Quando qualquer jovem se coloca sentado à sua frente numa sala de aula, jamais podemos profetizar o que o destino trará para sua vida. Podemos intuir, mas não são poucas as vezes que essa intuição falha.
Ana Marcela Cunha, desde a adolescência, fazia-me intuir que seu destino no esporte estava selado. Ser vitoriosa nadando nos mares do mundo parecia ser uma lógica inquebrável e que, só um infortúnio desses mais amargos, poderia impedi-la de chegar ao topo naquilo que fazia.
Com 17 anos era um peixe. Um porte físico assustador e uma força descomunal já colocavam Ana Marcela entre as melhores do mundo. Garota simples, bagunceira, mas respeitadora com os professores.
Mais de uma década já se passou e até hoje sou cumprimentado com educação, cortesia e formalidade quando a encontro, o que é bastante comum, pois trabalhamos muito próximos.
Vê-la no ponto mais alto do pódio numa Olimpíada, pendão nacional nas alturas tremulando, do outro lado da Terra, após onze campeonatos mundiais vencidos em maratonas aquáticas, trouxe um filme à minha mente, depois de todas as aulas de Literatura Brasileira em que estivemos frente à frente, com seu aspecto sempre cansado, cabelos molhados de treinar desde o fim da madrugada e sua gigantesca mochila com equipamentos esportivos a tiracolo.
O que todo professor se orgulha na carreira é de saber que seus jovens estão bem. Seja lá onde for, fazendo o que for, passado o tempo que for, felizes, satisfeitos, realizados e sem esmorecer um só minuto nesta luta árida à qual damos o nome de vida.
Nessas vitórias sabemos que, de alguma maneira, ainda que diminuta, estamos ali também.
Parabéns pelo ouro olímpico, pela episódio histórico e pela conquista em nome do Brasil.
A Ana Marcela, minha aluna, com carinho…
Professor Henrique Rodrigues