma peça importantíssima da engrenagem de mentiras, distorções e desinformação capitaneada pelo seu "Gabinete do Ódio".
O filhão Carluxo já correu paras as redes pra mostram o quanto o pai é amoroso, do bem e que estão sendo cruel com ele. Ninguém lembra do 02 dando explicações quando pai falou que "todo mundo um dia vai morrer" e que "não era coveiro" pra falar de vítimas do coronavírus.
Esse circo dantesco, ridículo e constrangedor precisa acabar o quanto antes. A saúde mental do brasileiro precisa se recuperar de toda essa insanidade distópica.
Está doente? Trate-se! É grave? Lance mão dos recursos que estão a seu alcance como presidente! Está bem agora? Volte pra casa e vá trabalhar!
Tudo parece muito simples e dispensa esse teatro bizarro ao qual somos submetidos toda vez que esse sujeito cai em desgraça com o eleitorado.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.