Meu querido amigo Sérgio Mamberti partiu hoje, está no céu juntamente com Paulo Freire, Dona Marisa Letícia, Henfil e tantos companheiros e companheiras valorosas.
Não vou falar aqui da brilhante carreira teatral, cinematográfica e das telenovelas de Serginho. Felizmente ele deixou uma linda, gostosa e brilhante autobiografia: Sergio Mamberti, senhor do meu tempo.
Vocês podem ter um gostinho da afetividade de seu livro, contada por ele próprio, na última entrevista que ele nos deu no Fórum Sindical.
Serginho é tão generoso que ele nos disse que seu livro era uma biografia da sua geração, não era apenas a história da vida dele. E ele tem toda a razão, porque sua vida bem vivida foi sempre compartilhada com muitos companheiros.
Sua biografia é um mergulho na história do Brasil desde Pagu, sua grande amiga, um grande mergulho na história cultural e política do Brasil nos últimos 70 anos.
Continuaremos sua luta, Serginho
Hoje, minha maior tristeza foi não podermos nos despedir. Nos prometemos um ao outro se ver e celebrar a vida quando todos tivéssemos vacinados e a vacina demorou tanto e não deu tempo para nos despedir.
Mamberti de vez em quando ligava para mim. Sim, ele era desses amigos delicados que temos, que querem genuinamente saber como estamos, que quando pergunta: "Como você está?" Realmente quer saber como você está.
Nos encontramos em espaços de luta várias vezes ao longo da última década.
Em 2011, fui convidada pela Universidade Federal de Roraima para dar uma oficina sobre materiais didáticos inclusivos, que respeitassem nossa diversidade.
Dividi a mesa de abertura do evento com Mamberti, que naquele período ocupava o cargo de Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura. Ele viajava o país para debater as Metas do Plano Nacional de Cultura. Que saudades deste Brasil democrático com representantes que se dedicavam à Cultura, à Educação Inclusiva.
Serginho ouvia com atenção, por exemplo, como os brancos (ou os que se achavam brancos) dentro da universidade expressavam todo seu preconceito diante do estranhamento de indígenas dentro da universidade.
Na oficina de materiais didáticos que ministrei, ouvi um relato que seria engraçado se não representasse a pura expressão do preconceito: uma jovem indígena contou que a mandavam tomar banho!
O branco europeu aprendeu a tomar banho com os indígenas. Nós brasileiros tomamos banho todos os dias porque aprendemos a tomar banho com os indígenas.
O preconceituoso é acima de tudo um ignorante. E era contra as ignorâncias que a Cultura promovida por Serginho agia. A Cultura é libertação.
Neste 7 de setembro, meu conterrâneo santista, não estará fisicamente aqui para lutar ao lado dos Excluídos, contra esse horror do atraso, da intolerância, da morte, do genocídio, da destruição econômica, ambiental do Brasil.
É por isso que devemos continuar a luta que companheiros como Serginho nunca se furtaram. Por ele seguimos na luta.
Vá em paz, Serginho, por aqui continuaremos na luta por mudanças estruturais, como você nos ensinou.