O campo tem sido tomado por jovens ecologistas; pessoas com excelente formação universitária que querem investir seus conhecimentos, seu tempo e seus recursos para empreender de forma sustentável. Além de serem pessoas com menos de 45 anos de idade (a maioria com menos de 40), grande parte destes novos investidores agroecologistas brasileiros não são de famílias tradicionais do agronegócio. Eles já possuem um estilo de vida em comunhão com a natureza, mas eles não são herdeiros de terras. Muitos deles praticam esportes ao ar livre (como, por exemplo, o rapel e a escalada), cultivam boas práticas alimentares e são adeptos ao veganismo, possuindo hábitos sustentáveis. Ao acumularem um significativo patrimônio financeiro através da atuação nas áreas de tecnologia e no mundo corporativo em geral, eles decidiram iniciar uma nova vida no campo, escolha essa que foi facilitada pela pandemia, permitindo que atuem em cargos executivos e, ao mesmo tempo, residam no ambiente rural. Assim, eles escolhem o campo não só como um espaço de fonte de renda, mas também para ser seu novo lar.
Esta nova geração de empreendedores e investidores rurais vê na sustentabilidade não só a possibilidade de transformar o mundo num lugar melhor, mas, também, uma fonte de gerar riquezas de forma inteligente.
Ao defender um cenário socialmente equilibrado sem abrir mão da eficiência financeira, a agroecologia é um conceito que favorece as práticas orgânicas e limpas no setor agrícola com a finalidade de minimizar os impactos ambientais da agricultura tradicional. Conforme atua como uma via que reúne o conhecimento científico e os saberes dos povos tradicionais, a agroecologia se opõe à monocultura, aos fertilizantes industriais e a todo tipo de exploração humana em prol do lucro. Entretanto, durante o processo de transição agroecológica, precisamos ter em mente que é necessário possuir políticas públicas que incentivem uma mentalidade sustentável para que esse conceito seja devidamente aplicado.
Sabendo-se que a agroecologia tem sido a filosofia escolhida por muitos jovens empreendedores rurais, a prática de cultivos sustentáveis e o aprimoramento das relações comerciais é o que mais tem chamado a atenção desses investidores. Com o crescimento de mais de 25% do mercado orgânico brasileiro no ano de 2015, segundo o projeto Organics Brasil, essa vertente ecológica do agronegócio se mostra abundante o suficiente para suprir as necessidades do ser humano, permitindo também que os componentes culturais adquiram a mesma importância do manuseio técnico perante aos processos produtivos.
Enquanto o “agro” se refere a própria prática agrícola, a “ecologia” se empenha em aprimorar as relações do ambiente na produção de alimentos, certificando-se de que ambos sejam inteiramente respeitados neste processo. Com isso, a diversificação das espécies e a ciclagem permanente dos nutrientes, que depositam a matéria orgânica de volta na natureza, sustentam um ciclo virtuoso de extrema importância para a manutenção da agroecologia. Enquanto diversas pesquisas ressaltam a falta de compromisso com a sociedade civil e ambiental de uma vertente do agronegócio que é reacionária, a pauta agroecológica crescente atua como uma importante aliada na saúde pública, preenchendo as feiras e as prateleiras dos supermercados com produtos de maior qualidade que, por sua vez, também incentivam a atuação dos produtores orgânicos.
A agro-homeopatia, outra tática para promover a melhoria na qualidade das lavouras, é uma ciência que se conecta com a agroecologia e com a revitalização do solo, ao fornecer métodos economicamente viáveis, seguros e sustentáveis de cuidar dos mais diversos tipos de plantações. Além de ajudar com a qualidade das terras, há também vertentes da agro-homeopatia que têm o objetivo de regular e controlar as pragas e doenças vegetais sem o uso de nenhum tipo de pesticida ou agrotóxico, deixando o processo menos agressivo ao ambiente, ao consumidor final e ao trabalhador bucólico. Levando em consideração esse cenário, a agro-homeopatia mostra-se como uma alternativa sedutora para as gerações futuras que desejam cultivar um estilo de vida mais sustentável e investir no agronegócio.
A ideia de que a agricultura nos moldes conservadores é vital para o desenvolvimento humano não procede. Com tantas tecnologias disponíveis nos dias atuais, é impossível presumir que um sistema baseado na monocultura e na utilização de produtos químicos esteja, de fato, beneficiando mutuamente a sociedade e a natureza. Diferente de uma linha do agrobusiness que é puramente guiada pelo lucro e não agrega valor às relações pessoais e religiosas que as comunidades desenvolvem com o meio ambiente, a agroecologia leva em questão todos os processos produtivos no espectro social para gerar produtos orgânicos, puros e saudáveis. Com isso, o ser humano se integra no processo de produção de alimentos ao lado de outros seres vivos, fazendo parte de uma cadeia sustentável que garante a sobrevivência de todos.
Projeto Consciência Gaia
O jovem gênio da informática, Pedro Augusto Ferreira, formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela FATEC Itapetininga iniciou uma carreira profícua na área de TI. Apesar de jovem, ele já era visto por seus pares como uma grande promessa da tecnologia da informação. Aos 27 anos, Pedro explica porque saiu do TI para atuar no agronegócio dentro da modalidade de agroecologia e permacultura na cidade de Campina do Monte Alegre, sudoeste paulista. “Isso se deu a partir de uma insatisfação com a minha vida, então comecei a procurar algo que me fizesse sentir como se eu estivesse preenchendo o papel que eu deveria estar exercendo no planeta Terra”, ressalta.
Com isso, Pedro juntou-se ao advogado José Antônio Roncada para montar o projeto Consciência Gaia, onde eles produzem produtos orgânicos que são vendidos nas feiras e supermercados da cidade e também nos municípios de Itapetininga e de Angatuba. Nesse projeto, iniciou-se também um processo de recuperação do solo por práticas agroecológicas, tornando a terra extremamente fértil e rica. Quanto às técnicas de revitalização, que são fundamentais para a manutenção da vida do solo, além da adubação com esterco de gado, da cobertura da terra com matéria orgânica e da remineralização através dos pós de rocha, como o calcário e o sulfato de potássio, Pedro também cita a inserção de troncos de eucaliptos no ambiente para atrair insetos e gerar fungos e bactérias que são extremamente benéficas para o local.
Assim, o projeto Consciência Gaia se destaca pela produção de orgânicos através de práticas agroecológicas e da permacultura, filosofia esta que Pedro revela seguir fielmente. “Nós seguimos os princípios da permacultura. Cuidar da terra e das pessoas faz parte dessa filosofia. Desse modo, todos os nossos excedentes de produção são doados”, afirma.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.