Olha mãe, um preto... estou com medo, o preto vai me comer
Frantz Fanon
No futuro, parafraseando Andy Warhol, todo mundo terá seus 15 minutos de infâmia.
Para o antropólogo Antônio Risério, esse momento chegou.
O sujeito pendurou na Folha um artigo de lixo em que, entre torções, distorções e contorções, fala em racismo reverso.
Usando a velha tática de impor o medo do escuro, que se ensina às crianças logo cedo, o antropólogo – por Zeus! – joga seus malabares para o alto e tenta hipnotizar a plateia com seus truques baratos:
“Todo mundo sabe que existe racismo branco antipreto. Quanto ao racismo preto antibranco, quase ninguém quer falar”.
Por que será, né?
Risério sabe que o racismo é uma relação de poder e ele se estrutura de tal forma que oprime, massacra, segrega, nega oportunidades, destrói a saúde mental e procura desumanizar o seu objeto de desconstrução.
Risério tenta fazer crer que há racismo de negros contra brancos no Brasil, como se os pretos, donos de bancos, mandassem travar as portas das agências bancárias quando um branco tentasse entrar.
Como se as negras, CEOs de redes multinacionais de supermercados, obrigassem seus funcionários a perseguir clientes brancos pelos corredores e mandassem espancar um branquelo de vez em quando para deixar escuro quem é que dá as ordens.
Mas Risério não foi tão cínico, os exemplos que ele nos traz vem dos Esteites.
Ele diz, entre outras coisas, que no país onde negros eram enforcados em árvores até pouco tempo, quem sofre mesmo são asiáticos nas mãos dos pretos.
Ora, Risério sabe que não foram os pretos que fabricaram a bomba atômica, sabe também que não foram os pretos que mandaram jogar duas delas nas cabeças de mulheres e crianças no Japão.
Risério sabe que duas de suas colegas de profissão, as antropólogas estadunidenses Margaret Mead e Ruth Benedict, se prestaram ao vexoso serviço de assessoras dos falcões belicosos, ajudando os militares a aplicarem suas taras racistas contra o povo japonês.
O livro "O Crisântemo e a Espada", de Benedict, foi escrito com esse propósito.
Risério não está sozinho nessa de antropólogo branco supremacista.
À medida que você vai lendo o artigo do sujeito, os malabares vão caindo, parece aqueles caras amadores que ficam no sinal jogando qualquer coisa pra cima à procura de uma moeda.
Um dos malabares que ele arremessa é o tal “identitarismo”, um chiclete retórico que tá na boca de todo mundo.
O título do artigo é esse: “racismo de negros contra brancos ganha força com o identitarismo”.
Num país em que todo mundo aponta quem é descendente de escravizados, mas ninguém tem coragem de falar quem é descendente de escravizador, esse tipo de malabarismo retórico pode até ganhar alguma força.
Tem até um cara se dizendo príncipe e querendo a volta da monarquia; é, ele mesmo, o príncipe de araque, a matriz do pensamento de Risério.
Risério alerta, de forma delirante, para o crescimento de um terrível e temível racismo reverso em andamento no mundo.
Não há uma única linha em seu texto que justifique tal afirmação.
É lixo puro, e lixo tóxico.
É preciso destruir as paredes da Casa Grande, tijolo por tijolo, ainda mais agora que sabemos que sua argamassa é feita somente de saliva.
Há pouco, um certo jornalista de sobrenome Navarro (ah, os navarros, aqueles do brasão familiar com dois lobos azuis!) andou a pedir comprovante de antecedentes criminais do público que vai ao show do Racionais.
Imagina se isso for exigido da plateia de shows de música sertaneja e concertos de piano de cauda no Copacabana Palace e no Municipal!
Os descendentes de escravizadores insistem em criminalizar os pretos pobres; mas eles mesmo andam a dizer que o grande problema do nosso atraso como nação é a corrupção, e a corrupção, a madame bem o sabe, é uma tenebrosa transação feita entre agentes públicos e grandes empresários; e todos nós sabemos que os agentes públicos e os grandes empresários são, esmagadoramente, brancos!
Como se vê, tudo saliva.
Ninguém vai ouvir mais essas merdas em silêncio, iremos contestá-los sempre, em bom pretoguês.
Risério merece mil chineladas na bunda; mãos à obra irmãos de cor.
Saravá.
Palavra da salvação.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.