Na Olimpíada do Planalto, sobretudo na modalidade assalto a distância, corre solta a distribuição de medalhas.
PMs negocionistas, reverendos negacionistas, servidores públicos gananciosos e empresários, disputam palmo a palmo a honraria enquanto tomam chope num shopping em Brasília.
Quem conseguir negociar a vacina, com um dólar de propina por dose, leva.
Amilton de Paula, o nosso Reverendo Muu, foi acusado de ser um lobista gadificado; por meio de imeios, senadores na CPI denunciaram o flagrante; pego de calças curtas, o sujeito chorou e pediu desculpas.
Como um jogador de poker, sua carta na manga foram as lágrimas crocodilosas, ele apostou no blefe; dizem que é forte candidato à medalha.
O lobby, como se sabe, é a modalidade esportiva mais praticada na Esplanada dos Mistérios, mas mesmo experientes veteranos, os que já penduraram os sapatênis, ficaram boquiabertos com a desenvoltura de Amilton.
“Um craque”, disseram.
O reverendo fez reverência a si mesmo referenciando em terceira pessoa; como se fosse uma espécie de Pelé da maracutaia.
Há também uma farta distribuição de medalhas naquela modalidade das raquetinhas, o BadMito, que premia os responsáveis pelo morticínio durante a pandemia.
Mas nessa aí não tem pra ningas, o Necrarca é hors concours.
Na disputa mesmo estão os diversos ministros da saúde e seus subordinados; não há favoritos.
Há quem diga que faltará medalhas para tantos pescoços.
Por falar em excesso de medalhas, há quem ache um disparate a farta distribuição da medalha Oswaldo Cruz pelos salões nobres da Res-Publica.
Já foram agraciados com a distinta honraria, ministros, parlamentares e até a esposa do Necrarca.
No entanto, explicam os especialistas, a medalha Oswaldo Cruz, feita de metal vulgar, é uma honra ao mérito, gratifica apenas aqueles que não entraram diretamente na disputa.
É aquele pessoal que desfila na abertura dos jogos com a bandeira na mão e depois vão às arquibancadas engrossar o coro da torcida; são criaturas periféricas: Damares, Marcos Pontes, Michelle…
Assemelha-se àquela premiação de marechais de araque, na qual uma centena de verde-olivas foram marechados por uma marechante e bisonha canetada.
Coisas da meritocracia que desonra o mérito.
Vale muito, mas não vale nada.
Agora, a grande disputa, a maior de todas as refregas, é pelas preciosas medalhas de nobres metais bolsonáricos, ou seja, as medalhas de nióbio e de grafeno.
Gabriel Medina, o atleta negacionista que voltou de Tókio com o pescoço pelado, será convidado a uma cerimônia oficial para pendurar no pescoço a tão sonhada medalha de nióbio que, como se sabe, é mais valiosa que a de ouro.
O grafeno já tem dono, segundo as bolsas de apostas, cairá no cuello do Presida.
É que o nosso MotoBoi, que anda xingando ministros da Suprema Corte em motociatas, ameaça que passará a jogar fora das quatro linhas da constituição.
E você sabe, fora das quatro linhas quem joga bola é o gandula.
Teóricos da conspiração já especulam sobre o por quê dessa auto facada; por que diabos o sujeito resolveu apunhalar a si mesmo?
Levei essa intrigante indagação ao mais sábio de todos os sábios, o Cacique Papaku.
O selvagem explicou-me que o Necrarca rebaixou-se a si mesmo depois que recebeu a visita de um enviado dos falcões estadunidenses, o Assessor Nacional de Segurança deles, o senhor Djêique Sullivan.
É que o diligente Djêique disse, na cara do Presida, que as urnas eletrônicas são seguras, confiáveis e infraudáveis e que todos têm o direito de mugir e relinchar, mas os perdedores devem aceitar as regras do jogo e jamais trumpificar as eleições.
Ou seja, o nosso Capitólio capitulou.
Aí o cabra brochou, pois percebeu que a cobra pode fumar.
Os bilionários lhe deram um pé na bunda, a classe média tá com medo de passar a comer somente ovos e ossos, até o estadão já lhe deu uma banana.
Ele está só, cercado de robôs na internet e de motoqueiros da terceira idade.
Ao seu lado mesmo, faca nos dentes, apenas Bob Jefferson e o Véio da Havan, duas caricaturas.
Portanto, só resta ao sujeito fazer como o Reverendo Muu: chorar, blefar e tentar atrasar o jogo.
No entanto, quando o Barroso apitar o final da partida, caberá a Alexandre de Moraes pendurar a medalha de grafeno no pescoço do sujeito abjeto, empulseirar-lhe um par de algemas nos pulsos e acoplar uma bola de ferro em seu calcanhar direito.
No fundo de uma cela escura, polindo sua merecida medalha de grafeno, o Necrarca terá um longo tempo para lembrar os gloriosos tempos em que brincou de ser o Governo da Morte.
Não estará só, ZeroUm, ZeroDois, ZeroTrês e ZeroQuatro hão de lhe fazer companhia.
Oremos ao senhor.