Em meio a uma orquestra de frevo, na Base Aérea do Recife, na Zona Sul da capital pernambucana, a primeira-dama brasileira tenta encantar os presentes à recepção com passinhos clássicos do típico ritmo do estado. Guarda-chuvinha colorido na mão, agacha e levanta, requebra e sorri. Aliás, os sorrisos são muitos quando ela e o esposo circulam pelo Brasil em eventos festivos.
Só que a felicidade do clã oficial da República parece estar em descompasso com os ânimos do povo brasileiro. Aliás, para ser mais preciso, há um descompasso com o povo pernambucano em si. O estado é o terceiro mais desigual do país, enquanto a capital, onde Michelle sapateia seu frevo desengonçado, é a com maior diferença entre ricos e pobres do país, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada em novembro de 2020.
Há 1,2 milhão de pernambucanos vivendo em miséria absoluta, num estado que tem população total de 9,2 milhões de pessoas. Quase 20 mil cidadãos perderam a vida para a Covid-19 na terra do frevo até agora, enquanto a motociata estéril, inútil e debochada de Bolsonaro faz par com a dança de sua esposa.
A turba anestesiada que celebrou o avacalhador-geral da República em Santa Cruz do Capibaribe e em Caruaru não monopolizou o discurso. Pelo caminho, lufadas de consciência mandaram seus recados ao inclemente líder da baderna institucional.
Faixas com os dizeres “genocida”, “fora Bozo” e até “corno” tremularam nas rodovias e cidades do agreste pernambucano, como uma insistência chata e onipresente que faz lembrar ao maior carniceiro da História do Brasil que seu descaso e mau-caratismo natos não terão o esquecimento como destino.
O frevo de Michelle, assim como as habituais fanfarronices teatrais das patuscadas motorizadas de um delinquente travestido de presidente, são, no fundo, um deboche com a pobreza, a miséria e o ódio pulverizado que Bolsonaro entregou ao Brasil.
Nosso enterro como nação segue em frente, no caso de hoje ao som de Vassourinhas.